A Aventura da Marketuna

Nesta época politicamente folclórica que agora finda - ainda que momentâneamente pois a seguir a uma desgraça vem sempre outra, no caso em formato autárquico... - algumas ideias retive quanto ao marketing politico utilizado e que encontra no actual cenário tunante nacional algum paralelismo curioso e que me apraz esmiuçar - outro verbo politicamente fashion...

No mainstream do status quo tunante, tal como no político, a tremenda dificuldade ou mesmo nulidade total em passar a mensagem de facto e maior aposta num show off de soudbytes, casos isolados e muita imagem dita de comercial para venda de produto. As Tunas nacionais hoje raramente são capazes de defender abertamente modelos, filosofias, formas de estar e ser, por oposição a uma procura polida e estilizada de uma imagem de marca, de uma label quase a roçar a vertente comercial, como se uma Tuna vendesse um produto X - quando deveria defender antes uma filosofia Y.

Uma pequena viagem ciberbautica confirma isso mesmo, com a forte aposta tunante nas redes sociais como sendo hi5, facebook ou ainda o palco principal ou myspace. A prioridade é para a imagem e não para o conteúdo, é para o look e não para a substância, é para a label e não para a mensagem propriamente dita. O recurso à internet pelas Tunas não é de hoje mas há uma clara inflexão nas formas de comunicação tunante via internet face à dez anos atrás, por exemplo, onde o site de criação caseira era maioritário por oposição a hoje onde o mesmo vai sendo coisa rara a favor das redes sociais. Ou seja, a Tuna em Portugal passou de um espelhar corporativista a uma lógica twittada, reduzindo ao minimo essencial em detrimento da mensagem de facto.

A evolução própria de um meio em constante evolução como o será a sociedade da informação vai ditando as regras do jogo e todos o dias as ferramentas vão ficando mais refinadas, parece seguro. O Blogspot substitui olimpicamente qualquer forum, o twitter tomou de assalto o livro de vistas, o wordpress torna quase jurássico o site institucional. Recursos tão novos quanto ao mesmo tempo, complementares uns dos outros e por vezes, até, sucedâneos, sobrepondo-se nas suas missões especificas.

Como resultado temos actualmente cada vez menos sitios na internet de tunas e cada vez mais máquinas automáticas de frases curtas de tunas, o que não deixa de ser paradoxal: se há tanto mecanismo, tanta ferramenta, por que razão o conteúdo será cada vez menor, logo, mais pobre? O motivo é um caleidoscópio de várias sub-razões. Com tanto soudbyte curto online, a prazo será dificil distinguir conteúdos de facto importantes com vista a um repositório informativo como legado futuro, para os vindouros. Muita frase curta e simples ajuda à dispersão, não à compilação e compactação informativa e formativa. Será o preço a pagar pelos tempos que correm. Justiça seja feita aos que, teimosamente, algures na Gália Tunante, continuam a resistir e a deixar algo com princípio, meio e fim, que obviamente mais longo por mais denso em conteúdo.

A MarkeTuna é hoje um conceito em franca expansão, que vende o seu "produto" da mesma forma que uma banda, um partido ou uma marca de sapatilhas, sem tirar nem pôr. Casos há até em que a Tuna serviu de mero pretexto comercial para vender de facto, um produto.

Comentários

VCP disse…
Cito-te "Recursos tão novos quanto ao mesmo tempo, complementares uns dos outros e por vezes, até, sucedâneos, sobrepondo-se nas suas missões especificas."

Missões específicas! Palavras chave! De facto torna-se importante chegar às pessoas, para isso muita ajuda dá a geração 2.0 de mensagens de 140 caracteres.

No entanto as tunas não podem desprezar o seu conteúdo institucional e mais do que tudo, postura, atitude e valores. E essas máximas deverão existir em mensagens de 140 caracteres e (nunca ou) nos "discursos" de académicos.

Acontece tanta vez (demasiada!) aos os grupos esquecerem-se desses valores. E aí assim deveria incidir a nossa preocupação e não no tamanho ou forma de chegar aos "outros".

Mais para mais, numa época de tweets - geração 2.0 a seguir aos SMS - é necessário estar sincronizado com os mais novos: são eles o futuro das nossas tunas.

Nas grandes cidades, com tanta oferta de Tunas e outros grupos académicas, é necessário um pouco de marketing. Sim é preciso! Assuma-se. Para que o futuro enquanto grupo exista. Por muitos que entrem, a selecção natural acaba por se mostrar. Ficam os melhores.

Quando temos 17/18 anos e entramos numa universidade não conhecemos o mundo, não experimentamos a Tuna, o outro grupo académica e o Coro Universitário para decidir a qual queremos pertencer. Acabamos sim por ir e ficar (alguns) naquele que desperta mais interesse no primeiro contacto. E é aqui que entram os 140 caracteres: rápidos e eficientes (se devidamente contextualizados).

Em forma de 140 caracteres deixo-te isto:
(peço desculpa pela publicidade!)

"TUIST com História, Dinamismo, Inovação, Visibilidade, Musicalidade e Reconhecimento. Vem conhecer-nos em www.tuist.net."
Boas, grande VCP!!!

Evidentemente que te entendo e te dou razão, aliás, eu refiro precisamente isso na "aventura" acima, se reparares. Há que nos adaptarmos aos tempos, logicamente. Mas como sabes perfeitamente, eu sempre priorizei o conteúdo face ao soundbyte, talvez proque quem investiga, procura saber mais, esgravata nos baús da memória lida até com papel centenário se for caso. Enfim, ninguém é perfeito :))))

Mas é evidente que entendo o que dizes.

Abraços e obrigado pela tua pertinente intervenção e claro que a publicidade é "autorizada"...LOLLLLL

Abraços à malta!!!!!!!
Compreendo que a questão do conteúdo seja importante, nem que seja para uma contextualização do que estamos naquele preciso momento a ver.

Concordo com que o VCP disse: é preciso chegar às novas gerações. E as novas gerações funcionam assim. Lêem tudo na diagonal (quando lêem) e interessam-se mais pelos "bonecos" do que propriamente pelas "legendas".

Se calhar somos nós que nos temos de adequar e produzir "bonecos" que transmitam o que esta escrito nas legendas.

Talvez não sejam as novas gerações que não nos entendam... somos nós que não nos fazemos entender.

Um abraço.

PS: e nada de dizer mal do marketing ;)
É curioso falar-se nisto precisamente numa altura em que se encontram alguns a escrever um livro precisamente sobre a Tuna Portuguesa de carácter universitário, a 1ª obra de facto sobre a matéria em concreto resultante de pesquisa de anos. Tenho para mim que, mormente o factor surpresa - como se diz agora - ou de inédito que o mesmo trabalho possuí, é fundamental o cuidado com que mensagem deve ser passada. Por outro lado, como compreenderão e no âmbito de uma obra desta natureza, torna-se quase inviável enfiar - e passo a expressão - o Rossio na Betesga, sob pena de o trabalho, no seu objectivo final, acabar por ser inóquo ou mesmo inutil. Tratando-se de um livro, logo à partida já é por si só - e sabemos disso - algo que não se coaduna - paradoxalmente - com os (poucos) hábitos de leitura nacionais. Duvido que uma edição online aumente exponencialmente a sua leitura, por exemplo, o que não deixa de ser curioso.

Nada tenho contra o marketing tunante, note-se, aliás, defendo o seu aproveitamento em razão de matéria, com cabeça, tronco e membros e preferencialmente, peso e medida, para lá de alguma irreverência. O que quis ilustrar acima foi o real perigo, daqui a 50 ou 100 anos, que pode constituir um estudo mais detalhado e cientifico sobre a Tuna portuguesa hoje, curiosamente com imenso material face ao passado - sem comparação possivel - mas inversamente pobre de conteúdo - por força da força (passo a redundância) da necessidade em se chegar depressa, rápido e eficazmente à "malta" de hoje que gravita no meio tunante e/ou estudantil.

Abraços!