A Aventura da Reportagem Possivel...

Um dia destes ainda vamos ler uma reportagem assim……


A festa começou com o tradicional atraso académico – aqui a Tradição ainda é o que era, curiosamente - ainda durante a tarde de sexta-feira, com a recepção das tunas participantes que lá iam chegando às “pinguinhas” , e entenda-se “às pinguinhas” dois ou três mas de cada e mesma Tuna e não “às pinguinhas” tuna a tuna. A bica de cerveja colocada à porta da sede da Tuna organizadora começava assim a trabalhar, embora com meia dúzia de participantes. Festa é festa!

A recepção na Câmara Municipal, acto constante do programa do evento e marcada para as 6 da tarde, agendada há mais de um ano, teve por isso a participação de uma Tuna inteira que veio do estrangeiro – logo, chegou mais cedo e, naturalmente, já lá estava em peso – três tunos da Tuna X e um Tuno perdido da Y que entrou no Salão Nobre da Câmara Municipal a perguntar onde era a bica de cerveja.

O Exmº Sr. Presidente, juntamente com a Tuna Organizadora – ou seja, 4 elementos desta – após breves palavras de Boas Vindas às Tunas presentes no Festival – que não ali – entregou – e das cinco medalhas expostas na Mesa da Presidência, apenas duas, já que o Tuno que tinha perguntado pela bica de cerveja entretanto saíra do Salão Nobre dos Paços do Concelho, sobrando por isso 3 medalhas. Acto contínuo, a única Tuna realmente presente tocou a “Madalena” juntamente com os 3 Tunos da Tuna X, sendo que a presenciar estavam cerca de 60 funcionários do município, juntamente com o Exmº Sr. Presidente e Vereador da Cultura – que entretanto atendia o telemóvel.

Saídos dos paços do Concelho, estavam à porta deste cerca de 3 tunas a dois terços ou menos e o bacano da Tuna Y que antes se tinha enganado na porta, a beber uma “jola” fresquinha. A coisa começa-se a compôr então com a chegada de mais 4 elementos da Tuna organizadora, perfazendo já o fantástico número de 8 organizadores. As guias andavam entretanto perdidas a tentar encontrar o caminho para a Câmara Municipal.

Chegou a hora do jantar que decorreu num espaço fantástico que proporcionou um ambiente agradável a quem esteve presente. Já se notava mais Tunos a chegar e as mesmas lá se iam compondo, à excepção do Tuno da Y que lá continuava sozinho, com uma cerveja na mão esquerda e outra na orelha a telefonar. Tocaram-se umas modinhas tunantes à medida que se ia jantando até que a dado momento entra a Tuna Y em peso que, com a sua famosa sirene já conhecida de vários festivais anteriores, literalmente abafou tudo e todos os que tocavam música com instrumentos de cordas, começando ali um autêntico “forrobodó” que fazia lembrar a saída de uma fábrica mas durante meia-hora seguida. Uma festa outra vez, onde se conviveu imenso entre todos apesar de muitos Tunos terem desatado aos berros uns com os outros para poderem conversar, por força da sirene, o que é de lamentar pois incomodativo para a sirene.

Com uma assistência de cerca de 700 pessoas, que criaram um ambiente fantástico e acolhedor no Teatro, iniciou-se então o espectáculo com o respectivo atraso académico e mais uma hora em cima pelo menos, dado que alguns Tunos tinham entretanto visitado as urgências para tomar Tylenol face ao zumbido constante nos ouvidos provocado, claro está, pelos instrumentos de cordas. De referir que a sirene tinha parado o seu magnífico e pertinente espectáculo no refeitório imediatamente após a saída da Tuna organizadora, uma coincidência, claro está.

Inicia-se então a noite com uma apresentação em vídeo que fazia adivinhar o resto da noite, pelas gargalhadas que provocou, embora o som estivesse adiantado face às imagens cerca de 10 segundos, coisa pouca. E a festa continua!!!

A Tuna H inicia assim a vertente competitiva do festival. Com cerca de 20 elementos em palco, apenas 4 calçavam sapatos pretos e 16 apresentaram-se descalços, motivando da parte do Jurado penalização pelos 4 tunos indevidamente calçados pois fora do contexto estavam, Jurado esse composto por cerca de 20 elementos entre tunos, Vereador da Cultura (que continuava ao telemóvel…), duas senhoras da Climex, 3 caloiros lá metidos à força e um ex-Tuno que tinha estado no jantar e na urgência a seguir, mantendo-se o zumbido ao longo de todo o espectáculo. Jurado este, pois, mais que competente, equilibradíssimo quer em quantidade mas sobretudo em qualidade, garantia desde logo de total competência, a ver pela quantidade de papeis que tinham aos pés, onde permaneceram todo o espectáculo, tirando aqueles Jurados que se levantaram apenas 2 ou 3 vezes durante o certame e o Vereador da Cultura – que entretanto se tornara accionista de referência da TMN.

Uma actuação bastante coerente da Tuna H, começando com um espectáculo de veryligth´s vindo directamente de uma empresa de pirotecnia da Póvoa do Lanhoso – propriedade do tio do Magister - com bons arranjos luminotécnicos, seguido de uma colossal demonstração de mini-trampolim – um medley que reuniu vários movimentos conhecidos do público – bem executado e criativo, que galvanizou o Jurado menos o Sr. Vereador. Seguiram-se dois temas para os solistas mostrarem os seus dotes: “A minha Sogra é um Boi” - um original dos Mata Ratos – e “Pussy” – dos Ramstein, uma serenata segundo a Tuna H.
Terminaram a sua actuação com o seu hino tocado em sampler intitulado “The Nigthtrain” – uma cover do tema dos Underground Sound of Lisbon - animado e bem elaborado.

A Tuna J foi a segunda tuna a concurso, com muito apoio da sua claque vinda expressamente de expresso desde a sua cidade, com cerca de 350 claqueiros (6 autocarros e meio), metade da sala portanto. Abriram a sua actuação com um vídeo original onde se visualizou uma grande demonstração dos seus pandeiretas que viriam a arrecadar o respectivo prémio. Seguiu-se outro original, uma encenação teatral onde cada um dos Tunos recreava uma flor diferente de um jardim, num diálogo em quadras. Como instrumental trouxeram um DJ de Hip Hop que incluiu a batida e a Tuna cantarolava por cima com sotaque crioulo, nuns bonitos arranjos e com bonitos pormenores de harpa eléctrica. A cada pausa desta Tuna os 6 autocarros e meio fizeram-se sentir e não raras vezes o Jurado se virava para trás com olhar intimidado, levando a uma ou outra passagem de Voltaren por alguns dos doutos pescoços.

Seguiu-se a Tuna Y, com cerca de 9 elementos, cuja actuação foi totalmente imperceptível pois a sirene tinha avariado em modo On, sendo que o Jurado, diligentemente, referenciou no final o acto estóico desta Tuna ao permanecer em palco mesmo com a sirene a abafar a actuação de 25 minutos. Ainda assim, percebeu-se a actuação desta Tuna mesmo sem qualquer som, facto que lhe valeu o prémio para a melhor musicalidade do evento, para lá do inesperado Tuna + Tuna, claro está.

Sobe a seguir a palco a Tuna Z que vinda do estrangeiro e tendo estado na recepção na Câmara da parte da tarde em peso, foi desclassificada liminarmente pelo Jurado por cantar e tocar em estrangeiro durante 25 minutos.

A última tuna a concurso foi a Tuna X, com cerca de 20 elementos devidamente trajados. Abriram a actuação com um bonito tema acapella num arranjo a 4 vozes. Seguiu-se o tema instrumental com um bom desempenho técnico dos seus bandolinistas e restante Tuna. O 3º tema, original, com brilhantes arranjos vocais e instrumentais, mostrou em simultâneo dois solistas afinados e com bom timbre e projecção de voz. Terminou a sua actuação dentro do tempo regulamentar com mais um tema complexo vocal e instrumentalmente, onde as suas pandeiretas dentro do ritmo mostraram coreografias arrojadas e inovadoras, bem como o seu estandarte de dupla face devidamente enquadrado no tema e na coreografia dos pandeiretas. Uma actuação equilibrada e alegre que o Jurado, no final, não considerou porque e cito “cada um a cantar para o seu lado, os da esquerda a cantar uma coisa, os do meio outra e os da direita outra diferente!!!???”,Onde é que já se viu isto??? Pandeiretas aos saltos no ritmo???” , “que pobrezinho, nem um descalço estava…” ou ainda “ sete bandolins cada um a tocar uma musica diferente ao mesmo tempo!!???! Muito mau!!!” ou finalmente “ todos vestidos da mesma maneira, de preto ainda por cima…”. O Sr. Vereador apenas comentou “ não reparei, era muita música e pouca javardice visual…” isto no intervalo entre duas chamadas.

Enquanto o jurado deliberava, esteve em palco a tuna anfitriã que presenteou o público com alguns dos seus temas para alegria dos seus familiares, amigos e seguidores, agora mais compostinha do que estava de tarde. Entretanto finalmente chegara ao teatro uma guia da Tuna Y que não era vista desde a semana passada.

Chegada a hora da entrega de prémios, o júri constituído pelos 20 elementos acima descritos, decidiu e cita-se “com total imparcialidade, isenção e no estrito cumprimento dos critérios avaliativos” (que estavam ainda aos pés dos respectivos lugares por eles ocupados no camarote 125):

Melhor Instrumental – Tuna Y (pelo magnífico espectáculo proporcionado pela Sirene)

Melhor Pandeireta – Tuna J

Melhor Porta-estandarte – Tuna H (pelo manejo irrepreensível e original dos veryligth´s)

Melhor Solista – Tuna H (pela fabulosa interpretação da Serenata “A minha Sogra é um Boi”)

Melhor Musicalidade: Tuna Y (pelo minimalismo musical conseguido)

Tuna + Tuna (atribuído pela organização) – Tuna Y (pela espontânea e reconhecida animação do jantar)

Melhor Tuna: Tuna J

O espectáculo encerrou com o tema da noite ”A Minha Sogra é um Boi” com o palco cheio com todos os elementos de todas as tunas – menos a Y ainda ás voltas com a sirene no átrio do teatro.... - e júri – menos o Sr. Vereador e com destaque para a performance das Srªs da Climex - e com o público a acompanhar os berros tão característicos do tema, nomeadamente 350 pessoas do público perfeitamente ao calhas e de forma completamente espontanea.

Os parabéns à Tuna organizadora por um grande festival e a – quase - todas as tunas convidadas pela grande festa proporcionada a todos os presentes -mormente a incredulidade dos ausentes....

Comentários

Eduardo disse…
Meu caro:

protesto pelo irrealismo da reportagem. Este cenário nunca seria possível num festival do nosso país. Francamente, deves estar a gozar com a tropa.

Onde já se viu uma tuna sem gajos descalços, devidamente trajada, com estandarte e pandeiretas, NÃO TER SIDO LIMINARMENTE DESCLASSIFICADA, tendo conseguido chegar ao palco?

É por estas e por outras... quase me apetece cancelar a assinatura do teu blogue. Vou falar com o Vereador para ver o que me aconselha: deixa só o telemóvel dele deixar de dar sinal de ocupado, que tu vais ver.

Francamente.
J.Pierre Silva disse…
Esse não foi aquele festival onde uns certos tipos, conhecidos pela sua verticalidade e idoneidade, tidos como uma referência cósmica exigiram determinados prémios à organização, à partida, para concederem a honra de estarem presentes (mas que depois tiveram azar porque o júri não foi na conversa)?

hehehehehe

Muito bem!