A Aventura das Datas de Nascimento...

Regressando de umas mini-férias, já desde algum tempo que me surge uma questão que se prende com as datas de fundação de Tunas nacionais, sendo que e mais especificamente, a temática que se prende com a sua real nascença de facto versus o início da sua actividade. Não sendo uma questão dos dias de hoje, a mesma surge até por força de pesquisa num outro âmbito, onde, e na época do "boom" tunante, se me depararam algumas coisas que, digamos, não batem certo. E depois surge outra questão: e porque não batem certo?

Todos nós sabemos que - e provavelmente herdamos mais esta dos nossos amigos espanhoís - a necessidade de credibilização ou, se preferirem, de pretensa supremacia sobre as restantes começa, supostamente, pela antiguidade, pela data do B.I. Pessoalmente, acho isso uma perfeita baboseira porque por si só, a antiguidade não serve de atestado de integridade, bem fazer ou até mesmo de credibilidade. Pode ser, antes, a antiguidade mais um peso a atestar essas qualidades mas por si só, a antiguidade não basta. Fala-se em respeito, como se o respeito fosse algo que apenas dependesse da data de nascimento e não de mais factores que são mais importantes até. Mas adiante. O respeito só é válido pela antiguidade quando quem a invoca se dá ao mesmo respeito, está bom de ver.

Nos tempos do "boom" foi algo notório, essa procura de pedigree pelo B.I. , consequência do surgimento em catadupa e sequencial de Tunas atrás de Tunas. A paginas tantas já havia quem se arrogasse de uma tradição de dois anos e pico e comparando com a vizinha do lado, nada 3 dias depois, o que não deixa de ser caricato por anedótico. Por outro lado, muitas vezes a actividade de facto enquanto Tuna era anterior à data que a mesma Tuna refere como sendo a do seu nascimento porque - naturalmente - nessa época a preocupação não era documentar mas sim viver a Tuna, simplesmente; ora, a dada altura já algumas estavam em plena actividade e nem se lembravam da sua data correcta de fundação. Logo, apressaram-se a definir uma por força de um momento mais especial entretanto ocorrido - 1ª saída fora de portas, actuação no dia da Universidade, etc. Ou seja, constatei que em alguns casos, umas apontavam datas posteriores à sua real actividade, à falta de saber-se a de facto. Noutros casos constatei o oposto, ou seja, a procura de uma data anterior à que de facto marca de forma clara o seu início enquanto Tuna. Se no 1º caso se percebe pela tremenda rapidez dos dias e noites daqueles tempos, onde tudo era particular e densamente vivido a ponto de até se perceber que a data de fundação fora algures ano passado, já no 2º caso se constata uma outra atitude, a de retroactivar a data de fundação procurando quiçá nas figuras rupestres de Foz Côa um ícone que de forma cabal provasse que a sua Tuna datava de tão vestusta era. Coisa muito espanhola, curiosamente.

Que leva uma Tuna a retroactivar a sua real data fundacional? Deparei-me com várias situações distintas aqui; uns fazem-no porque esquecendo-se ou não conseguindo precisar, têm uma vaga ideia, optando por retroactivar a data à conversa de café tida algures no passado onde um iluminado perguntou "e se fizessemos uma Tuna?" e siga. Já outros retroactivam essa data fundacional com claro interesse subreptício, ou seja, procurar ser "mais antiga" do que a Tuna X ou Y em concreto ou, mais universalmente, procurando pré-justificar uma antiguidade que não detinham e/ou detêm. Outros casos há em que, começando com uma formação mista, a mesma se desdobra logo no ano seguinte e resulta em duas Tunas, a feminina e a Tuna, sendo que aqui, ao invés de correctamente marcarem a data de fundação como sendo a data em que surge cada uma das duas, não senhor, contam a data de fundação de uma tuna mista que....não existe. Há de tudo, como na farmácia. O caricato aqui é o que leva uma Tuna a procurar reescrever a sua própria história, pois se retroactiva a sua data de fundação será porventura por alguma razão; ora, tendo as Tunas nacionais grosso modo 20 anos, não me parece demasiado tempo para que alguém consiga esgravatar no baú das memórias os "ficheiros secretos" da sua Tuna que, afinal, tem mais 10 anos em cima porque 10 anos da data da sua fundação houve um primo do 1º Magister que então, no bar da Universidade, perguntou aos seus colegas de curso "E se formassemos uma cena musical assim toda gira?" .

Não é assunto grave, importante, digamos - e face à paródia dos dias de hoje com coisas, essas sim, bem mais graves. Mas não deixa de ser curioso que se consiga perceber que, mesmo com poucos anos, ainda tenha havido quem tivesse reescrito a sua própria história, a metro, com motivações que oscilam entre o despreendimento no documentar e um claro oportunismo com laivos de pretensa superioridade face ao vizinho do lado.

Fica a questão fulcral: Quando nasce de facto uma Tuna? Quando ela se apresenta como tal, a fazer o que uma Tuna faz, com regularidade suficiente para daí se aferir que estamos perante uma Tuna. Quando é que isso ocorre de facto? Bom, num estirador ou num tampo de mesa de café não será concerteza....

Qual a Tuna mais antiga do Mundo? Essa é uma questão cuja resposta daria para estar aqui até amanhã de manhã, pela sua contextualização histórica até, pano para mangas de outra colecção que se apresentará no próximo Outono. Em todo o caso, tuna universitária, com hierarquia, organização interna, propósito claramente definido, constância temporal na sua actividade e reconhecimento social e universitário, sem dúvida alguma é a Tuna Universitária Compostelhana.

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