A Aventura do discurso tuneril "Miss Universo"




Entre as várias narrativas negacionistas tuneris - que oscilam entre as mais imaginativas e as mais "rebuscadas" - há um discurso que intriga (ou não... ) quando aplicado à verdade histórica tuneril, o chamado "discurso Miss Universo".



Costuma-se dizer de tal tipo de discurso, aquele que é vazio de consistência e, por tal, pleno de românticas intenções abstratas e universais - lá está, de Miss Universo. Desejar a paz no mundo tem equivalência à frase "as tunas são de estudantes e espalham alegria". Em suma, um conjunto de banalidades que, ao comum mortal, soam a bonitas palavras que, despidas de qualquer critério objectivo, não passam de meras intenções que qualquer um facilmente subscreve, por confortável à audição e, acima de tudo, de fácil assimilação para mentes preguiçosas e/ou despreocupadas com o rigor.


Aqui cabe, também, a romântica narrativa "As tunas nasceram no Séc. XII" - sempre quentinha de se dizer, procurando uma retroactividade brasonada que nunca existiu - ou a misógina narrativa "A Tuna é só de homens!" - outra enorme calinada amplamente provada e comprovada - entre outras tão pitorescas quão romanceadas frases feitas, em tom "discurso Miss Universo".


Depois, ainda existem declinações da narrativa "discurso Miss Universo"


Entre elas, há uma nova trend - porque deriva dos factos hoje amplamente conhecidos, por provados - que induz aceitação da verdade histórica mas apenas para "dentro" de casa, mantendo o discurso romanceado de sempre para fora. Uma espécie de bipolaridade que, acima de tudo, mostra duas coisas: A 1ª a incapacidade de se reconhecer a própria ignorância, e a 2ª a tentativa (frustrada) de esconder a mesma, repetindo assim os romances falsos de sempre, tentando compensar e, com isso, manter a aura de pretenso conhecedor sobre Tunas  - o que é, objectivamente, falso. A bipolaridade no discurso tuneril é, em última análise, negacionista.


Se somarmos a essa tremenda arrogância - fazer-se passar por conhecedor de algo sabendo que não se é tal - a fulanização tipo "O Zé estudou a Tuna, logo, é um gajo odioso, tem a *uta da mania, etc etc etc", temos a mistura perfeita para o já falado aqui efeito Dunning–Kruger aplicado, no caso, à Tuna. O que origina um arrastar, no tempo e no espaço, do tal discurso tuneril romanceado, tão próprio da candidata a Miss


Depois, ainda no discurso de Miss, a incoerência onde muitos caem, por ignorância e/ou má fé, ao negar a influência da tuna espanhola, não percebendo que muito do que defendem - e fazem, nas suas tunas - é de origem tuneril castelhana, pura e dura. Não se pode vilipendiar a tradição tuneril espanhola apenas pela sua origem, e depois tocar-se de pé, fazer desfiles, tocar em igrejas para santos, exibir símbolos, até portar becas, entre outras contradições, que apenas demonstram ou ignorância ou má fé - e ambas também definem, juntas ou separadas, o tal discurso de Miss.


A ideia principal, substantiva, central, do realce da importância daquilo que é a verdade histórica é, precisamente, ser o que é. Nunca houve, há ou haverá a procura de uma qualquer "posse" absurda sobre a verdade histórica tuneril - onde o respeito por quem a pesquisa não é beliscado, e por essa mesma razão. O Conhecimento da história tuneril não sendo propriedade de ninguém - um facto - não é, por tal, colocado em causa por ser emanado por X ou Y, ou por ser uma verdade desconfortável após tantas décadas de mentira, ou por ser vilipendiado por força dos que adoptam o discurso de Miss quando julgam tudo saber sobre a Tuna - quando, de facto, não sabem.


Pode-se dar a volta que se lhe quiser dar. A Verdade sobre a Tuna e sua História é só uma - não há versões, apenas e só melindres e indigestões. Até que FACTOS em contrário a possam desmentir, naturalmente - e não opiniões a metro em discurso de Miss - a verdade é só uma.


É isso, aliás, que distingue algo que se quer respeitável, de algo que se pretende que continue mergulhado no submundo cultural - onde gravitam uns 90% (e a ser simpático estou) dos que militam na Tuna.


O único caminho de credibilização da Tuna enquanto Cultura é o do seu próprio rigor, autoconhecimento de facto e busca da verdade. Tudo o que esteja e seja fora disto empurra a Tuna para a indigência cultural e, logo, para a sua insignificância social - tornando-a em nota de rodapé.


Na verdade, é o que ela é, hoje - deixemo-nos de polir o ego e de achar que somos mais do que aquilo que, na realidade, somos. 


Se a ficção e o romance sobre a Tuna nos trouxe a este estado, não seria tempo de se optar pelo Rigor e pela Verdade?



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