A Aventura da Inflação versus Deflação

Um dos debates quer por cá, quer em Espanha, embora por razões estruturalmente iguais mas diametralmente opostas, prende-se com o certame competitivo e sua organização.

Curiosamente o debate em Espanha centra-se actualmente numa constatação de facto e por lá: existem muito poucos certames de Tunas - se excluírmos os de circuito - durante o período de um ano, ou seja, de carácter anual, cifrando-se actualmente em cerca de 10, 11. Por oposição, em Portugal assiste-se à outra face da moeda, fazendo-se em apenas dois fins de semana a mesma quantidade de certames de tunas que existem em todo um ano em Espanha, como facilmente se constata.

A crise generalizada é apontada como uma das causas, por lá, mas que não a única. O desgaste da imagem geral do Tuno em Espanha, a maior volatilidade das instituições tunantes em Espanha, algum cansaço derivado dos naturais ciclos históricos, são alguns dos factores apontados para tal deflação. Por outro lado, os poucos que existem subsidiam um debate curioso onde dois pólos se opõem claramente: os certames que são organizados sem custos para os participantes - ou seja, proporcionam tudo o que um certame propicía de forma gratuita - e aqueles certames que se alimentam da subvenção de parte dos custos - para alojamento, p.ex. - por parte das Tunas participantes; de um lado e de outro, argumentos de peso são esgrimados - e no contexto espanhol com mais propriedade e causa, deve-se notar.

Por cá, o debate ainda é prematuro mas não dispiciente; já se começam a denotar algumas dificuldades/limitações por parte de vários eventos decanos que são consequência das mesmas causas gerais - crise, etc - bem como de outras causas mais particulares. Certo é que mormente o actual panorama não seja igual ao que era face à cerca de uma década, década e meia, a verdade é que continuamos a ter o maior número de eventos tunantes em todo o mundo onde existe a Arte do Negro Magistério. É um facto a inflação - ainda - de eventos que vivemos e mais para mais, insertos a "monte" num apertado calendário em dois ciclos, entre Outubro e Dezembro e depois entre Março e Maio.

Parece pois a prazo médio, senão curto, que começe a surgir por cá um repensar da lógica organizativa do certame em termos logístico/financeiros, numa época onde os certames ainda proliferam de forma diria assustadora mas onde se começa a denotar uma quebra generalizada de qualidade na recepção, concepção e manutenção de um determinado perfil que antes existia e que agora começa a sentir claras dificuldades em manter essas mesmas premissas organizativas, em alguns casos até premissas que eram marca registada de alguns certames. Não sei, sinceramente, até que ponto valerá a pena manter um certame pelo simples facto de se conseguir levar o mesmo a cabo mesmo que tal implique arriscar várias questões, desde logo a imagem da organizadora. Esse juízo caberá naturalmente a cada uma.

Certo é que começará também por cá a questionar-se a pertinência da imagem de co-subsídio por parte das tunas participantes num certame, de forma a por um lado, dar garantias às visitantes de boa acolhida e recepção e por outro, de forma a diminuir custos da organizadora que assim, pode manter um determinado nivel qualitativo do seu evento. Francamente, não me parece esta hipótese despiciente, mais direi, a prazo será uma solução a ter em conta necessáriamente, o que cruza com o debate espanhol sobre a matéria. Ainda assim, por lá, mesmo com prós e contras face ao co-financiamento de certames de tunas, os eventos escasseiam. Por cá ainda há demasiada oferta, o que diluí desde logo a noção de co-financiamento. O que não significa que não venha a surgir tal hipótese a prazo.

Mas não estaremos muito longe dessa opção num futuro algo próximo, pois cada vez mais os vários sectores da sociedade que costumam aportar apoios financeiros - a começar pelas próprias instituições universitárias - começam a não ter margem de tesouraria para tais eventos, obrigando os organizadores a "dar à perna" ou então, a repensarem o modelo de financiamento a fim de manterem o evento com as suas inatas características. O futuro o dirá.

A perda de qualidade e/ou versatilidade habituais já se começa a sentir por cá faz algum tempo e quanto a certames, até alguns ditos reputados. Alguns já perderam a sua periocidade anual e/ou até pura e simplesmente desapareceram do mapa; outros já baixaram custos inerentes a arrendamento de sala de espectáculos p.ex. ou até passaram de duas noites para uma, diminuindo o número de Tunas participantes e logo, de custos inerentes. Os sinais estão à vista de todos.

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