A Aventura do “Conceito” de Tuna-Pop

Julgava ser um conceito mais definido, mais concreto e por isso, mais circunscrito a determinados especímenes, este conceito da Tuna-Pop. Mas pelos vistos estava algo enganado, pois o conceito é bem mais abrangente e abarca, afinal, de forma transversal, o mundo tuneril actual em Portugal, onde se consegue ver o inusitado e o bizarro, até…

Sempre julguei que nestas coisas tuneris – como no resto, também – a meritocracia detinha papel de destaque, não se descurando, obviamente, outras questões que não menos relevantes – como a decência, por exemplo. Afinal, não é bem assim, assumo a minha santa “ingenuidade”. Passo a explicar então:

Em amena cavaqueira com um ilustre Tuno deste rectângulo à beira-mar encalhado, perdão, plantado, eis que diz o meu interlocutor – e falando da constante repetição dos cartazes de alguns certames, que se repetem quer a si mesmos, quer entre eles – qualquer coisa como “isso acontece porque há tunas que vendem” (fim de citação).

Assalta-me, ao escutar tal afirmação e de imediato, um misto de espanto e em simultâneo, de clareza titânica, devo confessar. Mesmo tendo eu calçado os sapatos de organizador que fui durante muitos anos de um certame – e sabendo que há inúmeras premissas em causa nestas coisas – não deixei de denotar o óbvio – para lá de que os tempos mudam… – e praticamente inquestionável: Há de facto um conceito de Tuna-Popa que “vende” – por oposição a outra coisa qualquer que será tudo aquilo que não vende. Seria cómico até se não estivéssemos a falar de Tunas.

Como organizador que fui – e de muitos eventos – existiam então algumas premissas que eram cumpridas e conjugadas entre si, a saber-se:

De qualidade - no e fora de palco; de afinidade; de diversidade – de cidades e países; de oportunidade - reportando-se ao facto de se dar a mesma; de novidade e finalmente, de alguma sustentabilidade - aqui referindo-se a quantidade de público. Ou seja, era da combinação destes factores – num ano mais, no seguinte menos feliz e por aí fora – que surgiam os convites, sendo que o peso de cada um dos factores era obviamente diferente e de ano para ano, consoante a conjuntura. Este figurino era “usado” por muitas organizações então, com mais predominância deste ou daquele item a dado momento.

O que convém reter aqui é que vários itens ponderavam e não somente um. Hoje em dia, ao que parece, apenas um pondera e em alguns certames, curiosamente: a “rentabilidade” do produto tuna X. Curiosamente, essa capacidade de vender o produto tuna X faz com que esses produtos ditos de “vendáveis” à partida se repitam sucessivamente em alguns vários certames e ano após ano, o que nos conduz a algumas questões:

O que é então, na cabeça de alguns “vendável” ou "rentável"? Por oposição, o que é que não é, então, um produto tunerilmente vendável? A normal lógica – respeitando a total autonomia organizativa, devo notar, de quem convida – na escolha da composição do elenco de participantes foi substituída, então, por uma lógica de “rentabilidade tuneril”, nem que isso signifique até e se for caso abdicar de qualidade ao mesmo tempo que tal potencia a bilheteira?

Atrevo-me a algumas respostas. Sinais dos tempos que vivemos, sem dúvida alguma. Certames há que – com as suas escolhas estritamente dentro do conceito tuna-pop – apenas revelam algumas coisas curiosas mas ao mesmo tempo, perturbantes. A 1ª de todas é medo, medo de ferir um certo statuos quo; A 2ª é facilitismo, pois é muito mais simples montar a coisa igual ao ano anterior; a 3ª deriva da 2ª e é ignorância sobre o meio ou então deriva da 1ª, medo de conhecer de facto o meio. A 4ª resposta é dos livros: alguns acham que rentabilidades passadas constituem garantia de rentabilidades futuras, quando é precisamente o oposto.

Não há qualquer certame de tunas em Portugal que se possa dar ao luxo de pensar o seu cartaz exclusivamente pelo ponto de vista comercial, de rentabilidade pura e dura de bilheteira e esquecendo todo o resto. Mais, parece-me esta lógica de tuna-pop aquilo que os ingleses chamam de bullshit que apenas tem como consequência o panorama que se vê: nada de novo, só muda a edição. É que nem sequer a bilheteira se move por força disso, como alguns julgam crer.

Por outro lado, há outros vários certames que se estão nas tintas para lógicas de tuna-pop, como é fácil de aferir, e que hoje e cada vez mais dão particular ênfase a uma das premissas acima anunciadas: a afinidade. Entre pessoas, entre Tunas, entre companheiros e amigos. São aqueles cuja única preocupação é fazerem uma grande festa – e não uma festa grande. São, em suma, aqueles que mais genuinamente estão nestas coisas, afinal, o que realmente interessa. Urgia regressar-se ao essencial e banir-se o “comercial”.



Post Scriptum: Friso e reforço que cada um convida quem bem entende para sua casa, como é por demais evidente. Com tudo o que isso significa...

Comentários

Eduardo disse…
Esse conceito parece-me mais o de "tuna Xau"... ou "tchau", no caso.

Abraço!
Eduardo disse…
Eu ainda sou do tempo em que "Pop" era uma marca de detergente...

E assim por associação de detergentes - que, entre outras coisas, também branqueiam - se chegou à conclusão de que a "Tuna Pop" pode muito bem vir a ser o "Tchau à Tuna"...

Pop... Xau... Tchau... «capisce»?

Branquear as tradições, a memória, a história, as calinadas, as invencionices, as "evoluções"... eis o passatempo favorito de muito boa gente.

É ver qual dos dois lava mais branco...

Aquele abraço!
Pois,meu caro....pois!

Imaculada Aldeia da Roupa Branca e Santa Beatriz Costa, com a sua barra de sabão azul e água corrente!

Mas repito a frase final desta "Aventura": Cada organização sabe com que linhas é que se coze, pelo menos em teoria saberá. Depois, colhe o que semeou ou se preferirem, olha prá roupa no final e vê se está branco virginal ou então algo encardida....

Abraços!