A Aventura Geotunante portuguesa

Quem olhar para a distribuição geográfica Tunante nacional à vinte anos atrás e comparar com o mapa geotunante de hoje, verificará o óbvio: uma clara e maior dispersão geográfica. Parece dado adquirido que tal se deve a vários factores que vão desde o advento do ensino superior em localidades que antes não detinham tal até ao fenómeno de mimetismo que se prende com a afirmação dos mesmos pólos através da existência de uma Tuna, o que visto pelo prisma do associativismo estudantil é curioso - pois não se encontra paralelo noutras expressões como sendo futebol universitário ou teatro universitário, por exemplo.

O mapa geográfico de distribuição das Tunas nacionais de hoje é disperso, diversificado e toca praticamente todo o território nacional, podendo hoje ver-se a permanência de Tunas de cariz universitário e/ou politécnico em localidades onde antes seria tal quase impensável. O mapa geotunante à vinte anos atrás concentrava praticamente as Tunas em meia dúzia de pontos cardeais e hoje temos uma clara dispersão e reprodução das mesmas em praticamente todas as cidades e mesmo vilas onde existe ensino de cariz superior. Se esta dispersão trouxe claros benefícios por um lado - a clara "democratização" do conceito tunante, a sua policromacia, a sua diversidade cultural - por outro trouxe um claro afastamento face à génese tunante, levando a que surgisse uma Tuna em cada esquina não pelos motivos mais tunantes - digamos assim - mas antes por força de uma clara mostra e montra de vitalidade estudantil que se resumiu nos ultimos vinte anos a um fenómeno de mimetismo que se encontra num reduto, preso a uma lógica de afirmação estudantil que praticamente se ancorou numa Tuna e não noutros fenómenos de carácter cultural, desportivo ou associativo.

Esta procura incessante do "grito do Epiranga" tunante por parte de quem não tem raízes tunantes de facto leva a um repetir adaptado às circunstâncias e lugar, levando não poucas vezes a um qualquer fenómeno desprovido dos mais basilares alicerçes tunantes e repetindo apenas o lado "mais leve" ou mais apelativo e por aí se ficando. Bem sei o quão dificil pode ser surgir do nada e no meio de nada - em termos tunantes - e mais adianto, percebo muito bem as motivações de quem se quer constituir como agremiação tunante em terra de tudo menos de cultura tunante - porque as há, há, restando torná-las futuramente em terras de Tunanteria mas como deve ser, preferencialmente. O que se assistiu foi ao reproduzir por reproduzir, ao levantamento de rancho tunante afirmando claro e bom som que se os outros podem nós também podemos - ideia tão democrática quanto perigosa e peregrina até, se apenas se reduz ao repetir do fácil. O que não se assistiu em inúmeros pontos cardeais do mapa geotunante foi precisamente ao reproduzir da essência que é necessáriamente dificil, do tal Saber Ser e Estar que é inerente - e compreendo a dificuldade desde logo - ao formar-se uma qualquer Tuna de cariz universitário e académico. Digamos que foi o lado "Académico" a dar uma "goleada" ao ponto de vista "universitário", se assim quiserem interpretar o termo "académico" pela forma mais fácil, oportunamente "quente" e simpaticamente conveniente.

Não quero com isto dizer que o mapa geotunante nacional por disperso hoje é mais, por isso, contrafacção. Nada disso. Também a temos nos locais mais insuspeitos, devo dizer claramente. Mas quando há forma de nos podermos medir nos comportamentos, formas de estar e ser, não ter "chá" tunante é mais grave ainda. Os que não têm essa possibilidade têm mais dificuldade - isolamento, insularidade, etc - e nem por isso muitos deles deixam de manter as mais basilares premissas tunantes de facto. Todos nós já vimos Tunas de Academias vetustas a terem comportamentos abaixo dos mínimos e vice-versa, obviamente. O que envergonha muito umas e valoriza imenso outras, provando que vai muito da humildade de cada uma - Tuna - o que ela de facto é.

À dispersão geotunante podemos atribuir estes e outros factores. Mais até, a mesma acaba por adendar factores de outra monta muito interessantes - culturas locais e musicais únicas, etc. Mas adenda - pode adendar - perigosas invenções de 3/4 de mês, tradições feitas "à la minute" e que obviamente não contribuem na generalidade para o todo. A par de tudo isto, a dispersão geográfica tunante leva a um autismo tunante crasso em alguns casos, julgando alguns serem a "créme de la créme" porque pura e simplesmente raramente ou nunca se cruzam com outras tunas, levando a um fenómeno de "escuridão" tunante que apenas serve - quando mal conduzido - a situações exacerbadas de "surdez" e "cegueira" ao invés de provocar uma procura ainda maior de partilha humilde de valores tunantes.

Outro dado curioso: Os outrora bastiões de muitas e boas Tunas começam a assistir a um reposicionamento, reordenamento claro onde de forma activa começa a diminuir o número de Tunas e por outro lado, surgem novos e mais abrangentes conceitos de associação tunante e com resultados mais que evidentes, resultado claro da erosão temporal onde muitos "passaram" pelas Tunas mas poucos foram Tunos de facto - ou seja, resumindo, ultrapassaram o clássico muro psicológico que se resumia ao "eu faço bem, tu fazes bem e nós todos juntos fazemos mal"; agora há quem faça bem juntos quando antes estava cada um por si.

Também surgiram projectos paratunantes em doses vincadas que para lá de tudo o que de pernicioso isso trouxe, adenda-se ao mesmo o tal mimetismo profundamente errado, levando ao surgimento de cópias da cópia - e não cópias do original (salvaguardando a especificidade cultural e local de cada uma, obviamente).

Em suma, o mapa geotunante nacional é disperso, diversificado, multicultural até e democrático por tal. Mas de facto, o lado B desta positividade pode ser perigoso para o fenómeno se encarado o mesmo de forma negativa, autista e arrogante. O mundo muda todos os dias, é um facto. A noção genética de Tuna não - e isso é outro facto.

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