A Aventura da Suprema Aventura....

Nunca um refrão de um tema de Marco Paulo - o nosso Sinatra, a ver pelo que a seguir a ele surgiu... - assumiu tamanha pertinência: "Quem vier por bem, venha, venha, também..."; Ivan Lins, por sua vez, um dia cantou qualquer coisa como isto:


"Começar de novo e contar comigo
Vai valer a pena ter amanhecido
Ter me rebelado, ter me debatido
Ter me machucado, ter sobrevivido
Ter virado a mesa, ter me conhecido
Ter virado o barco, ter me socorrido"



Melhor é impossível. Está tudo aqui em cima: a pertinência, a vontade, o entusiasmo, depois a tenacidade, a alegria de ver nascer, a angustia de sobreviver, as pedras que nos colocam no caminho só porque nascemos, o cair 7 vezes e levantarmo-nos 8, enfim, todo um percurso de quem se predispõe a mandar uma pedra ao charco, muitas vezes enlameado e opaco do mainstream, bafiento e empoeirado como ele só, típico de quem tem pavor a tudo que de novo surge.


Tudo o que se propõe a começar de novo merece desde logo o meu mais profundo apreço; porque encerra a humildade dos grandes que percebem que é possível começar de novo, mais a coragem de ir contra o Adamastor costumeiro. Não ter medo de começar de novo é por si só já uma grande coisa. Tirando a maluqueira do acto em si - que não a sanidade da convicção - depois de se dar o 1º pontapé na bola é que se percebe que o jogo tem 90 minutos e ainda faltam 89 dele jogar. E já se sabe que vai haver árbitros, adversário, claques antagónicas, comunicação social, etc, a fazer tudo para que quem começa de novo desista à 1ª pantufada na canela. O que enobrece e torna Maior quem a tal se propôs; é que é muito fácil ser contratado para jogar a titular no Barcelona; difícil é criar um novo clube, do nada, pô-lo a jogar e contra tudo e todos, vê-lo um dia depois a disputar a Champions. Isso sim, é "começar de novo" com tudo de nobre que tal encerra; Aqui, não há papinha feita, não há "mama", não há "estrutura", não há nada, excepto vontade, tenacidade e muita ousadia. A lata normalmente tem um custo. Mas também pode trazer beneficio.


O clube com que mais simpatizo em todo o mundo tirando o meu é a Juventus de Turim; não por qualquer razão em especial excepto uma: foi fundado por meia dúzia de carolas num banco de jardim. Tirando o lado romântico, chegar onde chegaram parece-me um postulado de competência, persistência, querer. Começar com uma mão cheia de nada e outra vazia de tudo é, por si só, digno.


Note-se clara e efectivamente que nada obsta a quem chega a casa e tem roupa e cama lavada mais comida na mesa, de todo é esta Aventura um exercício maniqueísta: Apenas louvar e dar relevo a quem, do nada, algo de positivo consegue fazer. Just. É fácil chegar-se com tudo feito e no seu devido lugar. Porreiro. Difícil é nada ter e desse nada algo acontecer.


Dedico esta Aventura, por isso, a todos os heróis e heroínas que um dia disseram - como disseram os The The - "This Is The Day". E lá foram, em frente, com mais ou menos dificuldade, a "começar de novo", vindo por bem, claro está.....

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