A Aventura do "Eu cá sou bom, sou muito bom....."

Ainda "pegando" na atrás citada cagança mas agora vista por outro ponto de vista.

Parece engraçado, mormente ser mais uma das falácias que - e assumo a minha quota parte de culpa - hoje é uma herança dos loucos anos 90 no que toca ao comportamento tribal das tunas - e mais uma vez, vicio repescado aos nossos amigos espanhoís - a manifesta auto-capacidade quer para o auto-elogio público que, ao mesmo tempo, revela uma sacro-santidade no que toca ao seu próprio comportamento, sendo que, por via de regra, se resume à frase " nada contra nós, tudo por nós". Seria interessante se as tunas fossem compostas por máquinas infaliveis, acima de tudo e todos, altar môr da sapiência, bem fazer e da imaculada postura que nos vai dizendo que são sempre os outros que erram e nunca nós. Mas não, são compostas por pessoas.

É, por isso, absolutamente extraordinário que, volvidos 25 anos grosso modo ainda haja quem se ache acima de suspeitas ou então, se quisermos, quem ache que tudo aquilo que faz é absolutamente correcto, livre de critica ou reparo até. Bem sabemos que, se por um lado, o respeito dos outros é conquistado e nunca imposto, por outro, sabemos também que por causa de uns "comem" todos - e haverá uns que não estão para "comer" por causa dos outros. Curioso é que a noção corporativista é tão dúbia quão engraçada, pois se dá jeito somos todos tunas e tunos, se não, "nós não temos nada a ver com isso" e vai de sacudir a água do capote. Evidente que falo de forma genérica e não pontual ou circunstancial, pois não será menos verdade que até prova em oposto é-se inocente.

Não me interpretem mal. O corporativismo de um dado grupo desta natureza é algo perfeitamente natural, salutar se assim for encarado, até saudável para o próprio grupo enquanto tal. Pacifico. Já aquele corporativismo que, em alturas de maior aperto, remete para os outros toda e qualquer coisa menos positiva é que me parece algo, no minimo, digno de uma qualquer tribo africana. Não joga com a noção de respeito que se procura saudavelmente incutir enquanto grupo. É, em primeira análise, até, uma antitese, que nos mostra que para o bom, somos todos cool, já para o mau não, aqui não há pecado, esse mora lá fora.

Depois outro aspecto curioso, aquele que nos fala do auto-elogio, não esperando sequer que os outros o façam, vai logo à frente a iluminar o caminho pois os outros, aqui, das duas uma, ou estão desatentos ou são uma cambada de lorpas. Curioso, nem uma coisa nem outra, muito menos nos tempos em que vivemos onde tudo se sabe em tempo real, até. Pior, a respeitabilidade só faz sentido quando aferida e consentida pelos outros, logo, fazer o euto-elogio parece coisa de quem, desesperadamente, quer impôr esse respeito, colocando-o no bolso dos outros à força porque revelando assim uma enorme duvida interior sobre o que fez e é. Digamos que quem impõe cagança aos outros será seguramente alguém que não é seguro de si mesmo e muito menos do que realmente faz.

São duas formas de cagança que, repito, têm explicação cultural até e no nosso seio. Foi, em suma, o que se foi legando de geração em geração, basicamente. Mas isso não significa por si só que seja algo positivo. O normal seria refinar-se este tipo de posturas ao longo dos anos, percebendo-se que afinal há coisas mais importantes no que somos e fazemos, que podemos legar com mais propriedade de causa e com mais sentido profilático face ao futuro e gerações vindouras. O lado mais interessante destas abordagens é precisamente esse: perceber-se, passo a passo, que há alguns comportamentos tribais ditos de costumeiros que em nada abonam a favor do todo, muito menos de quem a eles se presta. Porque um mau exemplo é amplificado 3 vezes, já um bom passa até despercebido. Curiosamente, o dito comportamento normal nestes aspectos é quase uma gota no oceano e face ao que se vai vendo e assistindo. Seria bem mais interessante que as excepções neste campo passassem a ser regra.

É que, francamente, começa a ser ridiculo ver-se alguns tipos de comportamento, para não dizer pueril. Só fica mal aos próprios. Quem quer ser respeitado tem de se dar ao respeito. Manter-se acima de posturas tribalistas é de todo sinal de respeito generalizado e a começar pelos próprios, que encaram as coisas de forma natural e não sensacionalista, onde se procura que em todas as partes do reino seja conhecida a "boa nova" que foi ganhar o certame XPTO e por aí fora, como se fossem até, pasme-se, os únicos capazes de, ou os primeiros - outra coisa curiosa, a obcessiva procura do pioneirismo como se isso por si só fosse um atestado de pretensa superioridade - a fazer X ou Y. O pioneiro é alguém, sendo coisa boa, que apenas teve o condão de fazer Y pela 1ª vez e por isso esse status, o de pioneiro. Pioneirismo não significa necessáriamente algo positivo ou negativo. Há quem fique para a História como tendo sido os 1ºs a fazer asneiras e das grandes. Ou seja, não é por si só o pioneirismo algo, na sua essência, necessariamente bom. Pode ser mas pode não o ser.

Ouvi uma vez algo do género a alguém: " se ganhamos aqueles então somos a melhor tuna do mundo...!!!". Palavras imprudentes, que só se aceitam no dealbar da juventude, admito. Mas mesmo assim são de uma imprudência atroz porque ao fim e cabo, deixam apenas o seu remetente com um grave dilema; Se assim fosse porventura, então teriam de deixar de ser uma tuna porque já nada os move por força disso mesmo. Já nem perco tempo com tamanhas caganças....perdia-se assim a "melhor tuna do mundo".....

Alguém se atreve a dizer, e tratando-se de arte, que a Guernica é melhor que a Mona Lisa ou vice-versa???


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