A Aventura das Aventuras Organizativas....

Na mesma "rádio" mas em sintonia distinta, ou seja, falando de certames mas agora de "cenas" reais, verídicas pois então, que são um "must" quer de riso, quer de alguma ponderação e reflexão....

Ao longo dos anos, e falando somente de certames competitivos, tive a honra e o gosto - pois prazer será necessariamente outra coisa... - de co-organizar 12 eventos desta natureza, sendo que e desde o 3º inclusive, os mesmos tiveram carácter internacional de facto (e não de nome apenas). Ou seja, tive(mos) de lidar com tunas quer portuguesas, quer espanholas, porto-riquenhas, peruanas e mexicanas, no caso. Em uma ou outra edição, estiveram até representados precisamente os 5 países acima, dando-lhe uma multitudinária visão do fenómeno, coisa rara nos dias de hoje, note-se. A diversidade de culturas numa mesma cultura, a Tuna, é deveras gratificante para todos.


Ora, evidentemente que ao longo desses 12 anos de trabalho que começava no dia a seguir ao final do certame e assim sucessivamente, muita coisa sucedeu, muito erro foi cometido e com eles se aprendeu, diminuindo assim a probabilidade de insucesso e, como não poderia deixar de ser, muita estória hilariante (mesmo que na altura algumas delas de engraçado nada tivessem tido...) existe para contar e partilhar. Será o que irei fazer de seguida, tanto quanto o Alzheimer (com o devido respeito) me permitir....


Recordo, neste momento, uma cena quase que diria, típica, e para quem lida com tunas estrangeiras, o famoso "roer da corda" em cima do acontecimento. Felizmente, em 12 anos, provavelmente só ocorreu tal umas 3 vezes, o que é - e atendendo ao panorama - uma média baixíssima.

Nesse ano, que não sei precisar, a Tuna X de uma cidade espanhola conhecida e que tem uma belíssima Plaza Mayor (para deixar umas 30 em cima da mesa....) tinha sido convidada e confirmara, então, com a antecedência costumeira - no máximo 4 meses antes já o cartaz estava fechado -a sua presença na edição do certame desse ano. So far, so good. Na época era fax pra lá e fax pra cá, por vezes um telefonema ou outro e mais nada, e a coisa resultava, asseguro-vos. A uma semana do certame recebemos um fax da dita cuja Tuna, assinado pelo seu Jefe de Tuna, com um bonito cabeçalho - nome da tuna, símbolo e afins - que nos dizia, em traços gerais, que infelizmente não poderia aceder ao convite, afinal, pelo facto do seu Reitor ter agendado para esse mesmo fim de semana uma actuação na sua Faculdade, o que os impedia de viajar até ao Porto. Bom, que remédio, lá tivemos de aceitar - já com cartazes, livretos e afins impressos - e life goes on. O espantoso é que, cerca de 2, 3 horas depois, se tanto, recebemos outro fax, da mesmíssima tuna em questão, com um bonito cabeçalho e blá blá blá - mas agora assinado por outro elemento que não o Magister - informando-nos que não poderiam estar presentes no certame em virtude de no fim de semana anterior alguns elementos da tuna terem tido e cito "um acidente de viação, o que levou à hospitalização de alguns deles e por tal, ser impossível poder viajar até ao Porto"....Bom, ao menos poderiam ter combinado melhor a "cena", de tão mal feitinha que foi. Excesso de "zelo", vá; a maioria nem diz nada, estes deram duas respostas!


Noutra edição, com uma tuna sul-americana, tudo às mil maravilhas, fax pra cá, fax pra lá e por aí fora, cerca de 15 elementos a caminho, porreiro. Chegados ao aeroporto, eis que me deparo com uma tuna que cabia...num táxi: 4 elementos. Ainda perguntei se por algum acaso viriam, vá, mais 2 ou 3 entretanto mas... não, de todo. Problema para resolver. O que fazer perante tal cenário? Grande "discussão" no seio da organização sobre se subiriam ou não a palco. Após conversa com os 4 "Magníficos do táxi", lá se concluiu que sim, que subiriam, pois auxiliados seriam por um elemento de uma tuna portuguesa que nem sequer iria estar neste certame, fazendo assim a mais compostinha cifra de 5 tunos (4 sul-americanos e um tuga naturalizado à ultima da hora...). E em boa hora assim se decidiu pois, por incrível que possa parecer, nem sequer tocaram ou cantaram mal e muito pelo oposto, animaram o certame sobre maneira; houve quem, com muitos mais em cenário, tocasse e cantasse pior...Não ganharam prémio algum então; mas eles também não vieram cá para isso.....(!!)



Noutra edição, mais rica em orçamento, decidiu-se gravar directamente todo o certame para posterior edição em DVD - o que não ocorreu, depois.. - colocando um autêntico estúdio móvel dentro do Coliseu do Porto, com cameras por todos os lados e mais algum, literalmente, sendo feita a mistura das imagens directamente, ou seja, enquanto as tunas actuavam. Havia, pois, planos picados, contra-picados, desde as galerias, do chão, do próprio palco, planos abertos, planos americanos, enfim, uma produção de nível em termos de imagem e som, como seria de esperar para tal missão.


Obviamente, a organização, então, teve de dar conselhos adicionais às tunas presentes, mais técnicos digamos, de forma a que as próprias tunas não comprometessem a captação quer das imagens quer de som, pondo em risco a qualidade do possível DVD. Coisas simples como alertar p.ex. para o "parlapié" entre os temas tocados, "cacetadas" nos microfones, postura em palco, indumentaria (lá está, lá está..!!!) e outros "pormaiores" que, nestas circunstâncias especiais, se revelavam altamente cirúrgicos e assumiam uma outra dimensão. Até aqui, tudo bem, todas acederam a cumprir com os quesitos de tal empreitada.


Certa Tuna espanhola sobe então a palco - de referir que nesse ano esse mesmo palco era não o original, que tinha ardido uns meses antes, mas sim um outro construído à frente do original, condicionando ainda mais toda a logística e sua gestão, obrigando então a uma produção de palco quase profissional... - e a 1ª coisa que faz, contra tudo o dito antes e assim combinado, é....retirar todos os microfones do lugar - e falo em cerca de 30 ao todo....), arrastando-os para trás, liminarmente, para desespero da organização, técnicos de som e imagem.... Entram em cenário, após esta "cena", cerca de 40 garbosos Tunos e....pasacalles à antiga espanhola, ocupando toda a largura e comprimento do palco, num espectáculo de rara beleza que mais tarde, as imagens captadas comprovaram, algo absolutamente bem feito e de enorme qualidade, sem som como é bom de ver mas audiveis em toda a sala, atónita com tal entrada em palco. Um must que, obviamente, não invalidou o resto: imagens lindissimas e som...péssimo, pois só para afinar novamente os micros foi um autêntico martírio.....


E estava aqui o dia todo nisto, acreditem. Dava um livro, sem problema algum. Tudo isto para dizer que, mesmo com tudo bem organizado, previamente, tudo XPTO, o imprevisto acontece....

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