A Aventura da Análise Sociológica do Certame de Tunas em Portugal

Recupero um texto da minha autoria, datado de Dezembro de 2005 e que analisa de forma mais profunda o contexto sociológico do certame de tunas em Portugal; 5 anos volvidos serve que nem uma luva....


I) Existem, no todo dos certames nacionais, vários "universos" interpretativos ou configurativos, consoante cada caso ou conjunto de casos, ou seja, não há uma uniformização não de regras mas antes de conceito de festival, sua assumpção clara e ordenamento pelo menos coerente (ao contrário do cenário espanhol que esmagadoramente opta por uma bitola clara e quase "sacramental", para lá de historicamente enraízada).


II) Deriva da noção acima a conclusão seguinte; existe uma clara segmentação dentro dos certames que ocorrem e que não se reporta ao facto de serem nacionais ou internacionais ou mais/menos antigos; i.é, os certames regra geral são reflexo directo da postura da tuna que os organiza e não reflexo de uma qualquer outra ordem de razões, concluíndo-se, por tal, que a certos certames somente vão certas tunas e assim sucessivamente. Se vista a segmentação de uma forma positivista sou de acordo, se vista de forma descriminatória não sou e essa visão deriva precisamente da postura de cada tuna organizadora.

III) Deriva do ponto II a conclusão evidente que uma dada Tuna mesmo que esteja numa sucessão vertiginosa de primeiros prémios para a Melhor Tuna (p.ex), a dado certame e precisamente pela sua atracção constante a este tipo de eventos tunantes e não outros, mais tarde ou mais cedo, verá essa sucessão de exitos quebrar-se. É natural que aconteça tal mas resta saber se por motivos naturais (uma actuação menos conseguida, por exemplo) ou por outros motivos que se prendem com o dito no ponto I, concluíndo-se por tal da validade cada vez mais preemente então do ponto II, ou seja, a segmentação dos certames.

IV) A segmentação de certames resulta da segmentação das tunas e não acontece esta por força do sucesso temporal, antes por força do desenrolar dos tempos (já há alguns anos de certames anuais que servem de aferição a esta conclusão prática); Alguns dos nossos certames contam já com 10 ou mais edições sucessivas, o que permite em alguns casos, aferir um certo "profile" de cada um dos mesmos. Se entendermos esses eventos como um fenómeno dinâmico e de aprendizagem continua dos organizadores no sentido de os melhorar na prática, então percebe-se claramente a assumpção de determinado perfil, o que nos leva à conclusão da segmentação também dos convites efectuados por cada organizador; uns chamam de "circuito fechado", outros chamam de "circuito por mérito", outros chamam ainda outras coisas. Partindo do princípio que todas as organizações querem supostamente as "musicalmente melhores" a dado momento, deduz-se então que nem sempre as "musicalmente melhores" estejam presentes em todos os eventos ditos grandes, para lá de outras questões colaterais que não interessam aqui abordar.

V) O tempo tem a vantagem enorme de refinar as coisas e de as melhorar neste campo, pelo menos em teoria. Com a cada vez maior e crescente postura de auto-critica dos organizadores começa-se agora, ao fim de uma década grosso modo, a apreender algo que não sendo uma regra, começa a configurar antes de mais uma postura de defesa da Tuna enquanto tal; Vários são os eventos que já trocam entre si critérios avaliativos, preâmbulos conceituais do evento, itens de avaliação e assim sucessivamente, respeitando sempre a autonomia organizativa e cultural de cada organizadora. Sou completamente a favor não de uma regulamentação geral mas antes de uma uniformização prévia de conceitos; Já ocorre e com resultados práticos muito bons, até para salvaguarda das organizações mas sobretudo, das Tunas sejam elas as participantes ou as restantes. E será graças a isso que a segmentação começa a fazer-se sentir, filtrando de forma mais correcta e fiel aos principios tunantes na defesa da Tuna em sentido lato.


VI) Conclúo por força dos pontos anteriores que a frase "diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és" ou então "diz-me a onde vais, dir-te-ei quem és" assume cada vez maior importância; Repito que falo de conceitos e não de pessoas.

VII) Parece cada vez inequívoco e claro que quando a tal uniformização prévia de conceitos tunantes aplicados a um certame competitivo de tunas ocorre, reduz-se a hipótese de conflitos posteriores face às premições atribuídas; se tal ocorre mesmo assim, estamos perante então a tal segmentação que urge fazer-se sempre, pela positiva.

VIII) É claro que a eficácia e provimento da uniformização previa de conceitos em sede de certame competitivo, por servir o todo do fenómeno, não serve definitivamente aqueles que não são parte do mesmo.

IX) Finalmente, conclúo que o caminho por alguns adoptado de salvaguarda dos certames e suas características inatas mais não é que a defesa dos valores Tunantes tradicionais e , por tal, com toda a lógica, mais valia natural e validade. Apenas peca por tardia acção mas resulta claro que não houve, até agora, capacidade para harmonizar sem regulamentar. Começa a haver. Já se nota os seus efeitos. E ainda bem. Agora, que cada um organize o seu certame como bem entender. E que cada uma vá onde bem entender e recuse ir quando bem entender.

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