A Aventura da Perenidade



Antes de mais, penalizo-me aqui pela menor frequência no "Aventuras" mas é apenas uma fase. Nada mais. Adiante então.




A validade de um projecto mede-se, sendo e no caso, uma tuna, por vários factores já largamente debatidos, quer na generalidade, quer na especialidade. Contudo, há um que me merece, hoje, cuidado especial, a sua perenidade.


É evidente que fundar uma tuna no «boom» dos anos 80/90 do Século passado não é a mesma coisa que fundar uma tuna em finais do Século XIX, tal como é outra coisa completamente distinta fundar uma tuna no dealbar do Século XXI. Os contextos são sempre distintos entre si; mais complexa é a matéria quando os contextos se interligaram na timeline: fundar uma tuna em pleno Século XXI está obviamente ligado, relacionado, ao que se passou nas duas décadas finais do Século XX, como resulta pacifico.


O que nos leva à conclusão seguinte: É óbvia, clara e concreta a maior dificuldade em se fundar uma tuna num ciclo temporal completamente em oposição de fase do que fundar uma tuna na maré do entusiasmo, por moda, pelo replicar, pelo mimetizar, noutros tempos, digamos assim. Continuando a afunilar: Mais difícil -a somar ás dificuldades atrás descritas - quando nasce completamente do zero, ou seja, sem que resulte de alguma cisão/fusão de agrupamento(s) já existente(s) anteriormente. Para tornar tudo mais difícil ainda, quando surge não associada a alguma instituição já existente, ou seja, sendo ela mesma pioneira e nascendo da exclusiva e única vontade dos seus componentes. Se esmiuçarmos ainda mais ao pormenor, dentro da Academia mais conservadora do país e onde mais Tunas há em todo mundo, adicionando uma boa pitada de inveja comezinha para temperar a coisa juntamente com o facto de ninguém achar graça ao new kid on the block. Mais difícil só entrar em Meca em dia de peregrinação a Maomé com a Bíblia na mão, vamos convir. Estavam pois reunidas, neste cocktail  único - não conheço réplica alguma parecida sequer - todas as dificuldades e constrangimentos para uma mais que provável experiência falhada. Mas não. De todo. Porquê?


Talvez ao final de oito anos seja cedo para conclusões com mais densidade e propriedade de conteúdos. Contudo, já se pode afiançar algumas noções que se me afiguram evidentes. A perenidade atesta a credibilidade, desde logo; lembro-me de alguns projectos nessa época, um caso até em particular, com uma filosofia aproximada ou mesmo similar, e definhou a ponto de não existir sequer, hoje. A perenidade de um projecto deste tipo mede-se pela credibilidade que o mesmo confere. E essa credibilidade assenta num pressuposto organizativo concreto, claro, com lógica estatutária acima das doutas cabeças dos seus componentes, com objectivos absolutamente delineados no tempo e espaço que pressupõem claramente uma cultura por parte dos seus actores. Difícil, seguramente, mas não impossível. Depois, a firmeza do conceito a acompanhar o atrás dito: se não existisse tal de nada serviria o resto. Foi fulcral tal firmeza, ainda o é, de facto. O caminho foi feito com muitas pedras atiradas, umas com a mão do remetente à vista, outras de trás da moita para ninguém - julgavam - ver. Dessas pedras fizemos o que o poeta disse para se fazer e o caminho feito é, hoje, uma bonita calçada Portuguesa, fresca de quase uma década mas bonita porque sabem os seus calceteiros o quanto custou construir a mesma. O que lhes deu motivação acrescida para continuar. A somar a tudo o resto uma enorme capacidade em se reinventar, renovando gente, acarinhando novas gerações atrás de novas gerações, agora que a sua geração fundadora não se encontra no activo, tirando um caso ou outro - onde ainda me vou incluindo. É deveras gratificante verificar que a marca, a brand, existe e que a mesma significa automaticamente uma imagem positiva. Sem grandes likes Facebookianos para polir os umbigos a vida segue, a par e passo, como noutra qualquer seguirá, seguramente, caminhando para a década de existência com caras novas, gente nova que nunca conheceu outra tuna sequer, com sangue, ideias, ideário novo mas sempre em linha com tudo o que a trouxe aos dias de hoje e a levará aos de amanhã. Tranquilamente.


Haverá, porventura, algo mais saboroso que constatar a realidade? Sim, sabe bem. Não tem nada de mal, pois não?


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