A Aventura dos Quarentões....


Uma das mais "esquecidas" formas de expressão do Negro Magistério reporta-se, por cá, aquilo que se convencionou chamar de Quarentunas - em Espanha Cuarentunas - ou Tunas de Veteranos, que mais não são que o recriar da Tuna com as devidas distâncias, de alguns daqueles que e citando alguém têm vinte anos e outros tantos em cima de experiência.

É um fenómeno mesmo em Espanha relativamente recente, com especial folgor nos anos 80 e depois com continuação mais ou menos efectiva no tempo e espaço, havendo constância até nos anos 90 de certames anuais de Quarentunas um pouco por toda a geografia espanhola e com algum carácter permanente. Alguns defendem que as mesmas devem albergar e desde logo todos aqueles que já terminaram os seus estudos universitários, sendo certo que a fórmula ou melhor, a fronteira, não se reporta ao final de um curso meramente mas antes e sim á vida que cada um vai levando e que, porventura, possibilite ou não o militar de forma mais ou menos constante nas suas Tunas universitárias. Caso não o seja possivel, seguramente poderá fazê-lo numa Quarentuna, esta já com uma configuração e propósitos muitos mais leves - digamos assim - e que permitem agilizar a vivência tunante com fraldas, patrões aborrecidos ou esposas mais diligentes....

Certo é que em Portugal o fenómeno da Quarentuna só agora começa a dar os seus primeiros passos, salvo honrosas e localizadas excepções já com alguns anos deste figurino tunante, sendo que até por força do actual cenário e mais no caso, por força do cenário de há dez, quinze ou vinte anos atrás, alguns recuperam agora os seus trajes e instrumentos e acto contínuo, mais ou menos ensaios, mais ou menos alfaiate - para alinhavar aquele colete que se usava há vinte barris de cerveja atrás - a coisa começa a compor-se sempre que a "patroa" resolve ir aos Sábados à noite à reunião dos tupperwares lá da vizinhança.

Começa a parecer que os "verdadeiros", os que nunca esquecem, depois de larga pausa e interregno forçado, vendo já os filhotes a caminhar a passos largos para a playstation e as "marias" mais "resignadas" ao conforto que o "doce" sacramento do matrimónio oferece - começam a mexer-se, a procurar na agenda os números e emails de alguns do seu tempo e, acto contínuo, a marcar jantaradas com vista ao objectivo final: poder fugir à loiça por lavar e com isso, tocar umas modinhas por acréscimo, "discutir" o que se discutia há vinte anos atrás e fazer um rewind sempre saudável de um tempo que seguramente foi o deles, o melhor (não desfazendo, caras "marias", não desfazendo...).

Também neste apartado, mais quintal menos arroba, estamos "atrasados" face aos nuestros hermanos, ou melhor dito, estamos na continuidade da evolução. Surgem agora projectos vários de intenções - e desejando que passem ao plano seguinte, o de facto - de várias tunas de Veteranos e/ou Quarentunas ainda que com alguns trintões à mistura, bem sabemos. São os filhos do "Tuna-boom" de idos de 80 e 90 do Século passado que começam agora a descobrir que há mais vida para além das Dodot e do Fairy, o que me parece lindamente. Se o fenómeno tunante nacional e a sua defesa passar também pelos veteranos, seja em que modalidade seja, pois muito bem que sim, estou mais do que de acordo, sou a favor. Mais, a ver pelo que se vai vendo, antes os mesmos Tunos de sempre do que alguns novos que são...o que são.

A visão do Quarentuno sobre o fenómeno tunante hoje seguramente poder-se-á apelidar como sendo uma visão "multiópticas-mas-ao-contrário", ou seja, com mais 40% de despreendimento, alegria e serenidade, o que poderá ser até e a prazo médio uma forma bastante forte e coerente de defesa da própria noção genética de Tuna em abstracto. O Veterano olha hoje para as Tunas em Portugal - principalmente aquele que andou completamente afastado destas lides e por tal, não acompanhou a (des)evolução do fenómeno in loco - de uma forma absolutamente saudável mas ao mesmo tempo, critica e atenta, pois constata muito mais facilmente o que de mau e bom tem hoje o fenómeno, com ponderação, visão periférica e mais desapaixonada "clubisticamente" falando até.

Muitos vão dizendo que há que dar lugar aos mais novos para assim a juventude tunante despontar com mais facilidade. Eu não vou - nunca fui - por aí, por ser um pensamento redutor e sim antes, esse mesmo pensamento castrador do despontar dos mais novos. Pior, parte essa "teoria" de um pré conceito profundamente erróneo: de que há muita gente nova nas Tunas. E esse pré conceito assenta noutra falácia ainda mais grave: a de que qualquer um pode ser facilmente Tuno.
Mais que o B.I. vale o mérito, o valor, a vontade e a firmeza de valores tunantes. Se os mais novos não despontam hoje será por culpa primeira dos mesmos - isto genericamente e sem particularizar como é óbvio - pois provavelmente alguns dos mais novos andam desviados dos santos caminhos das pedrinhas tunantes. Claro que havendo desvios há mais dificuldade em auto-imporem-se num meio tradicionalista, dando espaço de manobra aqueles que sempre foram Tunos e que sempre acarinharam a Tradição tunante. Os mais novos devem sim despontar e ocupar os seus lugares de direito por méritocracia e não por força da sua idade. Seguramente que se o fizerem - como o fizeram variadíssimas gerações anteriormente - só esse facto natural, a dita e almejada renovação geracional fará todo o sentido; de nada adianta dar lugar aos mais novos - ou aos mais velhos, é igual - se por aí vier disparate, desinteresse, desrespeito e atentado ao Negro Magistério. Renovar é uma coisa; trocar é outra.

A resposta mais subtil - por tradicional - para lá de óbvia são as ditas Quarentunas ou Tunas de Veteranos. As Tunas estão envelhecidas por força de uma cada menor adesão dos que hoje militam no ensino superior, é bem verdade, e não por força dos lugares que os mais velhos vão ocupando - que os ocupam não porque não queiram deixar de os ocupar pois se assim fosse não haveriam então Quarentunas por exemplo - mas sim e antes porque os mais novos, hoje, não querem assumir as suas naturais responsabilidades; prá festa somos todos Tunos mas para varrer o chão no fim da borga já só alguns o são. Casos há em que prefere-se até que os mais velhos continuem pois assim a parte mais "chata" do ser Tuno fica por conta de quem sempre dela tomou, sendo muito mais simples aparecer apenas para ensaiar de quando em vez e actuar quando bem lhes apetece. Não me parece de todo - e falo por experiência própria - que a malta nova não consiga ocupar esses lugares porque há quem o impeça; o que me parece é que a malta nova não assume os seus lugares de direito porque pura e simplesmente é muito mais fácil que alguém faça por eles esse papel. Obviamente que há excepções. Obviamente.

As Quarentunas - essencialmente por isso mas também por Tradição - são essenciais e o futuro próximo demostrará isso mesmo. Serão porventura os que irão recriar a Tuna como ela é que irão, até, recolocar o comboio nos eixos. Começam por cá a nascer algumas. Isso é bom. Muito bom. Se a tradição Tunante depender na sua continuidade dos Quarentões, pois que seja: antes mais velhos mas Tunos de facto do que outra coisa qualquer parecida. Óptimo, óptimo seria se a esmagadora maioría dos mais novos que por estas lides andam se assumissem de facto. Mas o óptimo é inimigo do bom....

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