A Aventura da Inorgânica Fundacional

 




Penso nunca ter abordado este tema, aqui, mas vamos lá. Antes de mais, dizer o evidente, e que sempre defendi, defendo e defenderei


Sou totalmente favorável à livre associação de pessoas, a titulo de Tuna – no caso, estudantil. Nada contra, tudo a favor. Que fique claro.


Escrito isto - que deve estar sempre presente ao longo desta "Aventura" - vamos então:


Poderá ser mera percepção minha, admito. Mas, nos últimos tempos, temos assistido a um proliferar de fundações de tunas que, a meu ver é, e pelo menos, inorgânico, ou seja, que não resulta de uma causa ou de um crescimento natural.



Note-se que essa inorgânica em nada afecta a noção de livre associação. Porém, tal cuidado não deve impedir a verificação, análise e contextualização dessa constatação.



Assiste-se, ultimamente, ao nascer de Tunas de forma, pelo menos, estranha – e mais uma vez, quanto à tal falta de causa natural - que resultam de factores mais próximos de nano conveniências de ocasião do que, propriamente, do decorrer natural da realidade, em razão de tempo e de espaço. Casos há de Tunas nadas com meia dúzia de elementos ou menos, que têm - pelo menos até à data, friso - apenas actividade no Instagram e nenhuma de palco ou mesmo até, de simples rua.


Consegue-se denotar – e reforço, mera percepção minha – processos fundacionais quase a soar a "empurrados" por outrem (e volto a reforçar o 1º parágrafo supra) que não parte directa no processo, quase que uma espécie de masterplan pretensamente global (?!), que induz à criação em massa de Tunas - logo inorgânico - com um fito concreto (a deslindar, ou não…). Mera percepção minha, mais uma vez.


Chegado aqui, reforçar novamente: Nada tenho contra a fundação de Tunas. Ler 1º parágrafo em cima, p.f.


Contudo, o fenómeno sempre se auto regulou e desde sempre, como os últimos 30 e picos anos do mesmo provam. Quando alguém mais disruptivo quis “trocar as voltas" ao paradigma do fenómeno, esse alguém desapareceu do mapa. Seja disrupção estética, comportamental até, ou outra, o fenómeno Tuna português acabou, sempre, por se ajustar, autoregulando-se e a cada momento, fazendo – mais tarde que cedo, regra geral – o expurgo de tudo o que não considerou, a dado tempo, orgânico. Uma validação natural, logo, não imposta.


“Temo”, por essa mesma razão, que a criação quase “martelada” de Tunas avulso possa significar – e nem vou às razões a montante e objectivos a jusante que possam advogar tal… - a prazo médio, uma de duas coisas: 


Ou alguma artificialidade pré-fabricada – com tudo que isso acarreta, que apenas prejudica os intervenientes directos, porque frágil preceito fundacional – ou então a interrupção da normalidade de processos orgânicos de fundação de tunas – e aqui, perde o todo do fenómeno a prazo médio/longo. Exclui-se, naturalmente, deste cenário, a criação pontual de tunas (como há na História tuneril exemplos, veja-se a Tuna Coimbra-Valladolid, p.ex.) e para um dado momento especifico e único, extinguindo-se logo de seguida.


Se, numa primeira abordagem, se saúda sempre como algo positivo a fundação de Tunas, pode essa positividade não estar, necessariamente, alinhada com a pretendida naturalidade do processo fundacional. Pode-se sempre alegar que será sempre um processo natural, havendo quem as queira compor. Certo. Resta saber se essa vontade surge apenas da própria lavra, espontânea, em conjunto com mais pessoas que partilham esses mesmos preceitos ou se, pelo contrário, resulta tal vontade de uma espécie de mão (in)visível que sugere, incita, potencia, administra, gere “por fora” a criação de agrupamentos tuneris que, sempre contendo actores voluntários (obviamente), contrariam a tal orgânica em cima referenciada. Note-se novamente, ambos os processos são legítimos. Mas sendo ambos legítimos não são, apenas por essa razão, idênticos - nem no momento da fundação e menos ainda no futuro.



E é esse futuro – mais ou menos próximo – que irá avalizar a lógica destas linhas, naturalmente. Espera-se sempre, por génese, que toda e qualquer Tuna que nasça fique por muitos e bons (preferencialmente) anos no panorama – e não o oposto. Ora, contribuí para essa perenidade a higienização nos seus motivos fundacionais. Se fundada assente em preceitos inorgânicos será, a prazo curto/médio, um projecto com dois ou três actos públicos, alguns jantares e ainda mais alguns posts no Instagram.


Pergunto, entre as duas “modalidades”, qual a que realmente interessa – quer aos próprios, quer também ao todo do fenómeno?



Se pararmos para pensar um pouco, há Tunas decanas, até, que estão por um fio, de facto. Mas há outras decanas Tunas cheias de saúde. E outras mais recentes, idem. E outras tantas recentes que definham. É o processo natural a ocorrer, a tal orgânica a funcionar. Mas todas estas já cá estão, melhor ou pior. Se com as que cá estão é assim, parece legitimo questionar - e quanto às que agora nascem - que bases as sustentam para poderem avançar, com saúde, pujantes, perenes. Uma casa constrói-se pelos alicerces, não pelo telhado.


Há uma coisa que todos sabemos (julgo…): Criar tunas é fácil – como vemos, aliás. Já as manter é difícil. Em actividade, anos a fio, a tocar, entenda-se.


Será que fundar tunas a granel de forma inorgânica, sendo um exercício de liberdade que se saúda sempre, não poderá contribuir, precisamente, para o descredibilizar do fenómeno?


Termino como comecei: Que seja fundada, até, uma Tuna por dia em Portugal. Mas esta "Aventura" não trata disso.



Fica a constatação/reflexão.




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