A Aventura da Tunoética

Esta "Aventura" já se encontrava na "calha" faz uns tempos largos, derivado de um pequeno "estudo" de campo entretanto realizado, por um lado, e a várias experiências conhecidas e relatadas, por outro. Tudo isto se justifica num plano mais elevado e que agora, em vésperas de mais um recomeço da época tunante parece ser uma excelente altura para tal.

Entendi chamar-lhe de Tunoética por força maior da co-relação quase de ADN entre o Tuno e uma certa Ética que a ele lhe é intrínseca por natureza e que até define aquele que se diz Tuno daquele que se veste apenas como tal por fora - e não por dentro. Por oposição, trata-se de matéria que nada diz aqueles a quem passa a mesma completamente ao lado.

Tunoética serve para enquadrar comportamentos, posturas, isto de uma forma geral, que moldam o carácter e forma de Ser, Estar de cada um de nós num meio social muito peculiar, sui generis e único por tradicional. É, por exemplo, Tunoético num certame de Tunas atribuir-se prémios de participação, que mais não são que um agradecimento feito por quem organizou à boa vontade, disponibilidade e participação dos seus convidados, engrandecendo assim o seu próprio evento por um lado e a imagem geral de todos, numa derradeira análise. Aliás, a noção competitivo-festivaleira em que caímos faz com que a Tunoética presente no prémio de participação se dilua completamente por oposição à premiação do mero talento musical, por exemplo, se repararmos com propriedade. Mais, não há prémio mais Tunoeticamente correcto do que o de participação; em tempos foi o de Tuna mais Tuna (até lhe atribuirem outro significado...) e hoje até há certames que se "esquecem" pura e simplesmente de lembrar os seus convidados com o tal dito cujo prémio de participação. É este quase tão desprezado quanto Tunoeticamente importante.

Tome-se um exemplo onde a Tunoética se revela com maior destaque e importância, quer pela sua presença, quer pela sua ausência: os certames. Ora, sendo estes momentos de completa interacção entre vários agentes tunantes, a sua importância assume contornos permanentes ao longo de todos os actos do evento, sendo estes quais sejam, sem dúvida. Sendo certo que - e por força de um ambiente exageradamente competitivo que torna mais viva a presença ou ausência dessa tal Tunoética - o certame, pela sua natureza até, deve manter niveis Tunoeticamente equilibrados, procurando valorizar o que realmente tem valor tunante e desvalorizar certos aspectos que podem toldar as mentes mais incautas. Tratando-se antes de mais de um evento tunante, é tunoético salvaguardar aquilo que é de Tuna e não aquilo que não o é de todo. Evidente que muito mais nestas matérias haverá a dizer; entre os exageros de uma teoria da conspiração e um laissez faire tão em moda existe um sem número de situações que obviamente engrossam a babilónia de coisas que podem ser vistas de vários prismas tunoeticamente falando.

Ainda recentemente recusei - como já o fiz algumas vezes, note-se - compôr um Jurado por manifesta ética tunante e sei não ser o único, felizmente, a declinar situações onde claramente se pode, sem necessidade alguma, colocar em causa algo mesmo que ciente da minha imparcialidade. Mas não basta ser, há que parecer. Se queremos melhorar, progredir, todos, cada um na sua esfera de acção, em prol do todo, temos de vez em quando de ser conscientes de que se pode, facilmente, deixar no ar alguma coisa que mesmo não correspondendo de todo à verdade pode parecer, pelo menos, nada ter a ver com essa mesma verdade mesmo que visto aos olhos de outros, mesmo que cientes da nossa verticalidade. Bem sabemos que para uns a garrafa está meia-cheia e para outros a mesma meia-vazia está. Até por isso mesmo é fulcral ter-se essa tal noção de tunoética. Vêm aí muitos certames e seria importante que os seus organizadores não cometessem pecados capitais nestas matérias. Como seria importante que os seus convidados tivessem em mente essa mesma tunoética, sem dúvida alguma. O que por vezes se vê é muita exigência a terceiros e nenhuma cautela para com os mesmos.

Sendo prático: Não é Tunoético fazer de conta que não há critérios de avaliação, não é tunoético ter-se num jurado pessoas néscias e estranhas no metier, não é tunoético faltar-se aos actos de um evento e só aparecer em palco e pouco mais, não é tunoético transforma-se um festival de tunas num qualquer circo, não é tunoético achar-se que "isto-é-uma-grande-festa-e-que-se-lixe-o-resto", não é tunoético fazer uma coisa quando nos propomos de véspera fazer outra.

Em sentido oposto, é tunoético convidar-se Tunas para festivais...de Tunas (pasme-se a redondância...) , é tunoético desclassificar se for caso, é tunoético não atribuir prémios, é tunoético ser-se e parecer-se sério, é tunoético uma participação linear das tunas convidadas, é tunoético que se seja e se pareça ser o que se diz ser. Depois, entre o "diz-que-disse", as rivalidades de ocasião e os factos concretos é que sobra alguma coisa de positivo nos eventos que vamos realizando e neles participando. E o que sobra é que vai determinar o grau de respeitabilidade, tunoeticamente falando, do que somos e fazemos, para o futuro. Por estas e por outras é que há, p.ex., para aí muita "tenda armada" travestida de certame de tunas e distintos eventos tunantes de reconhecido mérito e valor e logo, tunoeticamente validados por todos.

A Tunoética deve ser transversal a tudo o que fazemos e somos de facto. Tirando maus entendidos, conversas de treta e afins, volta e meia percebe-se claramente que há quem por aqui ande sem o mínimo de tunoética. Como não dou para peditórios de indigentes escuso-me a falar em casos concretos de manifesta falta de tunoética. Prefiro profilaticamente abordar a noção geral que cabe a qualquer Tuno digno desse epiteto e que se esforça, pelo menos, em ser tunoeticamente competente.

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