A Aventura da Lógica competitiva Tunante

Caso para dizer, é fruta da época. Chegamos a esta altura da "season" tunante e surgem logo os suspeitos do costume sobre estas matérias; desde as "virgens violentadas" até aos "teóricos do 4-3-3" todos aparecem a terreiro num tema que era giro para debate à esplanada de um qualquer Verão. Mas pronto, é como disse, fruta da época. Assim sendo, vamos a ela.

Mais que modelos de avaliação - tema corrente nos dias de hoje.... - sobre a competição tunante, e por muito cara que me seja a matéria - já aqui no "Aventuras" discorri sobre a mesma várias vezes, não me apetecendo sequer repetir-me, será pesquisar portanto - vou mais pela abordagem da lógica competitiva tunante, suas causas a montante e consequências a jusante.

A lógica competitiva tunante é sempre - deveria ser, digo - uma lógica de promoção do fenómeno em toda a sua plenitude, ou seja, deveria a competição tunante promover as mais basilares premissas do Ser Tuna e logo a abrir as "hostilidades". O certame competitivo nasce para promover a arte tunante, para promover a tradição tunante, para dar-lhe seguimento no tempo e no espaço através de um pretexto chamado competição. Este último factor serve como catalizador não de um escalonamento - cada vez mais despiciente porque o que saiu hoje na rifa amanhã já não sai igual - qualitativo qualquer mas antes e sim como forma de promover algo que é intrínseco à condição de estudante e de Tuno: Ser-se competente e no caso, tunantemente competente.

Esta competência tunante é composta a jusante por variados "hotpoints" perfeitamente claros e delimitados pela natureza da tradição que evocam e reproduzem em qualquer circunstância - a Serenata, a Rua, a Beneficiência, etc etc etc - sendo certo que o certame apenas é uma das formas de manifestar essas mesmas competências tunantes. E aqui reside o 1º erro crasso de muitos: Entender o certame como a única competência a ter-se enquanto Tuna. Nada de mais profundamente errado.

Depois vem a seguir o 2º erro crasso, que será a projecção do 1º erro até na existência da Tuna enquanto tal, levando a lógica da Tuna a alimentar-se apenas e tão só do certame, fechando o círculo quando a mesma deixa de se exprimir nas restantes manifestações tunantes por manifesta ceguez ávida face a esta em particular, o certame. É este circuito fechado que levará à inevitável queda a prazo, senão cenário pior. O 3º erro crasso neste contexto é quando a Tuna assume o certame como sendo a "mãe-de-todas-as-guerras" colocando-se no extremo do radicalismo quando, à falta de resultados, resolve invocar a batota, o "esquema" e o "compadrio" para justicar-se a si mesma, obviamente.

A lógica do certame competitivo é uma lógica saudável. Mas essa saúde só pode existir quando os seus intervenientes são eles mesmos sãos, salubres e não doentes em fase terminal de raiva como se vê amiúde. É evidente que no triangulo organização-tunas a concurso-público, o 3º está-se nas tintas para a 1ª se esta for competente e mais nas tintas está se as 2ªs forem ou não, podendo voltar a ver um certame de tunas por força - lá está - da competência ou falta dela nas Tunas, logicamente. A 1ª quer que os 2ºs sejam competentes mas se apenas a 1ª achar que o certame não se resume a 25, 30 minutos. Se a 1ª achar isso mesmo e tão só, o 3º - o público - está a ser defraudado pois anunciou a 1ª um certame de Tunas e não uma récita. Se nesta regra de três simples os 2ºs não forem de factos Tunas, os 1º s, os 2ºs e os 3ºs estão a ser TODOS prejudicados. E é essa noção de fiabilidade Tunante que está sistematicamente a ser posta em causa quando as coisas correm de forma a não cumprir com as tais premissas genéticas tunantes.

A lógica competitiva tunante tem de ser fiável, confiável, tem de ser apaziguadora e unificadora, representiva de um todo e projecção do mesmo junto da sociedade futrica. Não pode, por tal, ser um espelho da sociedade de hoje ao seu pior nivel onde todos andam quais Galgos a ver quem corre mais que o parceiro do lado, num mundo tão aborrecidamente competitivo como desgraçadamente esquecido de emoções positivas e autenticidade - no caso, tunante.

E aqui vamos às consequências a jusante do extremo equívoco em que o certame em Portugal caiu.

Assumindo-se a competição tunante como sendo uma das formas de expressão tunante - e não a única e muito menos a mais importante - há dois caminhos para o fazer: o naturalmente saudável que incorpora por via de regra a competência Tunante em toda a sua plenitude ou então o ficticiamente pré-fabricado que assume claramente a competição como sendo a sua única e exclusiva "estranha forma de vida". Quem segue a 1ª lógica nunca procura em terceiros, sejam eles qual forem, as razões do seu sucesso ou insucesso competitivo, resumem os resultados a uma sadia interpretação efémera mas competente face aos objectivos que têm - e nada de mais natural que assim seja. Quem segue a 1ª lógica vive bem consigo e com os outros, parodiando-se até a si mesmo e parodiando os outros que seguem a 2ª lógica pelo ridiculo a que estes ultimos se expoem. Quem segue a 1ª lógica não procura no sucesso dos outros a explicação para os seus insucessos porque não precisa e essencialmente porque não age assim no seu dia-a-dia tunante.

Quem segue a 2ª lógica é uma espécie de "Wall Street" onde o mais forte é - julga - o que berra mais alto, o que mais protesta e consequentemente quando a coisa corre mal, o que mais (se) chora. Quem segue a 2ª lógica está exposto constatemente ao ridiculo porque se expõe ao mesmo, simplesmente. Quem segue a 2ª lógica é aquele que constantemente procura ludibriar por meios pouco ortodoxos os tais "hotpoints" supracitados na expectativa de encontrar gente mais desavisada ou desatenta. Quem segue a 2ª lógica é aquele que no âmbito da competição saudável procura constantemente o "mau da fita", o jurado "mafioso" ou o compadrio " de vão de escada" para justificar o injustificável. Em suma, quem segue a 2ª lógica presta fraco serviço ao todo do fenómeno Tunante porque mostra pura e simplesmente tudo o que a Tuna não defende, não é, não concorda, não patrocina. Resumo: não é Tuna.

A lógica competitiva tunante pressupõe sempre salubridade dos intervenientes, todos eles. Caso oposto, a mesma lógica está constantemente a ser colocada em causa e pior que isso, todos sabemos que na barafunda desregrada e doentia apenas se "safam" os "campeões" do berro, do choro e da calúnia.

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