A Aventura de Tordesilhas....

Há de facto coisas que não se entendem e este “mito” é um daqueles que vem de longe e que a meu ver não faz sentido algum, sendo que, ultimamente é utilizado para definir o que é um “mau” ou “bom” festival. Refiro-me ao facto de os certames serem internacionais ou exclusivamente nacionais.Nunca percebi muito bem esta “psicose pseudo-nacionalista” que nos indica que os certames devem ter só tunas nacionais. Ou que devem ser sempre Internacionais.

Errado. Porque é que é errado? Porque enfermam ambos os casos de uma visão perfeitamente limitada e que não se baseia nos pressupostos do fenómeno mas antes nos pressupostos da “fronteira”. Não faz qualquer sentido dizer-se – e em Tunas académicas e ou universitárias – que por ser “nacional” é bom. Errado. Falso. Há muita coisa nacional que é má e há muita coisa espanhola que é boa.

Para o fenómeno Tuna, que é um fenómeno cultural dos Estudantes Universitários e não das nações, fenómeno que usa a linguagem mais universal que pode existir – a música – e que pretende promover o intercâmbio entre pessoas que gostam de uma cultura única em todo o mundo, dizer que o certame “exclusivamente com tunas portuguesas é que é bom” é algo até, profundamente anti-Tuna.

Advogam alguns cavalheiros que “se os espanhois só fazem certames com as tunas espanholas, então nós devemos fazer o mesmo” – mostrando desde logo e a meu ver algum desconhecimento e ignorância sobre o fenómeno espanhol e sobre o que ele conhece do nosso – numa espécie de ajuste de contas “Aljubarroteiro” que não faz qualquer sentido. E não faz porque se nós só vamos convidar tunas portuguesas para os nossos certames porque eles fazem o mesmo com as tunas deles, então pressupõe-se que se eles se atirarem da ponte a gente também se atirará.

Os espanhóis se fazem certames – a maioria e não todos – com tunas espanholas e só será precisamente porque muitas vezes não conhecem a tuna portuguesa em sentido lato ou então porque muitos dos certames espanhóis só podem mesmo ter tunas espanholas, pois são certames de circuito e de distrito alguns com 20 e mais anos de existência. A prova do que digo é simples: A Tuna de Agronomia de Lisboa transformou o certame de Agrícolas espanhol em certame Ibérico. Agora retirem as devidas conclusões óbvias e real significado de tal. Não será porque a tuna portuguesa – no caso, a de Agronomia de Lisboa, p.ex. – se deu a conhecer a quem provavelmente não tinha conhecimento dela?

É que o lado de lá está há séculos habituado a ver-se “sozinho” no panorama, o que não significa que o afaste ou rejeite ou tenha alguma coisa contra portugueses, porto-riquenhos ou belgas. O que por vezes parece do lado de cá é que “o que é bom é só com tunas nacionais”, porque são somente tunas nacionais. E isso é mentira, para lá de revelar um estado de espírito que não sendo de hoje, alguns ainda hoje se revêem nele, erradamente, estando por tal esses sim, parados no tempo e vivendo ainda na época dos Filipes.

Há Tunas cá, lá e na Holanda. Há Tunas cá, lá e boas e más. Nesse aspecto, o espanhol não se protege de coisa nenhuma, apenas muitas vezes vive o seu meio que é muito próprio. Quando lá vai a Espanha uma Tuna nacional, é sempre algo diferente sim mas apreciado e muitas vezes premiado. Um certame de tunas é um certame de tunas, sejam elas de onde forem, desde que sejam efectivamente TUNAS universitárias, que é o que realmente interessa. Defender-se o certame nacional não para promover o que é nacional – o que é perfeitamente legítimo – mas antes para passar uma ideia de que “sendo nacional é que é bom” e o resto é “mais do mesmo” é algo profundamente cómico e revelador de desconhecimento real das coisas, como aliás grandes tunas estrangeiras o demonstram e que não o deixam de ser: São Tunas de facto e com imensa qualidade.

As opções organizativas são de quem as toma certamente e não me refiro a isso. Refiro-me antes e sim, às falácias, más interpretações, ignorância e má fé algumas vezes, de alguns que pretendem passar a ideia errada de que, de espanhóis e afins quer-se é distância porque são todos iguais. Mentira. Não são.

A linha de Tordesilhas aqui está mal colocada; não deve ser entre países mas sim entre Tunas e algumas ditas de; quer cá, quer lá, quer na Alemanha. Quem a coloca entre países está a querer ser mais papista que o Papa. Pior, está a fomentar algo que é profundamente contra os ideais da Tuna em sentido lato, a convivência entre Tunos.

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