A Aventura do Neo Colonialismo Tuneril




Tuna Académica do Liceu de Évora


Se há algo que considero absolutamente obsceno, em pleno Século XXI, é, e no meio tuneril, existirem ainda visões narcisistas e egocêntricas sobre o que é a Tuna e tudo aquilo que a rodeia. E a nivel internacional falo agora, para concretizar. É, para lá de obsceno, nésciamente ignóbil tal postura. E depois, como resultado final, divertido.

Porque a visão "A-tuna-é-da-minha-terra-e-por-isso-a-minha-palavra-é-lei" enferma, para lá do lado pueril em si mesmo, de uma arrogância que se julgava ultrapassada nestes últimos vinte anos. E digo julgava porque, afinal, não o foi, antes sim, camuflou-se com vários paramentos sacerdotais, dando-lhe ares de coisa séria, pretensamente estudiosa, alegadamente culta. Se somarmos isto a um profundo desconhecimento do resto do mundo sobre o fenómeno Tuna Portuguesa, temos um perfeito cocktail molotov de parvoíces sem fim, com mais uns pós de ignorância e arrogância tipicas em cima.

Assentemos já num facto: NENHUM estrangeiro estudou a Tuna Portuguesa de forma aprofundada e até à data, apenas e só portugueses o fizeram. Já alguns Tunos portugueses estudaram de facto a Tuna no resto do mundo - e a fundo.

Resulta, por tal facto, óbvio que o desconhecimento da realidade tuneril portuguesa - quer historica quer sociologicamente - visto de fora das nossas fronteiras é um claro impedimento ao conhecimento e entendimento da Tuna lusitana - como é fácil de perceber.

Mandaria o Bom Senso - já escusando de trazer à baila a Humildade que parece faltar - que se tivesse, por tal, cuidados extremos na análise do caso tuneril português - único no mundo tuneril, queira-se ou não - e, acima de tudo, perceber-se o mesmo, enquadrando-o num todo universal. Mas não: Ao invés temos o regresso do velho chorrilho nascisista, egocêntrico e arrogante sobre o tema.

Já não tenho paciência, lamento. Não aturo este discurso a ninguém, seja português, espanhol ou servo-croata. Faz tempo que defenestrei, quais Migueís de Vasconcelos, esses fanfarrões e fanfarronas. Não consigo lidar com esta gente a não ser como a Padeira lidou em Aljubarrota: Com olímpicas pazadas.

Não me darei, por isso, ao trabalho de explicar o óbvio: A Tuna Portuguesa é uma realidade distinta das demais em todo o mundo. Logo, tal impede uma definição Universal de Tuna Estudantil, por motivos mais que evidentes, até, cognitivamente ao alcance de um qualquer caloiro. Quando essa diferença começa logo pelo facto de a Tuna popular em Portugal ser mais antiga que a do foro estudantil, menos será necessário dizer.

Para terminar em beleza, registar o essencial do que é uma Tuna em sentido lato, uma Expressão Musical; só depois revela a sua condição - popular, de estudantes, de presidiários ou de uma agência funerária. E é aqui que claudicam os néscios, sejam portugueses ou espanhoís: Em Portugal a Tuna é uma expressão Musical Ad Initium. Só depois é outra coisa qualquer também. Quem não entende isto não entende nada de Tunas.

Finalmente: Não tolero tratamento veladamente colonialista em ambiente pan-tuneril. Não aceito seja a quem seja, doa a quem doer, qualquer postura de arrogância face à Tuna Portuguesa e, consequentemente, a qualquer Tuno português que colabore com estrangeiros num qualquer âmbito tuneril. Era o que mais faltava.

Somos o país do mundo com mais Tunas estudantis se contabilizarmos o número de habitantes, já não falando nas populares, liceais e/ou outras. Temos uma tradição de Tuna em abstracto com quase duas centenas de anos, comprovada historicamente, estudada a fundo por alguns Tunos nacionais. Não conheço tuno ou outro estrangeiro qualquer que o tenha feito.

Por todas estas razões, peço escusa à minha habitual diplomacia, deixando claro que não aturo sequer insinuações néscias sobre a Tuna Portuguesa seja de quem seja, incluíndo o Papa Francisco, Miguel de Cervantes, Edward Snowden ou até mesmo o El Follonero.


Estou fora, não sou colonizável. Toda e qualquer visão egocêntrica, colonialista ou nacionalista de um fenómeno com expressões distintas em vários pontos do globo é um tiro no próprio pé.


Post Scriptum: Este fim de semana estive em Santiago. Tentei visitar a Casa de la Troya. Ia lá oferecer um livro sobre a Tuna Portuguesa, também. Tentei porque estava fechada. Estará até à Semana Santa. Se alguns perdessem mais tempo - ganhando-o - em zelar pelo seu património, ao invés de se dedicarem ao disparate, talvez a Casa de la Troya estivesse aberta aos fins de semana. São prioridades, amigos.


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