A Aventura do Tunofutebolês



Muitos gostam, até por defeito, de estabelecer comparação entre o cenário festivaleiro tuneril e o futebol, fazendo nas suas mentes a sua própria configuração, tipo Playstation, das várias provas que existem, emulando nas Tunas tais cenários. É um exercicio tão antigo como desde que existem certames, a que o normal descernimento, desavisado no seu enquadramento, procura fintar qual Maradona, a lógica que não se cruza entre uma arte e o desporto - mesmo podendo o desporto ser uma arte.



A verdade, porém, é que tal emulação ajuda a enquadrar, de alguma forma, o que se vai passando nos palcos festivaleiros, como se de uma segmentação se tratasse, mesmo que tal comparação esteja pejada de erros de interpretação, desenquandramentos de vária ordem ou até mesmo de alguma néscia incapacidade de visão geral dadas as vicissitudes do que é uma arte comparando a um simples resultado de um jogo de futebol. Já nem falo da paixão por este ou por aquele "clube". Depois ainda há a arbitragem, o campo, as condições climatéricas e as claques, o que emulando para os certames, não deixa de ser curioso observar sob vários pontos de vista.


Note-se que de todo defendo tal transposição tout court. Não, não acho que seja comparável. No entanto, a tal emulação por vezes quase que nos "obriga" a recorrer ao jargão futeboleiro para ilustrar, caracterizar, posicionar, e no todo do fenómeno. É quase inevitável que o comum observador atento do fenómeno festivaleiro tuneril caía na tentação suprema em transformar o que vê numa jogatana e num campeonato. Sempre foi assim, há que o dizer. Terá mais a ver com a apreciação em sí mesma do que propriamente com a analogia com a bola.


"Discute-se" com afincada paixão aquele estandarte como se discute um pretenso penalti, os "pregos" do bandolim X como se fosse um passe falhado, a dessincronização ritmica do pandeireta como se fosse um "frango" do keeper e assim sucessivamente. Porque não acredito na valoração matemática em ambiente de certame, não considero nem consigo considerar quantos golos valem uma afinação de uma naipe ou, então, quantos sofridos representam a queda da pandeireta. É essa impossibilidade em mensurar uma arte que torna a comparação inóqua, apenas servindo para ilustração, "boneco", de uma situação em concreto e pouco mais.


Depois temos os "campeonatos", os de "1ª Divisão" e assim sucessivamente, a "Liga dos Campeões", a "Taça de Portugal" e por aí fora. 6 Meses ao ano há os pequenos campeonatos particulares de fim de semana, cada um no seu patamar, onde há os clientes do costume. Os ausentes, como não jogam, não conta nem desconta. Depois há os Barcelonas e Bayern´s de Munique, os Chelseas e os Borussias de Dortmund, ainda há os Leicester´s a subir pelo ranking acima quais foguetes em dia de festa de paróquia e ainda há os Rayos Vallecano que se julgam o Real Madrid e culpam sempre o árbitro ou o tempo ou o relvado - nunca é culpa deles - pelos cabazadas que levam. Também há os Valências que andaram a cheirar o marisco mas que apenas conseguem, quando conseguem, provar ocasionalmente tremoços - e ficam todos inchados. Uma panóplia em montanha-russa de emoções artísticas emuladas no linguajar futeboleiro.


Tudo isto para dizer que - e emulações à parte - a verdadeira glória de uma Tuna que se preze de tal nome reside na sua consistência no tempo e no espaço. Como o Barcelona; muda o treinador e os jogadores 1000 vezes e continua a ser o Barcelona. Tem uma linha, um fio condutor, rigoroso, claro, objectivo, de construção de facto num percurso ao longo dos anos - e não de picos, como o Leicester - que vai grangeando a tal noção de patamar cimeiro no todo do fenómeno. O que é realmente triste não é perder um jogo, é já ter ganho grandes derbys e depois, por opção própria, cair para os confins da 3ª divisão, na expectativa de que lá, conseguirá ganhar miseravelmente qualquer coisinha. Se conseguir. É a lógica inversa do que se pretende com a questão competitiva, há que o dizer. Se se vai jogar, se se almeja lá chegar em cima, à Champions, há todo um caminho a percorrer. De construção continua e continuada. Quando se anda perto do Olímpo e por um triz não se consegue lá chegar, há que insistir nesse caminho, voltar à carga. E não transformar a 3ª Divisão - seja lá o que isso for - numa Champions particular, apenas para si, para conforto e desculpa da sua própria incompetência, sustentando simpáticamente a sua própria queda com artificios graciosos, que apenas servem para disfarçar o óbvio. 


Lá que a bola não é Tuna, não é. Não posso estar mais de acordo. Já se viu tanta coisa que prova tal que nem cabe aqui reportar. Mas quando se quer alcançar o topo há que ser consequente. E não fazer o oposto, pregando, ainda por cima, o seu contrário. Os tais que culpam os outros pelos erros que cometem. Para se chegar à Champions há que suar muito, durante muito tempo, sem sair do trilho delineado, acarinhando a sua história, valores e pessoas. Tudo o que for o contrário disto remete sempre para o campeonato distrital, em pelados, com árbitros de vão de escada e GNR´s na linha a separar os populares do bandeirinha. É nobre tal caminho desde que assumido, e tudo bem. Nada a obstar. Não se pode é entrar no pelado esperando, pomposa e lunaticamente, escutar o hino da Champions.

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