A Aventura da Tuna Feminina em Espanha

Deixo-vos com o relato do Maese Chencho da Tuna de Medicina de Córdoba e ilustre Tunólogo, numa tradução livre:

"Dito de forma clara: não há razão histórica para negar a natureza das Tunas femininas.

Quando a tradição de "correr la Tuna" desaparece nas suas razões de ser (o traje e o foro escolar...) em meados do Século XIX, aparecem as estudiantinas carnavalescas, que com o tempo evoluem até ao que hoje são as Tunas espanholas.

Estas nascem como sendo comparsas de Carnaval que se vestem de estudantes mas que não são integradas por estudantes. Ocorre que a fórmula teve êxito - pelo seu colorido e musicalidade muito superior a das outras comparsas, pois estas estudiantinas integram não raras vezes músicos profissionais que criam peças exclusivas para elas - e começa a generalizar-se um tipo de comparsa que veste de estudante e que com o tempo recebe o nome de estudiantina (até então o término designava os estudantes como colectividade ou como adjectivo qualificativo aplicável aos estudantes).

Esta tipo de comparsa é a origem de dois grupos que por sua vez também o nome de estudiantina, as formadas por estudantes verdadeiros, seguramente alicerçados pelo uso de uma tradição (“correr la tuna”) criada pelo seu grupo social e outras estudiantinas que não são senão orquestras profissionais que se vestem de estudantes para os seus espectáculos e digressões (como a "Estudiantina Figaro" que faz digressões por toda a Europa e América, a cujo passo origina a criação de agrupamentos similares no continente sul-americano .

Pouco a pouco as estudiantinas formadas por estudantes verdadeiros começam a utilizar para denominar-se para se diferenciarem das outras o termo "Tuna" que até então não existia (existia o termo "correr la tuna", ou seja, costume próprio aplicável ao período de ócio que consistia em garantir sustento durante o mesmo).

Por exemplo, em 1878, a Revista Cordobesa (periódico científico, literário e de interesses gerais) nº 90 de 8 de Março diz: " Esta noche, a las ocho y media, se efectúa en el Gran Teatro un concierto por la estudiantina La Tuna Madrileña". Outra forma de diferenciar menos problemática e que também tem muito êxito é a seguinte: Estudiantina Escolar Gaditana, uma estudiantina integrada por estudantes da Universidade de Cádiz.

A comparsa de estudantes (que conviverá com as duas seguintes) é a origem das estudiantinas escolares e das profissionais. Comparsas estudiantinas femininas existem desde o início, logo partilha-se a origem, pois a única diferença é que umas são formadas por estudantes verdadeiros e outras não, fazendo precisamente o mesmo. Só saem à rua pelo Carnaval, formando-se o tempo necessário antes para ensaiar um repertório. Logo ampliarão as suas actividades a actos beneficentes, serenatas a personagens importantes, etc, tanto umas como outras.

Que não havia tunas femininas na antiguidade? Claro, a Mulher não havia entrado nela, como tal, era impossível à Mulher formar estudiantinas universitárias.

Quando a Mulher entra na Universidade, forma-as então: após a guerra civil nascem as tunas del SEU (no inicio também denominadas de estudiantinas) na década de 40
. A primeira Tuna feminina de que tenho constância é a do SEU de Barcelona de 1958, também a de Ciencias de Barcelona de 1961, a Tuna Escolar Juvenil de Bilbao de fins dos anos 50, princípios dos 60, da feminina da Universidad de Oviedo fundada com motivo do certamen nacional de tunas de Oviedo de 1965.

Na época do SEU - Sindicato Espanhol Universitário - era impensável que uma mulher usasse calças, pelo que a Feminina de Barcelona (...) seguramente tiveram que vestir o "uniforme" que o SEU lhes impôs. O resto das tunas femeninas atrás faladas vestiam o traje que é derivação do usado pela Estudiantina Española de 1878.

No Século XIX recordo que as mulheres não detinham plenos direitos políticos nem civis, bem como não podiam cursar estudos universitários.

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