Na verdade, este ano foi uma espécie de sequela do anterior - com uma ou outra novidade.
Tal como em 2022, os festivais estiveram na charneira - como sempre, excepto na pandemia, por óbvio - da actividade tuneril nacional, numa liturgia de sempre e como sempre. O mais-do-mesmíssimo é, a cada ano, a fatalidade que mantêm o fenómeno tão vivo quão fechado em si mesmo - e, por isso e por outras, longe do reconhecimento externo que cada vez mais é uma miragem. Aliás, o algoritmo de algumas redes sociais da moda deveria estar alinhado pelo número de certames que ocorrem - o que teria a sua piada, vamos convir.
Nos certames, tirando pontuais excepções, continua a ser pregado e praticado o antigo testamento costumeiro, quer para o bom, quer para o mau, o que oscila entra rara sagacidade por inovação e jurados que chegam a meio de actuações de tunas a concurso, entre outros vícios e virtudes - menos estes que os primeiros... - o que reflete apenas uma coisa: A tremenda teimosia conservadora em formatos, usos e costumes tão gastos quão anacrónicos em pleno Século XXI. A tal falta de perspectiva a que aleguei, aqui, no inicio deste ano - https://asminhasaventurasnatunolandia.blogspot.com/2023/01/a-aventura-da-falta-de-perspectiva.html
A nova versão do PortugalTunas apresenta-se, neste cenário, como - e mais uma vez - lufada de ar fresco, apresentando uma clara dissensão com o mainstream, segmentando na sua actividade e conexas, de forma clara, a sua posição de vinte anos. Foi reforçada a aposta de sempre na formação - sinal claro de segmentação - além da normal actividade informativa, como se pode constatar nesta mais recente versão do portal. A par, as suas normais actividades de sempre, com reforço claro da sua equipa, jantar comemorativo em Braga, ficando a faltar o ENT em co-organização - algo que não depende do PortugalTunas - para ser um ano a 100% , mesmo que ocorra no próximo - como tudo indica.
Não foi, em suma, um ano diferenciado no que toca ao normal da vida tuneril nacional.o que por si só, atesta muito do aqui derramado ao longo de 2023 - e quanto ao abordado no Aventuras; se não abordei algo mais é por duas razões: Ou por desconhecimento (por muito que se acompanhe o fenómeno) ou, sabendo, porque simplesmente é irrelevante para o fenómeno tuneril nacional.
Nos antípodas dessa irrelevância, dois livros foram lançados este ano, "Sempre a Cantar - 30 anos da Tuna Académica da Universidade dos Açores" de Rui Fagundes Silva e Linda Luz, bem como o livro "A Estudantina Fígaro em Portugal (1878) e no Brasil (1885 e 1888), de Jean-Pierre Silva - que "teimosamente" nos deixa mais um legado de capital relevância tuneril.
Parece ser cada vez mais, a tuna portuguesa, um sub-produto cultural que, histericamente, clama por prestigio externo mas, na sua prática reiterada, promove e pratica exactamente o seu oposto, salvo raras, pontuais e conhecidas excepções. Quem de fora nos olha continua a ter uma visão tão distorcida quão por nós alimentada, dia após dia. E quando alguém do meio toca na ferida, as redes sociais da moda - uma espécie de wc opinativo - clamam por sangue na mesma hora, numa absurda dualidade que, afinal, é resultado do que o seu próprio meio quer, pratica e prega amiúde. Sobra o PortugalTunas para dar algum ar de dignidade, como sempre, e pouco(s) mais, os mesmos de sempre, a remar contra a maré cmtv-tuneril. Cada vez mais me convenço que a esmagadora maioria passa pela tuna, não é da tuna em sentido lato. E quer que assim seja, nem que para isso repita coisas sem qualquer sentido, lógica ou fundamento histórico de facto. Começo a desejar que a tuna portuguesa deixe de estar de moda - que ainda vai estando, mesmo que longe de outros tempos nesse apartado.
Continua-se a alimentar o romantismo néscio, o banal, o vulgar, o erro, a mistura com a praxe, como se fossem as Tábuas de Moisés. Vai acabar mal, mais ano menos ano. Uma espécie de refresh começa a impor-se. Os Ricardos Araújo Pereira desta vida continuam a gozar com a malta à força toda nas tv´s. E muitos poucos param para pensar porque tal continua a ocorrer.
Até por isso, 2023 não é um ano particularmente interessante, exceptuando as parcas referências positivas supra mencionadas. E a ver pelo andar da procissão, 2024 vai pelo mesmo caminho das pedrinhas da javardice, onde se prega uma moral e pratica a oposta. Por muito que se vulgarize o bas-fond tuneril, esse mesmo vai surgir sempre a clamar por respeitabilidade - um exercício impossível por natureza.
A tuna portuguesa vive hoje num paradigma errado, equivocada, fora de tempo, desajustada face à sociedade de hoje, romantizada, inadaptada, por culpa exclusivamente sua. Pior, há quem alimente isto tudo travestido de bem falante, apenas para polimento de ego, estando-se nas tintas para a Tuna em abstrato, sem qualquer linha escrita de reflexão séria, critica e historicamente fundada, adaptada aos dias de hoje.
O Aventuras continuará a ir ao essencial, mesmo que pouco haja - como houve em 2023 - de relevante para se debruçar.
É-se mais do pensar do que do papagaiar, seguramente. Ora, havendo pouco com relevância para pensar, a produção de Aventuras reflete isso mesmo. Como dito antes, se não escrevo sobre é porque 1) desconheço ou então 2) é irrelevante para o fenómeno tuneril - e não será o Aventuras a fazê-lo, aqui não há algoritmos, bonecos para enganar lorpas, exposição de quem não a tem ou outras folclóricas façanhas - ocupação em que as redes sociais da moda são bem melhor, aqui assumo o deficit com todo o gosto, sublinho.
Bom 2024 para todos.
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