A Aventura do ENT - Parte 4, já nem sei....

Após algumas edições do ENT, e desde a 1ª em Évora, que se podem retirar algumas ilações relativamente pacíficas sobre a evolução pretensa do mesmo encontro; já outras ilações não serão – admito – simplesmente pacíficas, podendo aqui e ali gerar alguma controvérsia saudável sobre o propósito do mesmo. Por partes então:


- As várias edições do ENT e até hoje configuram uma espécie de montanha-russa, ora algumas de elevada carga formativa, ora outras de elevada carga demonstrativa – no que toca a workshop´s e afins. Regra geral o desequilíbrio entre as duas componentes foi uma constante, sendo que essa inconstância prejudica seriamente as várias expectativas de quem se desloca de vários pontos do país para participar no ENT. Ora, sendo este um momento por excelência de formação e informação, tenho para mim – e porque foi para isso que o ENT foi criado – que urge dar mais ênfase à parte formativa do que aos workshop´s, a haver algum desequilíbrio; o contrário é “matar” o ENT à nascença. Nada contra os workshop´s, refira-se, no entanto, o ENT não é o momento por excelência da prática porque essa todos os tunos e tunas já a têm ao longo do ano.


- O ENT raramente foi consequente entre edições, ou seja, raramente teve ligação o que foi debatido/falado/whatever entre uma edição e a seguinte. Se tal pode ser uma mais valia, tornando-os estanques e não repetitivos, recordo agora que o tema tuneril é tão abrangente a ponto de dentro de um mesmo ENT se poder tecer uma teia de relacionamento entre os vários temas e afins contidos na sua programação, logo, poder-se-ia ligar, conectar, algo que de trás venha e que possa, um ano depois, continuar a debater-se mas com outro registo. Evitar-se-ia, com tal, debates estéreis e repetidos sim mas na mesmíssima tecla que antes já fora tocada também ela vezes sem conta. Há muitas receitas de bacalhau, como saberão.


- A constante insistência em se debater coisas comezinhas, pequenas e insignificantes tem dois efeitos altamente perversos: o 1º é o comezinho em si mesmo que é por tal, completamente dispensável, o chamado não-assunto, a trica e a nica, a fulanização deste ou daquele; o 2º é roubar descaradamente tempo útil e precioso para temáticas abrangentes, pertinentes e importantes. Não se percebe de todo que interesse tem discutir-se p.ex. a existência de quarentunas em Portugal quando só agora as mesmas surgem (ou seja, não há histórico para trás, sequer) e outra será falar-se sobre as causas que levam, cada vez mais, a surgirem grupos de quarentões a formarem tunas veteranas. Em suma, é urgente o elevar, por sistema e ao longo de toda e qualquer edição do ENT, a qualidade do debate a ter-se, colocá-lo num patamar que sirva tudo e todos numa fasquia alta - e não nivelar por baixo como por vezes ocorre; nada que o estudante universitário não esteja habituado.


- O modelo seguido em todas as edições, na sua estrutura, é demasiadamente ortodoxo porque estanque, fixo e não tem evoluído como deveria ao longo das várias edições. Há que pensar o ENT a cada edição, de forma a torná-lo mais atractivo, mantendo a sua génese e evoluindo na forma como é apresentado, na sequência, na estrutura evolutiva dentro do mesmo. Pode-se, p.ex. “pegar” num tema genérico e o mesmo acompanhar o ENT desde a palestra, passando pelo debate e seu contraditório, indo à tertúlia e terminando até num workshop mais abrangente. Como disse antes, o tema tuneril é absolutamente rico e consegue facilmente de um tema genérico percorrer variadíssimos pontos colaterais ou relacionados com o tema base, genérico. Andar-se a saltar de tema estanque para tema estanque é, num curto espaço de tempo de um fim-de-semana de ENT, algo pesado para os participantes, digo eu. Agilizar as temáticas é importante.


- No formato da sua apresentação há que evoluir sobremaneira: a forma de apresentar uma palestra p.ex. tem de ser mais leve, mais hábil, mais tentadora, inovadora e cativante a todos os que assistem, diminuindo assim os bocejos. Tarefa de quem apresenta os mesmos mas também de quem se predispõe a assistir de forma interessada. O contraditório é importante para suavizar os trabalhos do ENT. Mas atenção, contraditório com bom senso, sempre, de todos os intervenientes.


Ficam as dicas….mas mandem mais….!

Comentários

Marta disse…
Mais uma vez, uma tema pertinente, e a surgir em boa hora.
A minha experiência em ENT's é curta e, a bem dizer, nem me é especificamente direccionada, mas ainda assim deixo a minha "posta".
A "responsabilidade" do sucesso de um ENT depende de todos: da organização, dos palestrantes, dos participantes. À organização cabe a estruturação de um fim-de-semana equilibrado (e já deixaste uma excelente visão sobre este equilíbrio, pelo que escuso de repetir), indo de encontro àquilo que o ENT é na sua génese e não tendo a pretensão de agradar a gregos e a troianos (correndo-se o risco, assim, de não agradar nem a uns nem a outros); cabe-lhes a escolha de temas, escolha de palestrantes, definição de "timmings" tendo por base aquilo que sucedeu nos ENT's anteriores: e aqui, lanço a questão: será que há uma "ponte" entre organizações, que permita aferir à organização actual o que foi feito nas edições anteriores, tanto de forma a não se repetirem temas e não-temas, bem como compreender as falhas anteriores no sentido de as colmatar? ;)
Aos palestrantes cabe a estruturação da sua palestra de forma a, como dizes, cativar os presentes. Como? Cada um saberá como tornar o seu tema mais aliciante, de forma a motivar discussões saudáveis e pertinentes, ao mesmo tempo que se procura eliminar os tais não-temas, a fulanização que referes e até mesmo a alienação face à discussão do assunto. Por sua vez, também cabe aos participantes compreenderem que se encontram num evento formativo (seja ele de carácter mais teórico ou mais prático) e que sem a sua presença, o ENT não cumpre o sue propósito. E quando falo em presença, falo em dois sentidos: primeiro, o de se deixarem cativar pela ideia de se inscreverem e irem, deixando de lado, de uma vez por todas, o preconceito e as ideias erróneas de cadeiras de poder, de se discutir sempre as mesmas coisas, de ser um fórum Portugaltunas ao vivo (e isto dava outro tema), de serem sempre os mesmos, de não se aprender nada, de ser um desperdício; segundo, e ultrapassado este primeiro ponto, o de comparecerem nas diferentes actividades preparadas previamente pela organização. Compreendendo que o convívio é importante e saudável (e para quem já foi, sabe perfeitamente que existe e que não é descurado), é igualmente importante perceber que esse não é o propósito número um do evento em questão. Assim, se há actividades de manhã, ou antes de jantar ou depois do mesmo, é nessas que se deve centrar a atenção (com a respectiva presença...) porque, afinal, é para isso que as pessoas se inscrevem e que vão.
Em suma, e porque já me estiquei em demasia: espero um ENT equilibrado entre teoria e prática (desejando, pessoalmente, que a prática se centre em algo mais abrangente e não em “gavetas”), com temas actuais e pertinentes que possibilitem a discussão saudável daquilo que é essencial ao invés da centração no acessório e, claro, que se proporcione (como sempre se tem feito) um convívio saudável entre todos (e que esses “todos” tenham caras novas!). Ideias para temas já há muitas nos espaços da “especialidade”: agora resta, a quem organiza, saber como pegar nisso.
Beijokas!
J.Pierre Silva disse…
Nem mais, Marta.
O grande problema reside, de facto, na atitude dos participantes que olham para o ENT como uma festarola onde, sob a desculpa de haver palestras, ficam cá fora em amena cavaqueira ou atascados a uma mesa de café.
O que o ENT não pode querer nunca é fazer em 2 dias o que só se faz em semanas (ou que já assim se faz), falando, neste caso, do exagero de tempo e espaço que ocupam tantos e diversificados ateliers. Também o nº de palestras deve ser revisto, preferindo-se poucas e boas, mesmo que durem mais tempo (com intervalo) do que tratarem-se N assuntos que nem sequer, muitas vezes, têm a ver uns com os outros (ou nem sequer são essenciais, discutindo-se o "sexo dos anjos").
Bom dia!

Corre-se o risco, a não haver novo formato, mais bom senso e acima de tudo, uma atitude mais directa quanto à essência do ENT, de o mesmo se tornar em algo penoso, uma espécie de cumprir calendário e mais nada. Há que repensar - e lembro que já várias vezes o disse, no passado recente, em vários locais até - toda a estrutura do ENT. Sou o 1º a achar e a sugerir mais golpe de rins, mais novidade, mais atitude. Espero que haja desta vez.

Abraços!
Marta disse…
Eu até acrescentaria que este ano é o ano ideal para essa novidade, golpe de rins e atitude: afinal a organização fará um "bis", seguido, na organização do evento. Não estive no do ano anterior, não posso aferir o que correu bem ou menos bem, mas há que destacar, à priori, o fraco número de participantes: caberá à organização compreender o porquê e estabelecer formas de contornar esse aspecto. Eu não estive e sei de mais pessoas que não estiveram pelos mesmos motivos que eu: faltou essência ao programa, num fim-de-semana com alguma oferta tunante, que facilmente se sobrepôs ao interesse que o ENT poderia ter. Falou-se, antes e depois do ENT, sobre o mesmo: deram-se ideias, discutiram-se temas. O que foi ou não aproveitado, veremos em breve.
Faltam pouco menos de 3 meses para o ENT e é cedo (ou talvez não, mas vá!) para tecer comentários. Aguardo, com alguma serenidade e expectativa, se algo mudou desde o ano passado (e o quê). A não haver essa novidade, essa atitude e essa centração na essência do ENT, não digo que o mesmo se torne um evento de cumprir calendário, mas sim mais um evento cada vez mais festivo e menos formativo, cada vez mais longe do propósito para o qual foi criado.
Marta disse…
E eis que o programa do ENT é tornado público: http://rtub.alunos.ipb.pt/index.php?pai=102&lng=
Este ENT tem, apenas e só, a meu ver, um único ponto de interesse: a apresentação do livro. Mais: acho – opinião pessoal… - que essa apresentação merecia mais do que aquilo em que vai estar enquadrada. Se o ENT é, por excelência, a altura e local ideal para tal, penso que também mereceria uma estrutura mais arrojada e cativante. Mais uma vez, e se excluirmos a dita apresentação, ausência quase completa de componente formativa, “ensaio geral” demasiado generalizado, sem indicação de objectivos ou de formador/palestrante, numa espécie de “tudo ao molho e fé em Deus”, em três horas que precisam de ser explicitadas ao nível de estrutura, sob o risco de se tornarem em… nada. Uma tertúlia aberta que, à luz de anos anteriores, necessitaria de umas linhas mestras, sob o risco de ser tornar, igualmente, em nada. Parece-me que esta organização pecou 2 vezes seguidas nos mesmos aspectos, tendo-se refugiado este ano num acontecimento digno de registo como ponto central. Espero que isso sirva de motivo para pôr a malta a mexer para Bragança… Tenho as minhas dúvidas, mas espero que sim!
Bom dia!

Seguramente será uma primeira apresentação do programa, que se irá refinando mais em concreto dentro do mais breve lapso de tempo possível.

Seria, obviamente, mais interessante especificar ao máximo os vários momentos do próximo ENT. Aí, sim, poder-se-á falar com mais propriedade sobre o programa no geral.

Abraços & Beijos!