A Aventura do Ovo e da Galinha

Uma das questões que frequentemente se debruçam alguns que se vão preocupando com estas coisas das Tunas é aquela que, na sua mais básica lógica linear, nos indica quem é que surgiu primeiro, ou seja, o Tuno surge antes da Tuna ou o oposto.

Muito já se derramou sobre a matéria em variados locais cibernauticos e provavelmente quem então opinou não terá mudado a mesma. Mas é preciso notar que e tratando-se de uma tradição secular, não poderemos remeter a nossa opinião ao cosmos actual, ao que vivemos e sentimos apenas e tão só hoje, muito menos em matérias que apelam ao retroactivar, ao pesquisar, ao inquirir. E aí, sendo outros tempos, a configuração que temos hoje de X não pode nem será a que antes existia, parece pacífico.

O que nos diz a história é que o Tuno surgiu antes da Tuna, tomando-se em atenção tempos e lugares que não os de hoje; ou seja, o Tuno surge antes de existir a Tuna como instituição perfeitamente delineada, hierarquizada, organizada e com carácter permanente. O Tuno surge primeiro do que a Tuna porque tratando-se de um modo de vida único de antanho, com vista à subsistência e com forte instinto migratório, o acto de correr a Tuna, de Tunar é acima de tudo um acto individual, como muitos escritos de época nos indicam e comprovam, com viagens entre aldeias, vilas e cidades onde a arte de Tunar permitia subsistir até. Nesses tempos dificeis, Tunar era uma forma de vida e não um mero lazer reprodutivo de uma tradição, logo, deduz-se simplesmente que quando ainda não existia a Tuna em sentido lato já os estudantes pícaros, noctívagos e migrantes existiam, Tunavam.

Logo, sendo a Tuna Universitária uma instituição que surge após o fim do século XIX, inicios do de XX, retomando características anteriores e únicas do Século de Ouro, só aí se começam a fundar as Tunas à imagem e semelhança do que hoje são grosso modo. Ora, concluí-se que o Tuno nasceu antes da Tuna e mais se concluí; que o Tuno para o ser não necessitava de estar incluído numa instituição com regras, caractér permanente e hierarquias ou até adstricto a alguma Universidade, sendo que se concluí igualmente que o Tuno de facto é uma forma de vida que não necessita por si só de um contexto institucional para exercer esse modus facienti.

O Tuno nasce, portanto, antes da Tuna nascer. Foi aliás, graças precisamente a esse facto que a Tuna nasceu, foi graças ao modo de vida Tunante que a Tuna Universitária surge depois como forma aí sim, organizada e institucionalizada, de reproduzir uma forma de estar na vida muito própria e reveladora de uma época histórica concreta. Se hoje há Tunas deve-se ao facto simples de, então, naqueles tempos, existir um hábito, o de correr a Tuna.

A pretensa dificuldade de hoje alguns aceitarem este facto óbvio e documentado deve-se a duas ordens de razão perfeitamente actuais: a noção corporativista e porta-estandarte de uma "marca" que representam - sou da Tuna X da Faculdade X da Universidade X - e a uma noção perfeitamente nos antípodas do Tunar, a musical-belicista.

Só quem não se imagina sequer a tocar e a cantar por um acaso qualquer com Tunos de outras Tunas, origens, países, cidades, etc, sem qualquer outra preocupação do que o mero Tunar é que nunca perceberá a óbvia diferença entre o Tuno e a Tuna: Pode-se ser Tuno sem estar numa Tuna, já uma Tuna sem Tunos é impossivel (ainda que hajam em Portugal ditas de Tunas com ditos de Tunos....)

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