A Aventura do "Menage-a-trois"...

Denoto com particular desagrado - e alguma mágoa até - um facto incontornável : Uma vez mais, tive razão à posteriorí, o que não me serve de consolo sequer: às tantas, tinha de ser mesmo assim para que, hoje, se percebesse a real dimensão do que estamos aqui a tratar.

É e desde há uns anos a esta parte, uma "guerra" que tenho vindo a "travar", dentro da maior cordialidade e respeito por todos os intervenientes na mesma, devo realçar. Conclúo que, hoje, o estandarte das razões que alegava - e alego - oscila cada vez mais alto e não propriamente por força do vento mas antes de mãos, várias mãos - onde se incluem tunas também, refiro - que estão, paulatinamente, a cavar um fosso: 1º entre a Praxe e as tunas e depois - e o que considero infinitamente mais grave até - entre tunas.

É uma regra de 3 simples, resumindo, herdada do "boom": Praxe, Tunas e as suas casas "mãe". Enquanto funcionou, num triangulo das Bermudas sempre recordado com saudosismo (que não saudade...) e que, de certa forma - vamos convir - catapultou a tuna no seio universitário como mais uma manifestação da sua vivência, quer praxista, quer institucional. Como diria o outro, "porreiro, pá!". Neste triangulo, todos saíam a ganhar, com particular enfâse para a tuna, deve-se notar hoje com propriedade: A tuna era a "Guarda Pretoriana" da Praxe e da sua Universidade/Faculdade/Instituto. Todos a vangloriavam, todos berravam por ela nos certames "paroquiais" e internacionais, a Praxe respectiva orgulhava-se dos seus Heroís de Ultramar Tuneril que partindo pelas setes partidas do mundo "conquistavam" fama, glória e notoriedade para as suas Universidades/Faculdades/Institutos. Os Reitores, pró-reitores e demais Doutores dos Conselhos Directivos olhavam, então, para a tuna com a mesma candura que os padrinhos olham para os afilhados em dia de baptismo. Em suma, uma "América" de boa vontade, compreensão mútua e interesse tripartido, sim, que a tuna lá ia tendo apoios para festivais em versão mega, para gravar CD´s, para digressões ao Brasil "representando a sua Universidade", claro está e afins similares e/ou sucedâneos. Um Maná tipo IURD, abençoado por todas as partes envolvidas. Aleluia!

Todo este cenário criou a - falsa - sensação - de diluimento da Tuna quer na Praxe quer na instituição que a acolhia, não se percebendo muito bem quando começava uma coisa e terminava a outra. Lá se foram gerindo e auto-gerindo, pois o tempo das vacas gordas aconselhava à prudência com abstinência de afrontamento directo entre as partes. Afinal, se todos "ganhavam", para quê arranjar confusão? O "menage-a-trois" atrás discorrido era mais do que perfeito. Até ao dia em que o ciúme o desfez, porque o 3º participante continuou a "curtir" sozinho, não precisando do par que restou para atingir o orgasmo. Vicissitudes tuneris, que diabo, que "culpa" tem a tuna de se bastar sozinha, quer perante um mendigo, quer perante o mais faustoso dos Reis?

Os tempos correram como correram; a Universidade ganhou "juízo" e deixou-se de "menages" para poder tratar de outras coisas supostamente, para eles, mais sérias. Sobrou então um par, a tuna e a Praxe. Cientes ambos que nunca se deram nota de que a relação que tinham que só era possivel a três, em "menage". Passou a ser uma coisa mais "mainstream"; ora agora "beijo" eu, ora agora "beijas" tu, tu e mais eu. Ás tantas, o casal percebeu que a relação já não era a mesma, mais a tuna, porque a Praxe, sumariamente, à tuna pouco deu desde então, desde que o trio se desfez. Algo parecido com o que aconteceu ao FCP desde que o Alenitchev, Deco e Derlei deixaram de jogar juntos.

Não foi por desdem da tuna à Praxe, de todo; foi por manifesta desnecessidade da tuna face à Praxe; afinal, enchiam-se Coliseus, fazia-se o que bem se entendia, tinha-se organização interna própria, bastava-se a si mesma, com mais ou menos recursos. A Praxe, entretanto, começou a negociar à grande com "tubarões" que viam no Estudante em sentido lato um rico negócio, como o são as Queimas actuais e quejandos. Foi a escolha da praxe, na qual as tunas nada riscaram, sequer, muito pelo oposto até. Opção, portanto, da Praxe e só da Praxe. A Tuna, essa, seguiu o seu caminho, não obstante, sempre mesclado com a Praxe. Mas...quando se misturava com esta? Quando interessava à Tuna, à Praxe ou a ambas? A resposta a esta questão é óbvia: No palco da Queima tunas nem vê-las, antes os Silence 4, esses grandes estudantes e Praxistas de 1ª água, como todos sabemos.

Daí ao divórcio foi um ápice. Acontece que a tuna divorcia-se por desinteresse objectivo e não por afrontamento, ficando da Praxe "apenas" com o seu lado mais romântico, boémio e em estado mais puro. Dentro de si mesma; não precisa tuna alguma que a Praxe intervenha todo o santo dia, a tuna ela mesma trata - como tratou sempre - disso mesmo. Quando a Praxe percebeu que a tuna se desinteressou dela, que se bastava sozinha, que tinha 5.000 pessoas a aplaudi-la ao fim de 3 minutos e meio de música, o divórcio passou a ser litigioso passo a passo: Uma picardia aqui, uma regulação de poder paternal acolá, uma acção de execução acolí e assim por diante. Hoje, chegamos ao estado em que chegamos, onde aqui e acolá vemos factos, perfeitamente delimitados mas factos, de total imiscuir da Praxe na vida da tuna, na vida interna da tuna, na tuna estudantil enquanto tal. Pode dar tribunal e TVI à porta do mesmo.

O perigo actual não está em alguém querer arrogar-se dono da Torre dos Clérigos, de todo, cada tolo com a sua mania e nem vale a pena dar tempo de antena. O real problema aqui é só um: A divisão entre tunas que pode potenciar, a prazo, esta situação. Se tunas há que pura e simplesmente se riem de tudo isto e siga a vidinha, que aqui ninguém mete o bedelho, outras há que, pressionadas, ameaçadas ou aliciadas por esta ou aquela promessa, podem cair na suprema tentação de voltar a "curtir" com a Praxe mas pelas razões mais ignobeis - e não pelas mais puras, como tinha sido antes e ainda bem. Aqui, não culpo a Praxe, culpo as tunas que se prestam a esses papeís sem se aperceberem de que ao fazê-lo, é quase como aquele manfio que se vira prá vizinha e diz-lhe " é só mais esta vez, anda lá, filha, senão eu conto a cena ao bairro todo...." e anda "nisto" anos a fio.

Por respeito à Tuna em sentido lato mas essencialmente por respeito à Praxe, em sentido também lato, convençamo-nos definitivamente de uma coisa: esta "relação" só funciona por livre e expontânea vontade de ambos os intervenientes, caso oposto, dá granel. Friso nesta ocasião - e ao contrário do que dissemos anos a fio, assumo - a Tuna enquanto instituição NÃO nasce dentro das Universidades nem dentro da Praxe; estas ultimas é que a "convidaram" para um "menage-a-trois" e a Tuna então, alinhou. Daqui em diante, a relação é e só pode ser de cortezia, namoro mutuo, de romance, de boa vizinhança, respeitando-se mutuamente. Tudo o que não for nesta base vai dar confusão. E diz a História que a Tuna sobrevive a golpes de estado, monarquias, republicas, democracias, ditaduras e afins. Não me parece que, havendo hostilidade, a Tuna desapareça. Diz a História precisamente o oposto.


Apenas um alerta final: que algumas tunas - e dada a sua relação histórica de afinidade completa com a Praxe - não caíam na tentação suprema de ceder ao 1º prato de lentilhas que se lhes coloca à frente e muito menos que ceda a pressões venham de onde vierem para deixarem de ser o que são; reinventem-se, pois, se for caso. Salvaguardadas estão todas aquelas que, pela sua constituição genética, nada têm a explicar, ceder ou aceder para lá da sua própria vontade. E é aqui que - como tenho vindo a alertar desde há alguns anos a esta parte - que a tuna-instituição no modelo associativo ganha outra relevância.

Ao que julgo saber, más novas virão aí. Espero que não, sinceramente. Na certeza de que, se vierem, a Tuna vai sobreviver. Os outros é que já não sei, francamente, se, no final, sairão em branco virginal. Peço, pois, tranquilidade, ponderação e acima de tudo, inteligência. A todos. E que as tunas, sejam elas quais forem, não embarquem em aventuras desmesuradamente estereis.

Abraços!

Comentários

Unknown disse…
Parabéns pela Aventura.
Conheço essa história muito de perto. E sim, concordo, a desunião entre tunas é grande fonte deste divórcio. E sim, há muitas tunas que se vendem por um prato de lentilhas.
Um abraço de Coimbra.

Adémia (TMUC)