A Aventura do Ignorante Atrevido






Um dos maiores problemas da ignorância é ser atrevida.


Capaz de subsidiar a fraude passando-a como "verdade". Além de transformar algumas personagens que a ignoram - por mera preguiça, arrogância e insensatez ou mesmo propositadamente - em supostos "conhecedores" sobre a Tuna, uma espécie de "comentadeiros" do mesmo calibre dos das televisões do mainstream, capazes de opinar inadvertidamente sobre Direito penal no intervalo de um atropelamento e um jogo de futebol. Uma espécie de Tânias Laranjo do comentário tuneril - conquanto haja público disposto a tal, por mais insignificante e pequeno que seja.


Tudo isto amplia e por estes dias, uma pretensa dimensão de destaque social conferida a determinados protagonistas que ultrapassa em muito as suas reais capacidades. Basta uma viagem rápida a uma leitura de "As Farpas", as crónicas publicadas na imprensa entre 1871 e 1882 por Eça de Queirós e por Ramalho Ortigão, para aferirmos da antiguidade da crucifixão simbólica de certas figuras que se observam a si próprias como vultos, projetados pela força de circunstâncias que os beneficiam, perdendo assim o controlo da sua própria realidade.


É, em suma, a capacidade de, por desconhecimento dos terrenos que pisa, mas com um ego desproporcionado alguém fazer afirmações que estão muito para além do razoável.


A esse propósito vamo-nos socorrer de uma passagem do "Qvid Tvnae" (um livro de investigação sobre a Tuna que teve dez anos de trabalho prévio à sua edição e que ainda hoje está a ser alvo de revisão pelos seus autores, precisamente porque surgiram factos novos em resultado de investigação), mesmo no seu final e sobre a tuna portuguesa - página 312 - que diz e passo a citar:


Qvid novi? Qvid novi?


Tentemos resumir o percurso das tunas em Portugal através de uma alegoria cinematográfica:
De c.1888 a 1983 De c.1888 a 1983.

Entrámos quase no princípio do filme, um tudo-nada atrasados, mas conseguimos assistir
ainda às primeiras cenas; entretanto passámos pelas brasas e, quando acordámos, já o filme ia
a meio. Começámos a esfregar os olhos, tentando adaptar a visão, procurando reconstituir
mentalmente o argumento do que ficou para trás. Como não soubemos que houvera um
flashback, tivemos alguma dificuldade em perceber a razão pela qual o protagonista nos
parece algo diferente.

O boom

Entretanto, como se espalha a notícia de que o filme é muito bom, começa a haver muita
gente a querer entrar e dá-se uma corrida desenfreada à bilheteira. A maioria veio por causa
do filme em si. No entanto, há quem só tenha vindo porque a namorada insistiu; outros,
por causa das pipocas; outros, ainda, porque o bilhete fica mais barato do que alugar um
quarto por umas horas...

E se há quem tente ocupar o seu lugar sem fazer barulho e peça discretamente que lhe
expliquem o que se foi passando até ao momento, há quem não se importe de disparatar à
boca cheia (de pipocas, está bem de ver), incomodando tudo e todos, e ainda se dê ao luxo
de se pôr em pé em cima da cadeira, aos berros, para explicar o argumento àqueles que
assistiram a tudo desde o princípio, querendo à viva força transformar uma comédia
romântica inofensiva numa escabrosa produção de classificação X X X.



Clarificando:

Não há tuna antes do último quartel do Século XIX. Facto. Não porque um dia alguém acordou e assim o declarou do alto de um penedo na Serra de Montemuro mas antes porque NÃO há - e após anos a fio de pesquisa séria, meticulosa e concreta - qualquer prova do oposto.


Se porventura houvesse - ou vier a surgir sem qualquer mácula de erro - seriam os que estudam a tuna de forma séria, honesta e competente os primeiros a referir tal e a vincar tal descoberta, partilhando a mesma e assim, colaborando para a busca da Verdade. Ou seja, não existe qualquer prurido em apontar um facto histórico que prove uma coisa ou o seu contrário, seja no Século XIX ou no Século XV ou noutro Século qualquer.


Traduzindo: Ninguém faz questão que a Tuna tenha surgido apenas no final do Século XIX e não no jurássico. E só não entende isto um de dois tipos de pessoas: As básicas ou as mal intencionadas.


Quanto às básicas, apenas se pode lamentar - e mais se lamenta quando oriundas do seio universitário. Nada que uma boa leitura de uns tantos livros não resolva. De fácil resolução, portanto, ou por omissão - mantendo-se básicas - ou por acção - estudando, coisa tão cara ao estudante.


Quanto às mal intencionadas, o caso muda de figura. Porque sabem conscientemente que estão a causar dano a terceiros, propagando falsidades, mitos e mentiras apenas por vaidade, experimentando um fútil por fugaz protagonismo de ocasião, que apenas serve ao próprio. Ou seja, é tudo mau. Porque desprovido de tudo aquilo o que a verdade tuneril encerra, acrescentada de uma boa dose de polimento de ego.


Todos nós sabemos que a inveja comezinha é parideira do néscio, aumenta a hipótese da calinada vingar, cria "experts" sobre a Tuna que não sabem distinguir um goliardo de um sopista e estes dois últimos de um tuno, origina "tunastars" que atiram umas banalidades para cima da net como se fossem fruto de investigação (??!!) e assim sucessivamente, originando apenas e só uma única consequência: Descrédito do fenómeno quer interno, quer externo.


E essa é, definitivamente, a única coisa que me faz combater, denunciar e desmascarar essa gente - que continua a não ter uma linha escrita sobre o tema mas comentando-o como se uma biblioteca tivessem parido. Porque para o resto não tenho por hábito permitir-me ao luxo de auxiliar na criação de matarruanos protagonismos -  mas antes e sim potenciar o Bem Fazer e o Saber tuneril.


Vai-se sempre a tempo de ter pundonor, vergonha e noção. Pode ser que aconteça. Sugere-se mais leitura e menos paleio - até para este passar a ser, futuramente, credível.





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