A Aventura do Condominio Tunante...

O Sub-Director do "Diário Económico" Pedro Sousa Carvalho deixou esta semana no mesmo um artigo de opinião que pretendia reflectir sobre a actual situação económica europeia. O texto é muito bem "esgalhado" senão vejamos:

"Eu moro no 10º D e todos os meses tenho de pagar o condominio. Cada morador do meu prédio paga consoante a sua fracção. Quem vive na penthouse paga logicamente mais do que quem vive num modesto primeiro andar. Era um condomínio tranquilo e com boa vizinhança. Até um dia em que o vizinho do 2º B teve uma brilhante ideia de mandar abaixo uma coluna no meio da sala para, segundo ele, ter uma maior sensação de espaço. Não lhe passou pela cabeça que a coluna que lhe atravancava a sala fazia parte do pilar e da estrutura do prédio que ficou, naturalmente, danificada....(fim de citação).

Deixando de lado a analogia face ao actual cenário económico europeu, esta história sobre um condomínio serve que nem uma luva a um outro condomínio, o das Tunas nacionais. Neste enorme condomínio tunante português, de penthouses chiques até aos T0 com kitchenette, condomínio este sem qualquer tipo de administração, ou seja, ao sabor do vento e das vontades de cada condómino, muitos destes últimos mandam abaixo com inusitada frequência pilares ou colunas que sustentam todo o prédio tunante, ora porque precisam de espaço, ora porque lhes apetece, ora por razão nenhuma e a torto e a direito, simplesmente porque julgando-se na sua fracção tudo o que nela façam é só a ela que lhe diz respeito, esquecendo-se de que não é de todo assim. 

No imenso condomínio tunante nacional, onde cada fracção e respectivo condómino já por si coloca o chão como bem quer, ou pinta as paredes ou coloca papel, ou faz marquise ou deixa a varanda aberta  ou ainda em alguns casos lava a roupa suja no tanque sito à escadaria frontal do apartamento se for preciso, tudo já é por génese, uma imensa palete de vontades, convicções e posturas, até de educação. Mas dentro de casa é uma coisa; no que toca ao condomínio, ao bem comum, ao partilhado por e entre todos, a coisa piora significativamente. Drasticamente. Absurdamente.

Não há na esmagadora maioria dos apartamentos deste condomínio qualquer noção sobre e do mesmo. Trata-se apenas de tratar da sua vidinha, egoisticamente e o resto que se lixe. O que importa é que quando alguém veja o nosso apartamento ele seja o mais bonito, o melhor, o mais bem decorado, o mais in e por aí fora, do planeta, qual condomínio qual quê, nem que isso signifique derrubar uns bons pilares e colunas estruturais do prédio inteiro e com isso lixe a vidinha ao parceiro de cima, do lado e de baixo e preferencialmente ao mesmo tempo, para ser prático....

Neste aspecto, a tuna portuguesa é um caso de estudo único em todo o mundo, talvez até. Tão limpinha dentro de casa e tão javarda fora dela, numa espécie de "para quem é bacalhau basta", fazendo lembrar a razão porque  as casas de banho públicas estão sempre no estado em que estão e ao inverso a de cada um de nós cheira a "Água Lavanda de Tuy". Se calhar ao contrário seria bem mais simpático, a bem do condomínio. Porque razão não há o mesmo cuidado com o bem comum como o que temos connosco, na nossa casa?

Ás tantas porque não pagamos condomínio, porque é tudo à borla - entenda-se, fácil demais - porque não há gestão de condomínio, porque não há noção de condomínio. Só há a nossa casa e mais nada, à boa maneira de uma favela carioca. Se houvesse mais modestia e recato nos vicios privados talvez houvesse mais generosidade nas virtudes públicas e com isso, ganhavamos todos, ganhava a Tuna, esse imenso condomínio. Ainda há muitos que com uma picareta são capazes de pôr, em minutos, todos os condóminos em causa. Se calhar está na hora de os restantes condóminos, a cada batida de picareta, tocarem à campaínha do "iluminado" e dizerem-lhe um par de verdades....

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