A Aventura das Fake News Tuneris








Mais uma adaptação aos tempos. Na realidade não será tanto News mas antes Mitologia sem qualquer sustentação de facto. Proceda-se à sua desmontagem em 5 tempos:


I - "A Tuna nasceu há quinhentos anos.."


Errado, profundamente errado. Nasceu no final do Século XIX, apenas, e no seu último quartel. Até então existia um hábito, um costume, um modo de vida - e não uma instituição organizada, com regras e hierarquia e de carácter permanente, chamada Tuna tal qual hoje a conhecemos. Não há, portanto, qualquer Tuna estudantil nascida no paleolítico  ou nos Descobrimentos ou ainda no Século XVIII.




II - " A Tuna nasce no seio da Universidade...."


Em Portugal, de todo, é um erro crasso afirmar tal. No caso nacional, a Universidade é que resgata a Tuna para o seu seio - em idos dos anos 80 e 90 do Século XX por força do ressurgimento das Tradições e Praxe - e não o oposto. Antes do "boom" tunante atrás referido, Tunas Universitárias em Portugal só existiram duas, com carácter permanente, constància no tempo e como tunas-instituição: TAUC e Tuna do OUP/Tuna Académica do Porto/Tuna Universitária do Porto. A par destas estão relatadas inúmeras estudantinas não-universitárias e tunas populares, essas sim, mais antigas do que as de carácter estudantil e no caso português. Resulta portanto, falso, que a tuna tenha nascido na Universidade. É Errado.




III - " A Tuna pode tocar música popular portuguesa "...


Disparate monumental e sem qualquer sustentabilidade histórica. A Tuna Universitária pode tocar também música popular, portuguesa ou de outras paragens até. Como pode - e deve - tocar música clássica até, pois sempre o fez historicamente - por este único prisma teria mais validade, até, tocar antes e exclusivamente música clássica. 

A Tuna Universitária portuguesa não tem qualquer obrigatoriedade em dar o exclusivo à música popular porque esse exclusivo cabe aos grupos de música popular, ranchos folclóricos e a Tunas de carácter popular, mais rurais face às suas congéneres universitárias, mais cosmopolitas.

Nos repertórios das 1ªs Tunas de carácter exclusivamente universitário não se encontram temas populares pura e simplesmente, pois as Tunas de carácter popular há muito que o faziam e bem, para lá de tocarem também elas temas clássicos de "ouvido" até (Vide Alberto Sardinha, Tunas do Marão).

A título de exemplo, no programa artístico da TUP dos anos 1937/1938 pode-se ler no que ao reportório diz respeito "Marcha Turca das Ruinas de Atenas " de Beethoven, "Serenata" e "Momento Musical" de Shubert, por exemplo, para lá de solos de harpa, Fados, canções, guitarradas, recitativos, rábulas, coisas piadéticas, ilusionismo e até prestidigitação .

É portanto falso dizer-se tal, aliás, falácia essa oriunda do "boom" tunante dos anos 80 e 90 do Século XX (e não antes) e que não tem qualquer suporte histórico ou mesmo lógico, para lá do mero gosto estético de cada Tuna Universitária em os interpretar - ou não.

É uma opção - e não uma obrigação.





IV - " A Tuna é mais e melhor Tuna por tocar temas originais e em português"...


Mais um erro colossal. Sem desprestigiar o mérito do(s) autore(s), nem é mais nem melhor por tocar temas originais da mesma e em português.

Não há qualquer relato historicamente defensável, até, que o comprove, antes pelo contrário. Se a Tuna Universitária em Portugal foi resgatar várias influências no seu surgimento nem sequer faz sentido dizer-se que o tema de criação própria tem mais valor face a um tema popular ou clássico ou castelhano ou italiano.

Não há qualquer relação entre "mais e melhor Tuna" e ter-se um ou vinte temas originais, sem desprestígio e mérito ao tema original (e sendo eu autor de alguns, particularmente à vontade estou). Outra mentira herdada do "boom" Tunante que andou de mãos dadas com a mentira acima mencionada no ponto III. 

Sé é de louvar a criação própria como factor catalizador de novos temas, tal louvor não é per sí nem um monopólio e muito menos será tradicionalmente tuneril; por tal, atribuir ao tema original em português uma qualquer superioridade que não existe é errado.

Mais uma vez, é uma opção e nunca uma obrigação. Não há qualquer superioridade tuneril de um original sobre uma adaptação e vice-versa bem como o mesmo se aplica ao cantar em português face a outra língua: É a História Tuneril portuguesa que o prova.



V - " A Tuna é música...."



Se é verdade que de um ponto de vista exclusivamente português, a tuna é só mesmo música (um facto incontornável) não menos verdade será que a cultura tunante universitária, quer na recriação de costumes, hábitos e usos de outros tempos, quer na sua vertente mais recente como Tuna-Instituição nunca privilegiou apenas e tão somente a música para a sua subsistência e permanência ao longo dos tempos.

A música é a essência de facto de uma cultura mais ampla que a tradição Tunante encerra mas reduzir esta última apenas a música é uma redução da mesma e ignora todo um entorno humano de relações interpessoais único que só a Tuna estudantil nos concede. Como o folclore não se reduz às músicas que apresenta, a Tuna Universitária idem.

Porque o Tuno sempre "praticou" a Tuna como algo mais do que a mera apresentação em palco não se pode reduzir a tuna estudantil apenas a música. Mormente esta ser a sua génese, base, razão de ser, o princípio de tudo; depois da Música vem o resto.






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