A Aventura da Viagem Tunante

Sexta à tarde. A malta começa a juntar-se mais ou menos à mesma hora, no local do costume, e começa o ritual preparatório; o caloiro que não sabe dos pandeiretas e anda à procura delas na carpintaria ou coisa que o valha, o outro que se esqueceu dos sapatos e lá vai ter de ir a casa – atrasando o que atrasado já está… - o Magister que se transforma nesses momentos numa espécie de caloiro, fazendo tudo e mais alguma coisa, desde o “catering” , passando pelo “check in” à entrada do autocarro, terminando numa vistoria à bagageira do mesmo, sujando-se de óleo até para tal, terminando na inevitável contagem dos elementos sentados ou em pé, feita ou em silêncio, ou em falsete ou raras vezes em voz alta - fica sempre bem passar a imagem de gajo organizado…

Após duas horas de atraso face ao estipulado previamente – e a Tradição mantêm-se – a viatura, munida ao volante pelo mais “hábil” dos motoristas de transportes colectivos rodoviários – porque será que os motoristas dos autocarros das Tunas são sempre os “Kankunnen´s” dos “54 lugares? Haverá algum regulamento na DGV que obrigue a “nata” da condução de veículos acima de 10 lugares a indicar sempre os “maiores” para levar as Tunas? – parte em direcção ao destino. Tarefa titânica pois por via de regra, sai-se sempre em hora de ponta e, claro, isso origina mais uma hora de atraso em cima das duas anteriores. E viva a Tradição.

Finalmente, passa-se os limites da urbe e lá começa a viagem propriamente dita. Uma viola aqui, um bandolim acolá, o inevitável chato do costume que pergunta de 5 em 5 metros “quantos kilometros faltam?” com 10 minutos de “jogo” ainda, o Kankunnen e as suas façanhas “d´outrora” a tentar quebrar o gelo ou então, a repetir as mesmas historias contadas em viagens anteriores, o inevitável locutor de serviço que pega no microfone e aqui vai disto, o belo do filme “didáctico” ao qual ninguém liga e por aí adiante. Eís-nos chegados ao 1º “check-point” por via de regra, uma área de serviço – nisto somos iguais às claques de futebol, o que é deveras assustador, diga-se.. – e temos aqui mais uma hora a somar às outras 3 anteriores de atraso: A sandocha, a bejeca, o whiskyzito da ordem, um ou outro mais preocupado que compra o “Expresso” e assim sucessivamente, mais os que se atrasam sempre no WC mais por convicção que propriamente por outra razão qualquer e ainda os que se entretêm no “parlapié” à porta da viatura numa espera sempre penosa uns pelos outros – note-se que este uns pelos outros é qualquer coisa de estranho, porque se revezam sempre.

Já dentro da UTIC, segue-se viagem já com a preocupação mor de “parar para jantar” – note-se que se acabara de...estar parado – derivando desta problemática um imenso conclave – à porta fechada excepto o tecto de abrir, faça chuva ou sol, alguém o abre sempre… - onde se discute se o “Tromba Rija” será boa opção face a outro restaurante qualquer e assim sucessivamente. Após algum “parlapié” lá se chega a um consenso não sem antes se começar a praxar caloiros, já em traje de viagem, tentando com isso refina-los com vista ao fim-de-semana que lhes iremos proporcionar. Mas como há sempre alguém que destoa, há que parar, por “motivos técnicos alheios à sua vontade”, na próxima área de serviço, não sem que o Magister – sem perceber que está a ser praxado fortemente… - avise alto e bom som, pegando no microfone do chato que está a falar ao mesmo desde que se saiu, “aqui é só meia hora”, resultando sempre em mais meia para lá da meia anunciada, resultando na simpática quantia de 5 horas de atraso.

Entretanto, lá se acaba por decidir, após conclusão que o jantar está á espera no destino, que o melhor será mesmo atalhar caminho e não parar mais, decisão sempre simpática com horas de atraso, nunca se percebendo o porquê da mesma só quando se está atrasado e não antes… Tunas, não é?

Finalmente chega-se ao destino. E logo começam as perguntas de retórica do género “onde é o hotel? Quem são as guias? e suas derivadas. Antes de jantar ainda “dá tempo” (??!!) para ir ao dito cujo hotel e dar um jeitinho à indumentária, tudo a correr, mais uma praxadela ao Magister que é o único que não faz nada a não ser “organizar isto tudo e rápido” e ala que se faz tarde a caminho da cantina. Chegados à mesma – onde por regra já comeu quase toda a gente.. – há que comer também e começa mais um ritual: O belo do tabuleiro deslizante, já quase modalidade “pré-olimpica”, o belo do “tacho”, o belo do “vinho da região” e assim sucessivamente. Entretanto chegam as guias ou guios – também já se “apanhou” isso.. – apresentações para aqui e para ali e tudo a comer que a festa não tarda e o festival está a começar – elas dizem sempre isso mas quase sempre ainda não começou, num truque mais antigo que a Sé...

Tudo jantado ou quase, há que ir para o teatro, auditório e seus sucedâneos. Toca-se e volta-se ao ritual do costume: o bar, onde é o bar, onde estão as senhas, o Magister – e volta a ser praxado.. – é que tem as senhas e a “via sacra” lá continua, a parar nas mesmas capelas, ramais e apeadeiros do costume. Depois de muitas cantadas e tocadas, repara-se que o tempo passou depressa e mais uma paragem na procissão em direcção às discos e afins, não sem antes haver alguém que está com fome porque…não jantou à hora do jantar por “protesto veemente por não se ter ido ao Tromba Rija”, quase provocando que alguém diga “à Tromba Rija vou-te eu não tarda é nada…”

Amanhece em Portugal. Sai-se da disco-bar já com a mesma “percepção” que um Messerschmit tinha quando picava voo face aos arbustos da bonita Bretanha; um cai, outro tropeça e outros dissertam sobre a famigerada problemática “mas porquê? Somos gajos tão bonitos e nada !?? Que raio querem elas? Tomes Cruises??? Em que planeta vivem????”. Já outros calados que nem ratos limitam-se penosamente a dirigirem-se aos aposentos que, aquela hora, parecem sempre principescos, sejam como sejam.

As guias, sempre frescas, sujeitam-se sempre por volta das 13 da tarde ao belo do sapato voador tão característico do acordar tunante mas lá conseguem a muito custo – outras com a ajuda de uma grua da “Soares da Costa”… - tirar da cama o ultimo dos “moicanos”, almoço e mais uma volta à modalidade olímpica do tabuleiro deslizante e siga pra bingo.

A noite repete a anterior e regresso a casa. Tudo igual à ida excepto nas caras e semblantes da rapaziada, não sem antes procurarem o belo do tacho ou em alternativa, para não atrasar mais, o sempre ocasional “ BigMac” que, dadas as circunstâncias, parece marisco.

Regresso a casa com mais umas e outras cantadas e tocadas, as histórias do fim de semana, isto e aquilo e chagada à “terra prometida” onde “alguém” irá estar à espera com a bela da Canjinha de Galinha, uma instituição nacional que é para muitos e alguns ainda com o bónus de terem à espera um “free pass”de 15 dias para as Termas de São Pedro do Sul, pelo sim pelo não.

Palavra da salvação: “ Quem Tuna por gosto não cansa….”. Afinal, é isto que conta e é…

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