A Aventura do Mensageiro



Faz lembrar "O Carteiro" de Pablo Neruda. É da História. Desde Feidípedes - um mensageiro do exército de Atenas que correu 40 kms para dar noticias - que a "besta" é o mensageiro. Hoje o país onde se matam mais mensageiros é a Síria, esse exemplo de democracia plena como todos sabemos que cala a oposição com gaz Sarin. Tal como noutros tempos os Reis quando não gostavam das mensagens faziam.


Contudo, porque o faziam, fazem hoje na Síria  questionamo-nos, nós, supostamente Universitários, com um grau de civismo, exigibilidade, cultura algo distintos, supostamente? Porque o fazem, porque se insiste, insistia em matar o mensageiro? Porque a finalidade não é eliminar a notícia, que subsistia, mas antes e sim eliminar o mensageiro porque assim o rei tinha o pretexto perfeito de que aquela má notícia não havia sido entregue ao rei, e, portanto, dela também não tinha tido devido conhecimento. E porquê? Porque é mais facil fazer de conta e empurrar a responsabilidade para terceiros, no caso, o mensageiro. Já dizia a Estudantina Universitária de Coimbra quando cantava "O Carteiro", que o mesmo "não tem culpa, é a sua profissão". É fácil matar o mensageiro, apontar o dedo ao carteiro.

A Liberdade de opinião está consagrada na nossa Democracia participativa. Inegável. Um jogo de futebol, p.ex., que tem um resultado objectivo, é escrutinado vezes sem conta por comentadores dias a fio, independentemente do resultado final. O resultado não muda, termina no final do jogo. O escrutínio da Opinião Livre, num Estado Democrático, existe logo após o apito final do árbitro. Chama-se comummente a essas culturas um nome: Democracias. Só na Síria ou na Coreia do Norte é que as "noticias" são escolhidas a "dedo", a "metro" e é por essa razão que 1) não se mata o mensageiro nesses países e 2) as "noticias" são tudo menos Noticias.

Nas Democracias, livres, como a nossa, regradas mas livres, quando não se gosta de ler uma reportagem de um dado jornal, troca-se de jornal. Quando só se quer ler as "noticias" que queremos ler, compramos o "nosso" próprio jornal, aquele que nos dá as "noticias" que queremos ler: Era assim na ex-URSS que só vendia o "Pravda" ( em português, a "Verdade", suprema ironia) e não se vendia mais jornal algum para manter a "noticia", a "verdade" do regime inabalável. Até ao dia em que se começou a sintonizar a BBC Internacional e os Soviéticos perceberam que afinal havia mais vida para além do Muro de Berlim. É a diferença entre p.ex. o "Expresso" e o "Avante".

Aqui, passa-se rigorosamente a mesma coisa. Há uma espécie de Ditadura Tuneril que não admite a mínima opinião - supostamente negativa, menos positiva ou menos simpática, porque as boas, essas, venham elas que até dá jeito para o copy/paste - preferindo que se fique como se fica na Síria ou numa qualquer ditadura, onde apenas há uma verdade e tudo o que daí em diante surgir é "para matar" pura e simplesmente. Tudo isto não seria grave se não estivéssemos 1) numa Democracia plena, 2) num mundo onde tudo é susceptível de escrutínio publico e 3) ainda por cima em cima de um palco, local mais que óbvio para sermos apreciados, criticados, escrutinados. E se há palmas, também há assobios. Já nem coloco aqui à colação tratarem-se de Estudantes Universitários - mesmo que alguns se portem como liceais.

É absurdamente pidesco achar-se que estando em cima de um cenário, onde supostamente existe exibição, a mesma não esteja sujeita ao opinativo de todos os que assistem a tal. Tudo o que fazemos, Tunas, é escrutinavel. O publico escrutina-nos a cada acorde, não é só o Jurado. Tudo, aliás, que fazemos no nosso quotidiano é escrutinado. Ao invés de se fulanizar dever-se-ia pensar, debater ideias - e não pessoas, porque se a 1ª opção é saudável na procura do melhor caminho, a 2ª já é mesquinhamente pequena, comezinha. E define as pessoas desde logo.

Estranha dialéctica tuneril esta que nos indicia que para palmas podemos ouvi-las de todos e mais algum mas para criticas, aí, só podem vir do Jurado, do amigo do lado ou então "se eu quiser". A esses sugiro então que produzam um portal de tunas onde possam reproduzir a "sua verdade" apenas e só, como se faz na Síria ou na Coreia do Norte. Nada como falar para um espelho para não se escutar critica alguma. O que é coisa que define quem gosta de polir o seu próprio ego - e não partilhar com os demais o mesmo, com todos os riscos que implica viver-se em sociedade, em Democracia. Mudar de canal é um direito que assiste a todos. Não há mais canais? Criem um. Nada de mais simples. Até lá, é como é.

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