A Aventura do Inevitável



 


Se, por um lado, é cada vez mais complicado abordar o tema Tuna por novos prismas, por outro, são os próprios tempos que nos trazem novos desafios.



E de facto, a questão do género começa, suave mas efectivamente, a ser relevante, colocando na mesa as tais novas perspectivas.



Imagine-se o seguinte – por plausível – cenário:



Tomemos como exemplo uma tuna feminina. Adere à mesma alguém que, na aparência sendo mulher, é, de facto e de Jure, do género masculino. A mesma coloca a questão dentro da Tuna - entenda-se, dos seus responsáveis – de forma a que não haja qualquer dúvida e/ou questão por abordar. Como agir perante tal facto?

Quanto a mim:



É precisamente isso: Um facto. E sendo factual, há que lidar. Evitar o tema é errado, porque apenas adia o inevitável.

 

Depois, a forma de lidar com a questão é, obviamente, fundamental. Se se pode alegar apenas e só a mera questão artística (sabe/não sabe tocar/cantar e por aqui se fica a questão) não é menos verdade que resumir o tema apenas à questão artística é, naturalmente, errado. Porque é – novamente – uma forma ardilosa (mas legítima, há que referir) de adiar o inevitável; “resolve” agora, mas não depois.



Não usando exclusivamente o prisma artístico e indo mais além, é evidente que a questão, por não frequente, é de sensível abordagem.



Ora, sendo sensível tema, então parece lógico que a sua abordagem seja em conformidade: Sensível e sensata. Sensível à questão de facto e sensata na sua resolução.



O que excluí, liminarmente, qualquer acto de discriminação. Não me parece ser esse o caminho, de todo. Além de anacrónico, é adiar o inevitável – mesmo respeitando as instituições e suas convicções mais intimas, que podem muito bem, daqui a umas gerações (mais cedo que tarde, digo eu…) alterar a sua visão corporativa do tema.



É, por tal, evidente – e regressando ao tema substantivo – que há que lidar com ele.



Respeitando, desde logo, a instituição. Isso é evidente. Que tem regras estabelecidas, para onde essa pessoa acaba de entrar. Ora, querendo entrar para, terá de cumprir com as regras da instituição; ou seja, integra-se. A tal integração passa por isso mesmo – e não um qualquer regime de exclusão que apenas iria reforçar a tal discriminação que, à partida, se quer afastar.



E, ao cumprir, como mais uma “da malta”, terá obviamente de perceber e aceitar as regras “da malta”. Obviamente. Sendo certo que “a malta” terá de perceber, saber e lidar com a especificidade em questão, não discriminando nem positiva, nem negativamente. Se é mais uma, que se (com)portem de acordo. Sem, contudo, em pontos mais sensíveis, se salvaguardar, em partes iguais, questões mais pessoais, não ferindo ninguém, nem impondo nada a ninguém. Passa, obviamente, por uma gestão mais complexa – admite-se, pela novidade da questão – mas que de todo é impossível de se fazer (não sendo a mesma coisa, como se gere internamente certas questões mais práticas, p.ex., numa tuna mista?).


Tenho para mim que há dois caminhos nesta temática: 


O errado caminho da exclusão liminar (um disparate, pois os tempos vão fazendo produção de prova de tal, todos os dias) e o correcto caminho da sensibilidade e bom senso (por tolerante, logo, integrador). Admito que seja complicado, naturalmente. Complexo, até. Mas não é de impossível resolução, longe disso. Passa mais pela inteligência e tolerância de todas/todos os intervenientes do que, propriamente, algum codex pseudo-moral e, muito menos, por visões retrógradas que se limitam a negar as evidências – negacionismo, portanto.


O mundo está a mudar, todos os dias. A Tuna não pode ser refém de conservadorismos sem nexo, lógica ou sentido. Aliás, diz a História da Tuna precisamente tal; sobreviveu desde finais do Século XIX até hoje por, justamente, desafiar o status quo, por pôr em causa, por ir contra os ditames vigentes. Para conservadorismos na Tuna – muitos deles, fictícios – já bastam os que ainda há por aí ("a tuna nasceu no jurássico", "só canta originais" e outros disparates que tais...).

 

E este tema vai surgir, mais dia, menos mês. Aqui, ali, acolá. Mais perto de nós do que longe. E vamos todos ter de – saber – lidar com ele. Queira-se ou não. Resistir-lhe é inútil. Ignorá-lo é néscio. Sugiro a forma mais inteligente para tal.


Post Scriptum:


Sei, por conhecimento de facto, por relato(s) na 1ª pessoa, de casos, no passado, de discriminação pura e dura, dentro da própria Tuna, de elemento(s) seu(s) em razão da sua orientação sexual. Fica ao critério do leitor retirar conclusões e, essencialmente, verificar a total ineficácia - aliás, pelo contrário - da mera discriminação.

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