A Aventura do VAR a ir ao BAR

 



Antes de mais, dizer que os erros acontecem. Quem não se recorda, em 2017, do episódio do "La La Land" que, afinal, não tinha ganho o Óscar para Melhor Filme mas antes e sim "Moonligth", tudo isto em directo para o mundo? Bom, se a Academia de Hollywood falha, certamente que a nossa Academia também poderá, sem mácula ou pioneirismo, falhar.


Ultrapasse-se, portanto, a mera questão da fácil diabolização do ocorrido e foque-se no essencial da questão. Que, quanto a mim, reside na forma de avaliação.


Já disse aqui, várias vezes, que existem N formatos de avaliação em ambiente de festival competitivo, todos eles certamente válidos e nada a obstar. Contudo, se há quem não arrisque e quanto a tão sensível questão, também há modelos mais ousados (para ser simpático) e no que se refere ao pretenso resultado final - entenda-se, atribuição mais justa e tranquila possível dos vários prémios em disputa.


Por outro lado, também já amplamente tratado, a mera importação de um dado sistema avaliativo existente para outro cenário distinto, é obvia e naturalmente, um potenciador de erros - se não salvaguardadas as devidas distâncias, entornos e culturas em questão. Nem em Espanha se usa sempre o mesmo sistema avaliativo - e há certames anuais com mais anos do que o nosso mais antigo de carácter anual.


A questão substantiva aqui, reside quanto a mim, na introdução da matemática para avaliar uma actuação de uma tuna, seja qual seja a tuna ou o certame em causa. Todo o restante são sempre consequências da adopção de tal método - que eu não subscrevo e desde sempre, bastando passar os olhos por este blog.


O ocorrido este fim de semana é, apenas, uma consequência da adopção de tal método, que apenas poderá surpreender pelo inaudito da mesma situação, sendo que, na minha modesta opinião, será sempre uma questão de tempo até voltar a ocorrer algo similar, parecido, sucedâneo.


A quantificação de uma arte musical já é, per si, um risco enorme em si mesmo. Atribuir notas com números a um conjunto de pandeiretas de X tunas na mesma noite, por exemplo, revela-se um exaustivo quão instável exercício - além de ingrato. Em ambiente festivo de certame competitivo, corre-se o risco de, indo ao VAR, ter de se ir chamar os intervenientes ao BAR a meio da noite para ulterior correcção de resultados. Se mais vale tarde que nunca, também não será menos verdade que podendo-se evitar, evita-se.


Há, e com pelo menos 30 anos, ferramentas, experiências, disponíveis online até, sobre o tema, que tornam tudo mais ágil, eficiente, fácil e acima de tudo, mais imune (que não isento de erro, tal não existe) à falha neste apartado. Podendo-se - e devendo-se adaptar ao meio em causa, sempre com as suas idiossincrasias que devem ser respeitadas, naturalmente.


Longe - e mais uma vez - de qualquer catequismo avulso sobre o tema. Repito, cada um fará o que bem entenderá, e muito bem, reforço a noção. Conquanto se perceba que para cada opção há consequências, como se verifica amiúde.


Na minha humilde opinião, já não é fácil a um qualquer jurado, por mais qualificado que seja para a missão, a simples avaliação criterial, quanto mais sujeitar a mesma a uma fria, impessoal e rígida folha de Excel, que quase esvazia a suposta relevância dos escolhidos para um Júri - porque com a folha, qualquer um fica automaticamente habilitado a tal função, como é bom de ver.


O ponto retira critério, apenas ordena, faz mero escalonamento. Por ser mais simples é, por essa mesma razão, mais descomprometida, logo, menos responsabilizante.


Mas volto a repetir: Cada cabeça, sua sentença. Mesmo que a tenha de rectificar depois...


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