A Aventura da Tuna popular em Portugal


Recentemente e no IV ENT realizado em Viseu, tive o enorme previlégio de assistir à "oração de sapiência" do Dr. Alberto Sardinha, autor do livro "Tunas do Marão". Foi um cimentar de algumas noções algo vagas ainda sobre as origens do termo Tuna até e da sua abrangência que definitivamente ultrapassa o âmbito estudantil e em Portugal, no caso concreto.

Deixo-vos com pequeno excerto e citando o autor da referida obra, numa espécie de abertura da "caixa de Pandora", senão reparem:

"Valsas e contradanças, mazurcas e pasodobles, marchas e polcas, "todos esses géneros que integravam a moda erudita do século XIX" foram sendo absorvidos na rede de transmissão oral.

Umas vezes apenas como adaptações instrumentais de tocadores populares, outras transformados em canções a que o povo juntou letra, outras pela criatividade de autores modestos que imitavam as formas de composição dos nomes consagrados - "e tantos nomes grandes, a começar por Mozart, tinham composto valsas e marchas".

Mas quase sempre a porta de entrada eram estas formações musicais itinerantes, maioritariamente constituídas por instrumentos de cordas. Formações que animavam festas, romarias e procissões, alegravam descamisadas e vindimas, acompanhavam peditórios e cerimónias religiosas.

Depois há um fenómeno interessante estes tocadores, que aprendiam os rudimentos do solfejo com padres, regentes de bandas, professores primários que sabiam música e mandavam vir pautas da cidade, tocavam em arraiais e bailes por sua conta. Aí, longe do regente, tocavam repertório não só da tuna, mas o propriamente popular.

Aí tudo se começa a misturar. Tocavam chulas, tocavam valsas. Tudo no mesmo repertório, tudo a fluir no circuito da tradição oral.

Em finais do século XIX, todo o território nacional tinha tunas. Muitas eram urbanas, estudantis, tanto universitárias como liceais, e outras até de associações de empregados de comércio. Mas muitas outras eram rurais.

Chegava mesmo a haver aldeias com duas tunas rivais." (fim de citação)

A importância desta obra pode ser aferida por este pequeno excerto que pura e simplesmente destroí alguns "mitos urbanos tunantes" sobre o que é uma Tuna, sobre as suas origens e ramificações, sobre o que tocavam e hoje uma tuna académica e ou universitária pode e deve tocar, por exemplo.

Aconselho vivamente a leitura desta obra fundamental para as tunas portuguesas actuais; Falar sobre elas sempre desde o conhecimento e não desde a ignorância, como é - infelizmente - hoje usual.

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