A Aventura da Balcanização da Tuna Portuguesa

O fenómeno tunante em Portugal apresenta-se a passos largos, senão já se encontra, em processo de Balcanização acelerado, ou seja, traduzindo, em processo de desmembramento face à sua matriz histórica, onde co-existem várias perspectivas de a encarar por um lado, juntamente com outras perspectivas que em nada terão a ver quer com a matriz histórica quer com o fundamento tunante por si só e de facto.

A crescente tensão existente entre as várias perspectivas do fenómeno apenas resulta de uma clara falta de respeito pelas fundações, alicerces tunantes de facto, pelo descontinuar como profissão de fé de várias características que definem desde logo a Tuna enquanto tal. A esta balcanização não serão alheios dois factores, o 1º) a descolagem face ao modelo espanhol a toda a largura e comprimento de frequência ocorrida logo após o ressurgimento tunante nacional dos finais dos anos 80, inicios dos 90 do Século XX em determinados quadrantes, uma espécie de sentimento "aljubarroteiro" com laivos anti-Filipes - ao descolar-se do modelo espanhol descola-se de várias perspectivas ao invés de se manter aquelas que seriam mais importantes historica e culturalmente no âmbito tunante - e 2º) na focalização única da actividade tunante no factor meramente musical, deixando de lado ou mesmo abandonando todas as restantes matrizes culturais identificativas, retirando as Tunas do seu habitat natural e entricheirando-as em apenas um local, os palcos, à custa de um catalizador chamado certame competitivo.

Esta balcanização resulta no acima aferido por clara identificação desviacional dos comportamentos e modelos tidos hoje como válidos, o que deixa de lado outros modelos e comportamentos que são a génese tunante de carácter universal e, portanto, unificadores na atitude tunante independentemente do local onde cada uma se situa e exerce por regra a sua actividade (pretensa) tunante. Ou seja, esta balcanização da Tuna portuguesa apenas originou o actual cenário, com tendências de mimetismo do modelo errado ou mesmo anti-tunante em doses industriais, numa espécie de "o crime compensa" e, ao inverso, numa espécie de diabolização daqueles que continuam teimosa e por isso convictamente a pôr e a repôr - em poucos casos identificados - a Tuna na sua rota tradicional, genética.

A balcanização da Tuna portuguesa foi e é alimentada pela tentativa de imposição de modelos que em nada são tunantes com a agravante de se alimentarem autofagicamente do mesmo modelo, espalhando o disparate, despropósito, a ignorância e a arrogância numa pandemia anti-tunante disfarçada de dita tunante - ou seja, uma espécie de second life a gosto de cada conveniência. Torna-se assim evidente que face ao desmembramento da noção basilar de Tuna que esta balcanização sugere, o ónus da reposição dos valores verdadeiramente tunantes surge actualmente como algo depreciativo, uniformizador, uma espécie de "partido único" ou "união nacional tunante" quando apenas esta reposição acontece por força daqueles a quem aproveita essa balcanização do fenómeno tunante.

Falando de balcanização assumo claramente que falo em claro belicismo cultural e acima de tudo comportamental face à matriz tunante, com o único intuíto de defesa desta ultima e não de ataque a algo que de tunante nada detêm e se vai emiscuindo amiúde num meio que não lhe pertence e que acredito que alguns nem sequer lhe querem pertencer, apenas dele recolher os louros (??) e as vantagens do mesmo mas em simultâneo negando de forma clara essa cultura onde se dizem inserir. Estamos perante um processo irremediável por força paradoxalmente da própria cultura tunante, generosa, fraterna, que nos indica um sempre "bem vindo" se vieres por bem quando muitos apenas vêm ao seu bem e não ao bem comum, de todos.

Por outro lado, explica-se esta balcanização do fenómeno tunante por outra perspectiva, a sede insaciável de distinção, de descolagem ao modelo, como se porventura aquando do ressurgimento tunante em Portugal elas fossem todas iguais quando não o eram de todo; as poucas que então existiam já detinham uma forte identidade própria mas que respeitava a matriz histórica fosse onde fosse, seja como seja, basta retroactivar a memória e facilmente se lembrarão disso mesmo. Hoje, a balcanização da Tuna portuguesa não permite um retroactivar mais recente porque nele existe um imenso "buraco negro" de identidade tunante, onde não se percebe porque muita coisa surge, aparece, passa por tuna e muito menos se entende não haver reacção correctiva e profilática por parte do todo do fenómeno.

A balcanização do fenómeno tunante português irá continuar se não existirem mecanismos naturais de facto a serem aplicados a tempo e horas, se se continuar a permitir a afronta quase bélica à cultura tunante, se se continuar a permitir que falsas tunas actuem e se permitam desfilar no meio das Tunas de facto como se nada fosse. É um fenómeno galopante que merece atenção séria da parte de todo aquele que se diz Tuno de facto, na diversidade da mesma cultura certamente e não no imiscuir de outras culturas que nada têm a ver com esta tão única e singular, que urge preservar cada vez mais.

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