A Aventura do “Maior da minha rua!”

Coisa tão colericamente “tuga”, diga-se. Comezinha, egocêntrica, uma espécie de complexo de Édipo tuneril mas com laivos de vitimização sistémica misturados com uma enorme soberba que ofusca a mais que normal e natural visão madura e o mais objectiva possível da realidade. A somar a isto tudo uma curta visão do mundo, que se confina, regra geral, à rua onde moram, sendo que tudo para lá dela é “território inimigo”, logo, um passo em frente no topete. Ou seja, mais ou menos o que se passa na Coreia do Norte onde o povo, por não conhecer mais nada e tal lhe ser até vedado, torna o que tem numa espécie de dogma religioso inabalável, seja por quem seja, até quando se lhes mostra que há mais para lá da fronteira sita ao paralelo 38º. Que melhor forma de manter as hostes do seu lado? Quando a escolha é entre X e nada, é fácil de ver o que acontece. Os poucos Norte Coreanos que sabem que há mais que X ou estão no exílio ou estão mortos…

Esta coisa do “maior da minha rua!” é comprovadamente uma táctica de guerrilha, de forma a por um lado, inflacionar o que não tem por onde – sem prejuízo do que bem porventura faz, e/ou mal – por força de um discurso obstinadamente do género “ou és desta rua ou estás contra esta rua! “ – como se porventura não se pudesse criticar/elogiar sem tomar partido de rua alguma porque, pasme-se, se mora numa praceta até – cuja única intenção é tentar impor pela força desse maniqueísmo a tal noção acima de que de facto sou o “maior da minha rua!” e ponto final. Quase que um atestado de impunidade, uma profissão de fé, um pedestal imaculado à critica seja de onde seja – o que não deixa de ser curioso nos dias de hoje, onde até o Papa Ratzinger admite (embora em situações especiais) o uso do preservativo, num anacronismo por demais óbvio. Por outro lado, esta táctica de guerrilha do parlapié é nada mais, nada menos do que o assumir das próprias fragilidades, pois caso oposto não necessitariam de um discurso belicista, deixando o fenómeno auto regular-se tranquilamente. Dá a impressão que o “Maior da minha rua!” não quer mais ninguém na sua rua, é o partido único e ponto final. Nada tuneril, diga-se.

É praticamente uma espécie de ditadura do “patuá”, do “parlapié”, onde tudo que seja dito contra o santíssimo “Maior da minha rua!” dá direito a queima amarrado a pelourinho, ou seja, criticar um milímetro é sinónimo de final tipo Joana D´Arc. Faz-se birra e tudo, como os putos do liceu, insulta-se até se for caso, e siga a histeria para a frente que “na minha rua é assim e mais nada!”. Seria até engraçado não fora tratar-se do meio tuneril, supostamente de gente com alguma – vá – elevação e educação, capaz de exercer o contraditório sem desatar aos berros. É como na Coreia do Norte, ignora-se tudo e todos, até o que está à frente dos olhos, desde que se tenha um discurso “musculado” e 1.000.000 soldados em armas a gritar pelo “Grande Líder”, que é o “Maior da minha rua!” lá do sitio, é bom de ver. Uma espécie de “ilha” no livre pensamento, isolada dele para assim não ser infectado pelas mais que naturais e óbvias vivências democráticas do resto do mundo, ou seja, das “outras ruas todas”. Claro que se foram ao Google Maps, ao procurarem a Coreia do Norte irão reparar que é a única nação que, “inteligentemente”, não mostra o seu mapa ao mundo. Esses sim, é que estão certos, os outros países todos, “cambada de burros que estão contra nós, é tudo para mandar abaixo!!!!!!”. Boa malha!!!

De facto, “O Maior da minha rua!” regra geral é um tipo Chico-esperto, que não percebe nada de nada sobre o essencial mas sabe todos os truques acerca de como berrar mais alto que todos os outros. Por via de regra, é sempre ele o “dono da bola” e dita por isso as regras dele: quem for por ele está nos tais 1.000.000 de correligionários – todos eles inteligentes e com Comenda de Gratidão dada pela Pátria; quem for um bocadinho que seja pela opinião que a sua própria consciência dita é um “traidor” a caminho da “execução” perante “pelotão de fuzilamento” legalmente composto pelo “Comité Central” lá da “rua” do “Maior”. Isto em pleno Século XXI não deixa de ter a sua piada, até. Já num meio universitário não tem rigorosamente piada nenhuma, pela tristeza que revela. Já no meio estritamente tuneril é definitivamente para servir de anedota geral. Ou seja, lá na rua a coisa é séria mas no plano toponímico da cidade é a chacota geral. Constata-se que os únicos inteligentes desta cidade moram todos, por obra Divina quiçá, na mesmíssima rua do “Maior!”: Esta nem o Hitler conseguiu, carago, tamanho o grau de pureza seleccionado!!!

Em suma, “o Maior da minha rua!” a manter-se neste registo autista e a não saber conviver com as outras ruas todas, fechando a sua nas extremidades e cortando a TV Cabo a toda a malta lá da rua, mais dia menos dia arrisca-se a deixar de ser o “Maior!” lá do sitio e depois passará inevitavelmente a ser, antes sim, o “Maior!”…do quarto dele. É que caso não se tenha reparado, vivemos todos no mesmo mundo, mesmo havendo quem pense que o “seu mundo”, a “sua rua” basta.

Sintetizo: O Mourinho é o “maior da rua dele”, da rua onde morou em Inglaterra e em Itália e provavelmente em Espanha. Em suma, é o maior das ruas todas. Mas ao Mourinho compreendo-lhe a arrogância – pese não concordar – ao dizer que é o “maior”. E porquê? Porque tem razões objectivas para isso. Já outros….


Post Scriptum: Dedicado a todos aqueles que sabem Estar e Ser neste mundo tão especial. É, se quiserem, uma "Aventura" aberta a todos aqueles que entendem as coisas de forma séria, saudável e objectiva.

Comentários

Tens de escrever textos mais curtos... é que demorei onze minutos a ler isto tudo :)

Abraços!
J.Pierre Silva disse…
Para bom entendedor, meia palavra basta.
Alguns irão assobiar pró lado fingindo não ser para eles, outros não perceberão, e outros ainda não terão como.

Mas que dizer, há construturores de bairos novos que constroem sem plano director municipal, sem alvará ou licença, e depois acusam tudo e todos de não serem tipos porreiros e fecharem os olhos.
outros ainda ficam tão deslumbrados com a sua ilha que chegam até a acusar a restante cidade de estar fora de prazo e de arquitectura ultrapassada e feia.

São dos que, depois, se atribuem os prémios em sede própria e se encarregam de publicar os seus proprios jornais para neles se poderem auto-elogiar, achando que o elogio em boca própria é fruto da opinião de todos.
Note-se que falo de questões meramente comportamentais, não de mais nada e em rigor. Para que conste.

Abraços!
OMEGA disse…
é, pá.
Como nos últimos tempos os meus interesses têm andado virados para outro lado, ao ler o texto, quase me parecia estares a falar do meu bastónário António Marinho e Pinto...
hehehehe