A Aventura da Música de Tuna

Como em tudo, havendo duvidas, deve-se ir ao fulcro da questão e o fulcro da questão foi por mim abordado da seguinte forma:

Há diferenças entre a Tuna Académica e Universitária e as restantes expressões musicais (e só musicais?)

Se há diferenças, elas estão onde e porquê?

Se não houvessem diferenças, levantar-se-ia alguma vez a questão "o que é musica de tunas?"

Perante tais questões, de resposta penso que mais ou menos pacifica, não posso deixar de afirmar os seguintes considerandos:

Se a expressão artistica da tuna académica e universitária é distinta na sua base genética de qualquer outra, por muito eclética e universal que a musica seja enquanto expressão cultural, não cabem às tunas incursões por musicalidades que a ela lhe são de todo alheias: resta definir quais são as que a ela são caras, certamente outros "500" e que só o tempo poderá aclarar.

A adopção (mesmo que indirecta) de um cancioneiro de tuna como aconteceu em Espanha seria mau para as tunas nacionais; mas foi graças a ele que a Tuna Espanhola se manteve muito mais fiel à sua condição genética - para o bem e para o mal - do que no caso nacional; se hoje há desvios claríssimos a titulo musical em ditas de tunas nacionais, será precisamente porque o "crime compensa" e então, à falta de parametros mais ou menos claros, assentou-se na base do permissivo. O preço está a ser pago como se comprova pela festivalite aguda que grassa hoje em Portugal (Em Espanha não ocorrem por ano sequer 1/4 dos certames que há por cá, Portugal tem menos 15 tunas que Espanha, só no Porto há 77 tunas e Madrid que é Madrid tem 60 e pico e por aí fora). Isto reflete muita coisa a meu ver: Toca-se o que se quer porque a tuna em Portugal nasce - e morre - por geração expontânea e raramente com propósitos claros e fieís à tradição Tunante de facto.

A Tuna deve manter traços claros e distintos de qualquer outro agrupamento seja de que natureza seja, universitária ou não; caso oposto a Tuna deixa de o ser nas suas bases genéticas. Se sofremos a seu tempo influências de fora - o tocar de pé, o estandarte e seu bailar , etc - por alguma razão foi e não foram influências de grupos de rock mas sim de tunas, no caso espanholas.

Manter a distinção e a nossa base genética é naturalmente mais complicado por cá do que em Espanha; mas confesso que a ortodoxia tunante só se coloca quando existe liberalismo tunante desenfreado, prova que se há uma corrente que defende as bases estéticas musicais nacionais é porque há quem não as defenda, vincule ou cultive, antes sim quem as ataque consciente ou inconscientemente. Isto prova que há de facto, um limite para a decência tunante musical. Qual é? Boa pergunta. Mas que há, isso há.

Será antes saber-se o que é indecente e não tanto o que será decente. Porque se há jazz e quejandos nas tunas nacionais, nada impede em rigor que haja Gospel, Manbo, Rumba, R & B, Hip Hop, Trance ou Techno, em rigorosa coerência.

Por outro lado, a necessária produtividade e avanço musical das tunas como forma de marcarem a qualidade musical não se pode resignar ao sempre básico Dó Sol Fá, absolutamente de acordo. Mas voltamos ao mesmo, à luz de tal premissa pacifica, temos logo quem tome o braço pela mão.

Porquê? Porque ao contrário dos ortodoxos espanhois, nunca se delimitou salvo casos raros e perfeitamente delimitados - até onde se poderia musicalmente ir ou deixar de ir. Em suma, vai-se onde se quer ir porque todos "permitem" à falta de quem não o admita e de decoro/bom senso.

Outra questão paralela: A bandeira da musicalidade serviu e serve em muitos casos - a sua liberalização - para se esquecer ou fazer tábua raza da base genética da Tuna face a qualquer outro grupo musical seja de estudantes ou não. E isso não deve ser premiado, mais até, permitido no seio das tunas nacionais, sob pena de, à custa da musicalidade, um dia, não haverem tunas. A excepção só faz sentido havendo regra, caso oposto passa a excepção a ser a regra e vice-versa, que é o que vai acontecendo na Tuna nacional amiúde.

São algumas reflexões pessoais. Mas entendo o ponto de vista daqueles que são mais abertos ao evoluir musical e até, em certos casos, corroboro e incentivo a mesma. Mas como em tudo na vida, com regra e bom senso. Onde estão? Não sei. Mas tenho uma ideia...

Comentários

J.Pierre Silva disse…
Tal como tu, também eu tenho uma ideia.......
Por outro lado, tenho algumas (ou muitas, até) suspeitas de que é do "meio da tabela" para cima que mais expeditamente encontraríamos os ditos...... liberais.
Basta ver que, não poucas vezes, é nas ditas "grandes tunas" que encontramos o maior fosso, que é aí que mais se hasteia a dita bandeira da musicalidade e, deste modo, arranca os olhos do essencial e os desvia em detrimento dos tais propósitos claros e fieís à tradição Tunante de facto.

Abraço.

PS - Muito chato ter de escrever códigos (verificação de palavras) para postar uma mensagem (hehehehe).