A Aventura do Burlesco Tunante....

Tema recorrente, de facto. Sem qualquer dúvida. Prova cabal e inequívoca da sua pertinência; se o mesmo fosse despiciente morreria no segundo seguinte ao que foi despoletado. E é precisamente por essa razão que, mais uma vez, cá estamos a falar sobre este tema tão sensível quanto revelador do actual estado geral em que o fenómeno se encontra.

1ª Constatação: se o assunto fosse por si só um disparate ele não se colocava hoje e/ou ciclicamente. Curiosamente, de cada vez que se coloca mais força ganha a sua razão em ser colocado.Coloca-se hoje - e outra vez, pela enésima vez - porquê? Bom, coloca-se novamente porque é insensato ou despreocupado quem acha que o mesmo não tem razão de ser colocado. Ninguém debate um assunto em concreto, tenha a opinião sobre ele que tenha, se o mesmo não lhe merecer pelo menos razão de ser, pertinente portanto.

Vejamos a garrafa agora meia-vazia: a quem não interessa colocar este assunto à tona? Na versão da garrafa meia-cheia, a quem interessa - novamente - colocar o assunto? Por si só estas duas visões da mesma garrafa atestam, desde logo, a importância - e o medo de alguns - em que o tema renasça ciclicamente. É óbvio.Por força do atrás dito, concluí-se sem grande dificuldade que há quem não queira ver este assunto debatido. Porquê?

Uns por "Nacional Porreirismo" (modalidade olímpica nascida em Portugal) que se traduz num sempre psicadélico por despreocupado "i´m free to do what i want any old time" tão bem "rasgado" pelos Rolling Stones, essa grande Tuna britânica. Outros por manifesto cagaço interesseiro que se traduz brilhantemente num tema do saudoso Tony de Matos intitulado "Só nós dois é que sabemos", quase que a dizer que os outros trezentos e pico não sabem coisa nenhuma e andam todos a nanar e por isso, vai daí, vale tudo em palco ou fora dele.

Ou seja, entre um "I´m free" e um "Só nós dois é que sabemos", apetece-me logo cantar a "Queda do Império" do não menos grande Vitorino, pois entre uns e outros, sobre Tunas só mesmo perguntando ao vento, que o que os outros dizem e escrevem de nada vale. Uma paródia vanguardista, basicamente, que se sintetiza no tema "black or white" cantado por Michael Jackson que, como todos sabemos, é o paradigma da coerência entre o branco e o negro, politicamente correcto nos tempos em que corremos, note-se.

Cruzando com esta noção acima que, com expressões e razões distintas apenas se limita a tentar justificar o injustificável, temos uma verdade incontornável a sustentar a mesma: a espontaneidade do fenómeno Tunante, noção de sempre - ainda que em dadas alturas o fenómeno sobreviveu por força da falta dessa mesma espontaneidade, numa excepção à regra: Nos tempos do Franquismo, por exemplo, de onde nós, tunas portuguesas, fomos beber tantas coisas, como por exemplo os símbolos na Capa. Será investigar, portanto, que é o que se costuma fazer quando nada se sabe, como fiz e faço, admitindo desde logo a minha ignorância sobre a matéria que procuro contrariar diariamente.

Como antes achava hoje continuo a achar. Uma associação/federação entre Tunas - sejam elas 5, 50 ou 500 - é tão voluntarista quanto justificável e por isso, mais que viável, haja quem assim o queira fazer. Se não foi feita até hoje 1º) isso não significa que não aconteça e 2º) porque provavelmente não temos pernas ainda para dar tamanho passo. Será, pois, questão de tempo, mais do que propriamente vontade. Agora, que a mesma é um imperativo - e se até hoje não existe a mesma e as coisas caminham para um cenário caótico e de completa bandalheira - tal é um facto inegável, ultrapassados que estejam alguns pontos quentes para entendimentos mais abrangentes. Quem não alinhar fica como está, entregue a si mesmo, parece-me pacífico e legítimo até por parte de quem não se queira alinhar e nem sequer é isso importante neste contexto. O importante neste futuro cenário será observar-se o que ocorrerá por parte daqueles que vêm neste possivel entendimento uma clara ameaça ao seu modus facienti; como eu os compreendo, pois é caso para recear de facto.

A espontaneidade do fenómeno Tunante não é a mesma coisa que permissividade tunante ou uma espécie de "laissez faire"; são conceitos distintos entre si, porque a espontaneidade de sempre do fenómeno tunante nunca serviu para justificar o injustificável. Espontaneidade por força de se ser Tuno (e com tudo o que isso abarca) e não espontaneidade para desatar a provocar, chocar por chocar, vestir e calçar o que bem se entende e por aí fora. Isso não é espontaneidade, isso é parvoíce e em alguns casos, calculada e pensada para atingir um objectivo apenas: publicidade - e sendo esta cara hoje em dia, já nem se coloca a questão se negativa ou positiva, desde que exista e provoque reacção, seja ela X ou Y. Ou seja, um fenómeno onde se inserem claramente exemplos como o Zé Cabra ou o Tino de Rans, apenas para citar alguns entre muitos - e se me lembrei destes é sinal que a publicidade chocante funciona.

O que é deveras chocante é a tremenda contradição a que assiste neste meio peculiar: Sendo estudantes universitários, chegados à Tuna Universitária o comportamento geral é de alergia ao conhecimento tunante. Pois, já sei, o meio é espontaneamente inculto, sim, pois, claro, of course. Ou seja, entre o atrás dito e o Zé Cabra não há grandes diferenças, vamos convir. "É pá, até é giro, a malta ri-se bué": outra modalidade olimpicamente "tuga" que consiste no facto de se colocar um bom actor a cantar mal, um bom futebolista a passar modelos sofrivelmente ou um bom político a contar de forma fraca e sem graça alguma anedotas – E consta que o Tino de Rans era e é um excelente calceteiro.

Ou seja, esta noção de que qualquer um pode ser o que quiser (julgando que) com sucesso quando se acaba de perder, ates sim, um bom profissional na sua área para se "ganhar" um péssimo “outra coisa qualquer”. É a chamada "interdisciplinaridade" dos tempos modernos que faz com que Darwin deixe de ser, num ápice, quem foi e passe a ser um desgraçado qualquer sem importância, portanto.

Depois, nesta equação errada à nascença, entroniza-se e desculpabiliza-se até o burlesco paratunante colocando logo de imediato o rótulo conservador - esse sim, bem conservador o que no meio de tanta "espontaneidade" não deixa de ser grotesco - a quem é tunante e tradicionalmente competente. Coisa maniqueísta que, se colocada ao contrário, faria todo o sentido. Mas não, "os gajos até são engraçados, free to do what they want! Não sejam caretas, pá, cambada de energúmenos que tem a mania que sabem destas coisas das Tunas!!". É uma maçada, saber-se, investigar-se. Quase criminoso! Aguardo a minha medida de coacção, preferindo a da moda - apresentação periódica na esquadra da residência…

Bom, não vos maço mais pois até para estudantes universitários acho que já me estiquei em demasia (ou “bué” como se diz agora de forma espontânea). Acontece é que com tanta evidência à frente dos olhos, só não vê quem não quer realmente ver. Uma Tuna universitária não é a mesma coisa que um grupo de estudantes da mesma universidade vestidos da mesma maneira e que tocam umas coisas. Não é. Isto é um facto, não é uma opinião. Até eu que nada sei destas coisas de Tunas percebi isso a seu tempo, com estudo e investigação sobre o tema. Mas admito que haja quem sem ler uma linha saiba muito mais do que eu sobre estas coisas; Quando for grande quero ser assim, como o Zé Cabra…

Comentários

J.Pierre Silva disse…
No meio disto tudo, é caricato verificar-se a quantidade de gente que tanto se parece com os cromos do programa "ìdolos" - aqueles que mesmo depois da triste figura que fazem e de serem confrontados com a sua ignorância e falta de qualidade, ainda saem convencidos que todos estão errados menos eles.

Na nossa comunidade temos muito disso, infelizmente.