A Aventura Queiroziana

 


Desde sempre que existem vários tipos de convites para festivais de Tunas. Nada obsta.


Todos eles legítimos - cada um manda na sua casa - e quanto a isso, pacifico. Repete-se, todas as formas de convite são legítimas. Porque envolvem sempre duas entidades, quem convida e quem é convidado. Havendo match, tudo ok.


Desde os convites criteriosos - que procuram um determinado conceito de festival, tentando mantê-lo - até aos convites Arroz - "mais do mesmo" ad nauseam mudando apenas o cor do cartaz e número da edição - passando pelos convites Fofinhos - só para os amigos de sempre e sempre os mesmos amigos - pelos Meritoconvites - a quem está na crista da onda, seja quem seja - pelos Geoconvites - só malta mais de perto, que não há euros... - e terminando nos Turboconvites - manda-se o e-mail a 20 tunas e as primeiros 5 são peixe para a rede, seja lá que peixe seja - existem, desde sempre, vários conceitos a subsidiar a lógica (havendo-a) de quem promove um evento tuneril competitivo. E tudo ok.


A somar a estas tipologias de convites temos uma nova modalidade, recém chegada ao "mercado", o Convite da Q.U.E.C.A.


O Convite da Q.U.E.C.A. - Quase Uma Espécie de Convite Académico - é, de entre os supracitados, além, de novel (ao que se sabe...) de uma ardilosa candura na sua base estética-institucional. Porque sendo uma forma de convite, resulta no fim num desconvite, tudo por causa de cenas de alcova que fazem corar o Eça de Queiroz, depois de escrever "O Crime do Padre Amaro".


Lendo tal obra, será qualquer coisa como a S. Joaneira, que queria casar a filha Amélia à força, convidar para uma soirée em sua casa o bom do João Eduardo, enquanto a moçoila andava enrolada com o Padre Amaro. Vai que não vai, a mãe S. Joaneira, percebendo o despudor, retira o convite ao desavisado João Eduardo, alegando evitar-se males maiores a roçar o pugilato. É, o convite da Q.U.E.C.A., um upgrade desse famoso romance, onde Eça de Queirós ataca a corrupção do clero e a hipocrisia da média burguesia portuguesa.


A imaginação não tem limites, vamos convir. Quando se julgava já ter visto tudo, eis que a prosa Queirosiana assalta as tunas, com indisfarçável laivo realista - ou não fosse ele um adepto fervoroso do Realismo... - deixando de lado, além do bom senso, a noção institucional destas coisas, agora refém de uma visita ao quarto da casa do Sineiro, o Tio Esguelhas, por parte da Amélia e do jovem pároco...




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