A Aventura do P.R.E.T - Vivace



“A Tuna Portuguesa foi-se progressivamente segmentando, sendo que se hoje se encontram algumas  ainda no paradigma "jurássico" que se traduz no chavão "tuna é garrafão de vinho e arrebimba-o-malho e siga!!!!" as restantes - maioria - se foram posicionando em função do tempo e espaço que cada uma foi ocupando, ora de forma natural ora em função da força atractiva do certame competitivo; nessa segmentação urge verificar a emergência 1º da tuna feminina e depois das tunas de carácter mais abrangente/alargado e mais recentemente ainda das de veteranos/quarentunas.”


 Tuna Feminina do ISEL


Era quase inevitável que assim fosse. No entanto, no “boom” tuneril a prática, o modus faciendi era mais generalizado, partilhado por uniforme, do que hoje, onde a musicalidade assume papel de destaque. Obviamente que ainda hoje temos tunas estudantis que estão praticamente como estavam aquando das suas fundações, mantendo uma genética muito peculiar e próxima ao “correr a tuna” típico do ciclo das Bigornias (Vide “Qvid Tvnae”). Já outras assumiram claramente uma evolução – restando saber e casuisticamente se de facto evolução, se retrocesso – no seu próprio paradigma, mantendo traços da fundação mas procurando posicionar-se claramente num cenário global, tentando de alguma forma distinguir-se. Aliás, a procura da distinção é outro traço pós “boom” dos anos 80/90, depois de uma época mais uniforme a variados níveis como foi a do “boom” dos anos 80/90.



Para essa segmentação posterior contribuiu largamente o certame, como vimos antes, que se colocou como sendo o núcleo central da actividade desenvolvida pela tuna, constatando-se por força disso o abandono progressivo do género de actividade que anteriormente detinham em prol do certame, sendo que o número de certames cresceu exponencialmente à medida que as tunas eram fundadas (como se confere na leitura do “Qvid Tvnae”) e poucos foram os que posteriormente desapareceram. Não foi, obviamente, o certame o único catalizador para a alteração das posturas e hábitos; mas seguramente foi a principal causa para a segmentação das tunas e seu posicionamento, num universo que rondava as 365 tunas no ano de 2005.



Nessa segmentação a Tuna Feminina assume papel primordial; surge no “boom” de forma mais tímida e com um preconceito – historicamente errado, deve-se referir – que indiciava que à Mulher lhe era vedado o exercício tuneril, algo que continuou para lá do “boom” e que hoje, após o fundamentado estudo, se concluiu ter sido errado; não só é perfeitamente plausível e licito a Mulher exercer o Negro Magistério como até se verifica historicamente a existência de agrupamentos femininos no dealbar do Século XIX (vide capitulo referente à Tuna Feminina no “Qvid Tvnae”). O factor social que se prendeu com o cada vez maior número de mulheres a frequentar o Ensino Superior obviamente que se fez notar pelo surgimento de cada vez mais tunas femininas, que surgem quebrando o estigma – errado, repete-se – que se prendia com a sua condição; por outro prisma, a componente competitiva do certame em versão feminina é, hoje, mais saudável do que aquela a que se assiste nas congéneres masculinas.


O argumento de que “Tuna é só de homens” prende-se unicamente com o facto de à Mulher ter sido vedada a frequência dos estudos universitários até aos fins do Século XIX/inícios XX; Com a porta da Universidade aberta à Mulher obviamente que era, como foi, natural e normal que a mesma pudesse desenvolver actividade tuneril, como ocorreu p.ex. em Espanha nos anos 40 e 50, com a formação de tunas femininas. O estigma – que também importamos de Nuestros Hermanos – face à Mulher na Tuna prende-se com o resgatar que a Tuna Espanhola fez no pós- Franquismo de alguma retórica próxima ao “correr la tuna” que obviamente, incidia exclusivamente no homem a actividade tuneril.


As tunas de carácter mais abrangente - que possibilitam frequência de estudantes de várias instituições ou faculdades da mesma Universidade e/ou cidade -  já existiam no "boom" embora em muito menos número do que hoje, como facilmente constatamos. O que é uma consequência evidente e lógica por força da cada vez menor entrada no Ensino Superior de estudantes, numa reacção a uma maior concentração de recursos mas agora a uma escala mais pequena; o universo na época do "boom" era como foi infinitamente maior do que o de hoje, logo, será a adaptação ao meio que dita uma nova arquitectura.


Do “boom” dos anos 80/90 temos hoje o nascer inevitável, diria, da sua irmã mais “velha”, as tunas de Veteranos e Quarentunas, compostas na sua esmagadora maioria pelos fundadores e gerações imediatamente seguintes das tunas do “boom”, mais do que expectável, previsível e óbvio até – no caso português com décadas de atraso face ao espanhol, uma vez mais.

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