A Aventura dos 3 Tenores...

Na "Aventura" número 200, dedico-a inteiramente aqueles que considero serem os nossos 3 Tenores - e não me refiro nem a Pavarotti, nem a Carreras, nem a Domingo - e que injustamente cairam no "limbo" da memória nacional: Tomás de Alcaide, Alberto Ribeiro e Luis Piçarra, todos eles já recriados por algumas Tunas nacionais, nomeadamente da Academia do Porto.

É esta "Aventura" uma singela mas sentida homenagem a estas 3 ímpares vozes portuguesas e que as Tunas nacionais recriam, teimando em não deixar cair no esquecimento quem originalmente lhes deu voz, alma e sobretudo, imortalidade. Aos 3 maiores Tenores portugueses de todos os tempos estendo humildemente a minha Capa.

A carreira de Tomás de Alcaide como cantor lírico decorreu por cerca de 22 anos, de 1924 a 1948 e projectou-o com extraordinário brilho na cena lírica internacional, com repetidas actuações no famoso Scala de Milão, San Carlo, de Nápoles, Real de Roma, Ópera de Paris, Ópera Estadual de Viena, Festivais de Salzburgo, Teatro Real de La Monnaie, em Bruxelas, e enfim, na generalidade dos mais importantes teatros da Europa e da América do Norte e do Sul.

Alcaide foi uma grande vedeta internacional da Ópera, graças aos atributos excepcionais de que dispunha e que lhe permitiram guindar-se rapidamente ao mais elevado nível e cotação internacionais. Dotado de uma bela e inconfundível voz de tenor lírico, conduzida por uma técnica superior de respiração, as suas interpretações atingiram rara beleza e adequação ao estilo musical e carácter das personagens que desempenhava. Se aliarmos a todos esses dons, um árduo estudo e uma figura ideal para a representação das personagens do seu repertório, um cuidado extremo na indumentária e na caracterização e um verdadeiro talento de actor, teremos a explicação cabal do seu sucesso. Alcaide utilizava todas as possibilidades dinâmicas e cromáticas da sua voz como meio expressivo ao serviço da interpretação musico-dramática. Alcaide cantava em português, espanhol, italiano, francês, inglês e alemão, línguas que lhe eram familiares.

De Tomás de Alcaide fica nas Tunas e pelas Tunas o famoso tema "O Teu Segredo".


Alberto Ribeiro nasceu em Ermesinde em 29 de Fevereiro de 1920, de uma família de artistas. Um irmão e uma irmã também cantavam e fizeram carreiras embora mais discretas.Mas Alberto Ribeiro com a sua voz extensa, de grande facilidade nos agudos, de timbre quente, podia ter sido, em qualquer parte do mundo, um enorme cantor. Em Portugal ainda hoje é recordado como uma voz única a despeito da sua inexplicável decisão de se afastar dos palcos, no apogeu da sua carreira.


Fenómeno de popularidade, surgiu como intérprete principal do filme "Capas Negras" e no período que se lhe seguiu foi vedeta de cinema em várias películas nacionais e internacionais. Foi também galã de inúmeras operetas que encontraram nele o intérprete ideal, mas Alberto Ribeiro muito cedo se retirou de cena sem que houvesse uma quebra de popularidade e de prestígio, que o justificasse.

Vinte e cinco anos depois da primeira apresentação da opereta "Nazaré" Alberto Ribeiro reapareceu, igual a si mesmo, sem a mínima quebra no metal da sua voz quase milagrosa. Depois remeteu-se a um silêncio que nada nem ninguém conseguiu até hoje quebrar.

Fica igualmente pelas Tunas o tema "E o Porto é Assim" por si interpretado originalmente.


Luis Piçarra nasceu em Moura, Alentejo na véspera de São João, em 1917. Começou por ter aulas com o barítono D. Fernando de Almeida e, mais tarde com a cantora lírica Hermínia de Alagarim, estreando-se em público, num concerto na Academia dos Amadores de Música em que participaram alunos desta professora, onde cantou uma selecção de árias do “ Barbeiro de Sevilha”. A esse propósito Luís de Freitas Branco escreveu no “O Século”: “ Rossini teria encontrado no nosso compatriota a voz modelada e maleável com que sonhou quando escreveu a difícil partitura”. Embora tenha frequentado ainda durante mais dois anos as Belas Artes, Luís Piçarra acaba por se dedicar inteiramente como profissional à sua vocação.


Em Portugal foi actuando ao longo de toda a sua carreira pela maior parte das salas de espectáculo do país. Gravou, por esse mundo fora várias centenas de discos, obras de vários géneros, como ," Fiandeira", “Granada”, “Amor é Lume”,( da ópera "Salúquia" ,de João Camilo) “Santa Maria dos Mares”, “Colorado”," Pourquoi me reveiller", "L´Amour est si près de la peine", "Copacabana", "Questa o quella", “Avril au Portugal” ( versão francesa de “Coimbra “ de Raúl Ferrão), "Una furtiva lacrima", "Aguarela do Brasil" e muitos mais, sem esquecer o "Ser Benfiquista" .

Ficam de Luis Piçarra temas como " Mulher" ou " À Beira Mar", entre outros que as Tunas recriam.

Comentários

Panamá disse…
Obrigado pela resenha histórica, pois é coisa que me passa ao lado e de difícil pesquisa.
causa nobre disse…
Um dos temas mais brilhantes interpretados por Luis Piçarra, é obviamente o Hino "Ser Benfiquista", que por terras invictas faz sempre muito sucesso.
Abraço
Sem duvida alguma. Aliás,fruto de um contexto sociopolitico de época muito peculiar que a Nação então vivia (e atente-se à época) que em nada tem a ver com a de hoje (felizmente, diga-se). Aliás, o "Ser Benfiquista" é hoje um tema mais conhecido no meio académico do Porto por "passar" - e graças à adaptação da TEUP - como sendo o hino dessa Tuna e Faculdade, "Engenharia", sendo a música igual e a letra obviamente adaptada, levando os mais (jovens) incautos a achar quando ouvem o "Ser Benfiquista" estarem a ouvir uma adaptação do tema " Engenharia"....sinais dos tempos.

Abraços!