A Aventura da "Pérola" histórica

O Fenómeno tunante ligado aos então Liceus Nacionais, instituídos pelo regime do Estado Novo, conheceu a dada altura uma pujante actividade e há vários relatos sobre a mesma devidamente documentados.

Seria portanto previsivel e até quase inevitável, à luz da retórica colonialista do regime em vigor, que as colónias de então tivessem mantido hábitos e costumes ligados à metrópole e obviamente adaptadas aos locais indígenas e suas realidades bem particulares. Será pois este exemplo um dos vários que porventura possam ter existido e no que toca ao tema Tuna e estudantes, mormente e no caso de âmbito liceal.

Goa, antiga colónia Portuguesa na Índia -juntamente com Damão e Diú - não foi excepção nesse capítulo colonizador e no que se reporta a tradições bem portuguesas. Será prova dessa constância o texto que abaixo transcrevo e que nos fala nada mais nada menos que da Tuna do Liceu Nacional Afonso de Albuquerque em Goa. Ora vejamos, pela "voz" de um dos seus antigos elementos de então, Francisco Monteiro:

"Esta histórica data (1954/1955) serviu para que a direcção do liceu, o governo geral e as forças vivas da cidade de Pangim organizassem um grandioso programa de comemorações do qual constou uma sessão solene de abertura das comemorações, palestras, exposições dos trabalhos manuais feitos pelos alunos, apresentação de classes de ginástica e torneios desportivos, um sarau e finalmente a sessão de encerramento das festas.

Do sarau constava a apresentação do Orfeão e da Tuna do Liceu de Goa; coube ao professor António de Figueiredo a tarefa de organizar o orfeão e a tuna; o professor foi escolhendo entre as centenas de alunos um grupo que segundo os seus critérios reunia as condições para fazerem parte do orfeão e da tuna; pois entre estas centenas de alunos eu tive a felicidade de ser escolhido para fazer parte do orfeão, o que para um jovem com dez anos que acabara de entrar para o liceu foi um motivo de orgulho; devo no entanto dizer que eu bem como muitos dos jovens escolhidos já tínhamos tido uma pequena preparação no canto e solfejo nas escolas paroquiais das nossas igrejas, que deram um grande contributo para despertar vocações para o canto e música.

Mas voltando a falar do orfeão que depois de muitos ensaios apresentou-se para o Sarau de Gala no Cine-Teatro Nacional de Pangim repleto de assistência e a presença do senhor Governador Geral General Benard Guedes, do Patriarca das Índias Orientais D. José Vieira Alvernaz, autoridades civis, militares e eclesiásticas, professores, alunos e funcionários do liceu e seus familiares.

O programa abriu com o hino do liceu de Goa (Nosso Liceu Farol Resplandecente, Sobre a Verde Colina Alcandorado...) cujos versos são de autoria da professora Pizinha e o arranjo musical do maestro António de Figueiredo; seguiram-se vários arranjos musicais feitos pelo professor António de Figueiredo das canções tradicionais de Goa, uma rapsódia de Damão, canções populares de Portugal metropolitano, interlúdios musicais cantados pelos componentes do orfeão e acompanhados pela tuna que foram muito aplaudidos; os nossos mandós, decknis, dulpodas e fugdis que deram um cunho verdadeiramente exótico e que a assistência saudou com com prolongados aplausos; o programa encerrou com o hino nacional de Portugal (A Portuguesa) cantado a oito vozes que a assistência acompanhou vibrantemente. Segundo rezaram as crónicas nunca em nenhuma parcela do território português o hino português tinha sido cantado por tantas vozes e com tanta alma.

A actuação tanto do orfeão como da tuna foi um acontecimento muito falado e comentado pela imprensa goesa com realce para os jornais diários “O Heraldo”, “Heraldo”, “Diário da Noite”, “A Vida” e “Diário de Goa” e pelos semanários “A Vanguarda” e “A Índia Portuguesa”. A Emissora de Goa transmitiu em diferido um resumo do sarau. Tudo isto foi fruto da trabalho dedicado e persistente do Professor António de Figueiredo que com o seu dinamismo e amor pelo canto e música, perdendo muitas das horas do seu descanso trabalhou afincadamente para que a actuação do orfeão e da tuna fossem um sucesso. (fim de citação)

Para que conste e para a História fica este registo, possivel de ser visto no apontador http://goancauses.com/Antonio1.htm com inclusivamente uma foto da Tuna em plena actuação.


Macau ao que parece também ela viu Tunas, a fazer fé nas palavras de Jorge A.H. Rangel, Presidente do Instituto Internacional de Macau e falando do carnaval Macaense de outros tempos, diz a dada altura que " Em épocas passadas, Macau ria a bandeiras despregadas. Vestia-se de fantasia e andava pelas ruas, cantando, galhofando, palhaçando, em gestos e atitudes de Truão. Os sons alegres das Tunas e os risos festivos do rapazio explodiam em melodias ensaiadas durantes muitas semanas e em gargalhadas estridentes provocadas muitas vezes pela visão das máscaras..."(Fim de citação).


De notar os contextos devidos destes dois exemplos e que obviamente não se podem confundir com a Tuna Universitária desde logo. Em todo o caso, são dados históricos importantes.

E mais uns "mitos" que caem...


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